Eu vi esse comentário de um respeitado economista e pensei:

"Esse seria um bom mote para mais um fio didático".

Vocês conhecem o debate de E.P. Thompson e Friederich Hayek???
O ano era 1963. O historiador inglês, E.P. Thompson publicava um livro chamado "The making of English working class" (traduzido no Brasil em 1987 como "A formação da classe operária inglesa"). Nele, Thompson faz uma crítica direta à Hayek e outros economistas que...
... entre 1945 a 1963, começaram a apresentar trabalhos de econometria procurando demonstrar que a Revolução Industrial foi "boa" para o povo inglês. O consumo aumentou, o padrão de vida se diversificou... Afinal, qual o problema da Revolução Industrial???
Muitos historiadores anteriores questionavam a Revolução Industrial, eram os chamados catastrofistas. Mas a partir de Hayek e outros, havia dados objetivos pra legitimar que a Revolução Industrial era algo bom. Mais calorias ingeridas, crescimento demográfico...
O que Thompson fez em seu trabalho (em especial o capítulo 1, do livro 2, "Exploração") foi pegar outras fontes da época e dizer: ok, as pessoas comiam mais, ganhavam mais, consumiam mais... Mas não estavam mais felizes! Por que?
Isso, infelizmente, nenhum economista consegue explicar. Para muitos deles, a observação empírica é a mera compilação de dados estatísticos e qualquer coisa disso já vira "anti-científico".
Por meio do estudo do folclore, Thompson destacou que o aumento no consumo levou a diferentes percepções dos trabalhadores.

Alguns lamentavam ter que passar a comer pão preto do que pão branco. Ou inserir batata na dieta para não morrer de fome.
Outros gastavam de forma desmedida e pegavam o seu salário e se fartavam de comer carne e, quando acabava o salário, tinham que ficar mendigando (em 1957, Richard Hogart constatou a persistência dessa tradição na Inglaterra).
No final das contas, desde Adam Smith, a economia sempre foi uma ciência voltada para a colonização do desejo dos pobres. Se o desejo foge dos cálculos estatísticos, vira irracionalismo no linguajar economês.
(se acham que estou exagerando, comparem o ensaio de Thompson, "A economia moral da multidão" com os capítulos em que Smith compara os saques nos mercados à caça às bruxas)
Enfim, os economistas tem todo o direito de reclamar que a realidade não se adapta aos seus esquemas. Mas ao invés de reclamarem de anti-cientificismo, poderiam ler outras ciências humanas, como a História ou a Antropologia. Talvez, com isso, eles conseguissem entender...
...os limites de seus "infalíveis" esquemas.

Dedico esse fio ao @demori , que fez a indagação mais básica de qualquer ciência. Se nossos pré-requisitos teóricos não dão conta da realidade, não precisamos mudá-los?
Qualquer coisa diferente disso. :)
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