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RELATÓRIO RIVER - PARTE 1: o modelo de jogo

Gallardo chega à sua terceira final de Libertadores com um time que tem qualidade, consciência, flexibilidade e, principalmente, intensidade.

Chegou a hora de olhar para o adversário da final.

Segue a primeira parte!
Assim como contra o Grêmio (), um primeiro olhar mostra dois times muito parecidos. Times que gostam da bola, mantém a posse, chegam rápido ao ataque e fazem estrago na frente.
Até mesmo a formação-base é parecida. O River joga num 4-4-2, mas como um dos volantes sempre se posiciona por trás da linha de meias, seria até mais correto desenhar num 4-1-3-2, mesmo sistema usado por Jorge Jesus em Portugal e raiz do 4-4-2 atual do Flamengo.
De fato, há muitas semelhanças, mas também diferenças marcantes.

A começar pela própria ocupação dos espaços. Enquanto o Flamengo se preocupa muito em proteger zonas e rotas do campo e manter a linha defensiva de 4 SEMPRE montada e bem posicionada, o River é quase o oposto.
Dizemos que o River joga no 4-1-3-2 apenas por convenção. A verdade é que o time vive de uma luta constante pela bola e se organiza a partir disso. O desenho das linhas não é o mais importante. Com isso, os laterais atuam quase sempre à frente dos zagueiros, na linha do volante.
Há quase cem anos, o inglês Herbert apresentou ao mundo o seu W-M. Três defensores, um quadrado no meio e três atacantes. Hoje chamaríamos de 3-2-2-3. O sistema ganhou o mundo e, no Brasil, foi a base que gerou o 4-2-4 campeão do mundo em 1958.
Gallardo joga no que poderíamos chamar de um M-W, ou seja, um 2-3-3-2, muito mais que um 4-4-2. A ideia principal é congestionar o meio-campo e ter superioridade numérica para ganhar a bola por ali, mas vamos falar mais sobre isso olhando o sistema defensivo mais para frente...
Além da diferença de organização no espaço, o River é um time muito mais direto que o Fla. Aposta na intensidade para recuperar a bola e sair em disparada no contra-ataque com muitos jogadores. É um time que não para muito para pensar e articular as jogadas.
O time argentino sai mais “para a trocação” e aposta na sua intensidade para passar como um rolo compressor sobre os adversários.

Arrisca mais, por isso é o time que mais perde bolas por jogo na Libertadores, enquanto o Fla é apenas o 26º de 32 equipes.
Apesar de tentar, em média, 22 passes a menos por jogo, o River erra 12 passes a mais que o Fla. Também tenta quase 38 lançamentos (15º na Libertadores) por jogo, enquanto o Fla tenta apenas 30 (29º).
O River é o segundo time que mais tenta dribles, enquanto o Fla é apenas o 7º. Mas a diferença de eficiência é gritante: o River acerta 70% dos dribles que tenta e o Fla acerta 85%. Com isso, o time argentino é o mais desarmado da competição.
Podemos olhar também para as finalizações. Quase 52% das finalizações do River são de fora da área, enquanto o Fla finaliza menos de 42% de longe.

Além disso, o Fla acerta na direção do gol 49% das suas finalizações, enquanto o River acerta apenas 35%.

A palavra de ordem é intensidade - com e sem a bola. Se Jorge Jesus varreu o futebol brasileiro com uma marcação alta e uma forte pressão na saída de bola do adversário e pressão pós-perda da bola que poucos usavam por aqui, o River praticamente dobra essa aposta.
Os millonarios correm, mordem e atormentam durante o jogo todo. Não é a toa que o River é o time que mais fez faltas por jogo e o quarto que mais sofreu na Libertadores. A bola está sempre viva, sempre em disputa.
O time parece mais à vontade nessas situações. Ganha as disputas no meio, puxa o contra-ataque, perde, pressiona, retoma, acelera, finaliza... Pressiona a saída de bola, retoma, lança, erra, ganha a segunda bola, acelera, perde de novo, aperta de novo... E assim vai.
Esse tipo de jogo frenético parece ser mais confortável para o River do que ser amassado no próprio campo, marcando perto do próprio gol e esperando o contragolpe, ou até mesmo ser obrigado a amassar um adversário encolhido e encontrar espaços no meio de uma defesa fechada.
O Flamengo, por outro lado, é mais versátil. Joga com intensidade e pressão, mas também acalma o jogo, controla o ritmo e roda a bola.

Ambos os times têm percentuais altíssimos de posse, mas como só há uma bola no futebol, alguém inevitavelmente ficará menos com ela.
Assim, muitas alternativas se abrem. É melhor entregar a bola ao adversário ou disputá-la pelo meio em intensidade máxima? Ou ainda tentar ficar com ela sem se arriscar muito?

Apenas Gallardo e Jorge Jesus podem responder.
O River é um time muito bem coordenado, com ideias cuidadosamente pensadas para maximizar o potencial de cada uma de suas peças. Os jogadores se encaixam perfeitamente na proposta de jogo, mas isso é um assunto para a próxima parte do relatório...
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