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Hoje, no Expresso, um grupo de benquistas publicou uma carta aberta dirigida à direção do seu clube com o propósito, nas palavras dos próprios, de “expressar indignação” perante o facto de “André Ventura ter usado e usar o Benfica para criar uma persona política.”
O que se segue no texto corre no mesmo sentido: "Instrumentalização política do Benfica", Benfica “não pode continuar a pactuar com a evidência mediática: o Chega chegou ao parlamento porque é liderado por uma personagem que é conhecida apenas e só por causa do Benfica.”
Partilho, obviamente, a preocupação implícita no texto em relação ao discurso de ódio e ao programa xenófobo e racista do CHEGA, bem como em relação ao seu sucesso eleitoral.
Feito o ponto prévio para evitar equívocos, vamos ao que interessa: o propósito anunciado pelos autores logo nas primeiras linhas assenta numa mentira. O Benfica não é, como agora querem fazer crer, uma vítima de André Ventura.
A Cambridge Analytica e o Glavset foram determinantes na campanha do Brexit e na eleição de Trump. Em Itália e em França, o financiamento de oligarcas russos ajudou as campanhas de Salvini e Le Pen. A ascensão recente dos fascismos tem uma história que não pode ser manipulada.
Da história da chegada do primeiro partido de extrema-direita, de vocação xenófoba e racista, ao parlamento português, desde 1974, há um nome que não pode ser apagado: Sport Lisboa e Benfica. Benfica e André Ventura estiveram juntos neste caminho.
Não, não foi o Benfica que “foi usado” como trampolim para Ventura ganhar notoriedade. Não, o Benfica não é uma vítima de um ataque oportunista. O Benfica foi, ativa e conscientemente, o principal promotor de Ventura. Foi o Benfica que criou a persona e que a entregou ao CM.
Em 2014, antes de chegar à CMTV, André Ventura deu os primeiros passos rumo à notoriedade na Benfica TV.
Em 2016, André Ventura anunciou ser o promotor da recandidatura de Luís Filipe Vieira a presidente do Benfica.
Poucos dias depois, publica esta fotografia.
E, algumas semanas depois, lá estava ele ao lado de Rui Pereira e António Simões a apresentar a plataforma “Benfica para a frente, Vieira a presidente”
Eis a plataforma, a Comissão Executiva e a mensagem de boas-vindas do anfitrião:
Os mais cépticos (ou ingénuos) dirão que isto não significa nada, pois qualquer um apoiar quem quiser. Vejamos então as imagens do dia do lançamento oficial da candidatura:
Depois das eleições, a gratidão de Vieira era visível:
Em 2017, quando apresentou a sua candidatura a Loures, já depois de proferir discursos xenófobos e racistas que levaram a ser constituído arguido por “assédio étnico” e "práticas discriminatórias”, contou com o apoio de notáveis do clube:
Mas o maior apoio estava para vir. Varandas Fernandes, vice-presidente do Benfica, aceita presidir a Comissão de Honra do candidato anti-ciganos.
André Ventura foi um dos difusores da cartilha. Isto é, o gabinete de comunicação do Benfica enviava-lhe dicas para o ajudar e melhorar a sua prestação: estatísticas, informação privilegiada sobre os rivais, discurso, argumentos…
Em momento algum, o Benfica manifestou incómodo pelo discurso xenófobo e racista de André Ventura, bem conhecido por todos. Pelo contrário. É convidado para o camarote presidencial, é visita de LFV, faz sessões fotográficas no relvado para auto-promoção, …
E já depois de criar o CHEGA, foi um funcionário do diretor de comunicação do Benfica que criou o website do partido.
O que aqui vemos é apenas um resumo de momentos determinantes que conduziram à ascensão de André Ventura. Demorou 5 anos a criar. O Benfica esteve sempre, ativa e conscientemente, nessa construção. Nunca, durante estes 5 anos, os agora indignados se manifestaram.
Pelo contrário: alguns deles até desvalorizaram ou diminuíram a gravidade da cartilha e, sobretudo, assobiaram para o ar em relação às suspeitas graves que recaíram sobre o poder de LF Vieira, de que André Ventura é apenas um sub-produto.
Como é anunciado logo no início, o objetivo do texto publicado no Expresso não é condenar o CHEGA, muito menos condenar o apoio institucional e parainstitucional do Benfica ao líder do CHEGA.
O objetivo é ilibar o Benfica das responsabilidades que efectivamente tem na promoção de um partido racista. É tirar o Benfica de um filme onde está há vários anos. É extinguir um vínculo formal que existe, apenas porque ele agora se tornou incómodo e motivo de vergonha.
O objetivo é contar uma história diferente. Reescrevê-la. E é contra isso que lutarei, porque a história da ascensão dos movimentos como o CHEGA tem de ser feita com memória e sem branqueamento nem clemência.
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