Thread by @leosiqueirabr

1. Tão importante quanto falar área de pesquisa de Banerjee, Esther Duflo e Kremps sobre o combate à pobreza, é falar qual técnica eles usam para criar contrafactuais.

O Nobel veio em boa hora, pois alguns acreditam que ciências sociais não conseguem criar experimentos. Segue...

2. A primeira é o estado da arte, porém talvez a mais custosa e difícil de fazer, chamada Randomized Control Trial (RCT).

É o que a medicina geralmente faz. Você escolhe dois grupos ALEATÓRIOS e fornece o tratamento pra um e o outro oferece um placebo.

3. O tratamento na medicina é algum tipo de droga.

Em economia pode ser alguma política pública. Por exemplo, dar uniforme escolar para um grupo e ver quanto reduz o número de faltas.

A diferença entre o grupo de controle e o de tratamento seria o impacto do programa.

4. Como os grupos são muito semelhantes, a única coisa é que um recebeu o tratamento e o outro não (você precisa convencer sua audiência disso), pode se afirmar (com alguma segurança) que a única diferença é efeito do tratamento.

5. A segunda técnica é o que chamamos de Difference in Differences.

Ela se assemelha ao RCT, mas com a diferença é que você não criou este experimento. E sim pegou alguns dados já existentes.

Você compara um grupo antes e depois de algum tratamento.

6. Ele é menos custoso, porém é mais difícil você conseguir convencer sua audiência de que o que diferencia estes dois grupos é apenas o tratamento. Se você fizer isso, então tem um bom contrafactual e pode dizer que a diferença entre eles é devido ao tratamento.

7. O terceiro é chamado Regression Discontinuity Design (RDD).

Imagine que você queira ver o impacto de um algum curso superior no salário da pessoa. Você pode então pegar o último classificado do vestibular da USP e comparar com a primeira pessoa da lista de espera...

8. Pode se supor (razoavelmente) que essas duas pessoas são bem parecidos e a única diferença é que um foi para a USP e o outro não.

(Mas veja que quanto mais longe do estado da arte do RCT, fica cada vez mais difícil garantir que o contrafacutal é perfeito...)

9. Percebe-se que há alguns métodos mais elegantes do que outros. Enga-se, portanto, quem diz que é impossível criar contrafactuais.

Melhor do que dizer se dá pra criar contrafactuais ou não é ver como essas técnicas evoluíram muito nas últimas décadas!