Na matéria do @guimagalhaesf na @ilustrissima , eu e os demais entrevistados focamos na inserção do Novais na historiografia brasileira, mas como o Nicolas percebeu, ela também se inseria num debate sobre o papel da colonização e da escravidão na transição para o capitalismo.
E essa foi uma das grandes inovações da obra. A interpretação novaisiana é moldada pelo grande livro de 1944 do Éric Williams, futuro primeiro-ministro de Trinidad e Tobago. Em seu estudo do auge e declínio da escravidão no Caribe inglês, Williams afirmou que o tráfico atlântico+ 
Possibilitava a acumulação de capital por parte dos negociantes britânicos e abria um imenso mercado consumidor para os manufaturados metropolitanos, sendo descartada quando se tornou irrelevante para a Revolução Industrial já em curso.
scielo.br/pdf/ea/v26n75/…
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O Novais transpôs esse modelo pro Brasil, mas quem teria se beneficiado seria a Grã-Bretanha e não Portugal, devido ao déficit comercial. É uma visão externalista da economia colonial, determinada pela Europa. Há afinidades com a teoria da dependência (FHC) e a teoria do +
sistema-mundo do Wallerstein, quase que suas contemporâneas. Ao mesmo tempo, ascendiam visões historiográficas que enfatizavam processos internos, como o debate Brenner, o famoso artigo de 1982 do O’Brien sobre a contribuição periférica da periferia e os neoinsticionalistas.
O Ciro Cardoso vai dialogar com trabalhos sobre a América Espanhola, o Caribe e a Europa para defender a prioridade analítica das dinâmicas internas, criticando Novais e Wallerstein, já entre 1975-80. Posteriormente, trabalhos de um orientando dele (Manolo Florentino) e do +
E do João Fragoso mostraram que no final do período colonial o tráfico atlântico de escravizados e o grande comércio eram controlados por comerciantes residentes no Brasil e que reinvestiam o que acumulavam em terras e escravos, não no desenvolvimento do capitalismo europeu.
Mais importante, o Novais entendeu errado o capítulo do Marx sobre “A ASSIM CHAMADA acumulação primitiva de capital”, entendendo-a exatamente como fizeram os economistas clássicos criticados por Marx, isto é, como juntar dinheiro.
O famoso capítulo 24 do Capital trata de algo muito mais importante: a disseminação das relações de produção capitalistas (expropriação dos trabalhadores e trabalhadores). Nesse sentido, o Wallerstein é mais interessante, ainda que tenha tomado belas porradas, como do Stern.
A tendência internacional dominantes nas décadas de 1980-90 me pareceu francamente contrária ao Williams e ao Novais, apesar da discussão do Blackburn em 1997, que buscou reinserir a escravidão no debate sobre a transição do capitalismo, e dos vários artigos do Dale Tomich.
Em 2000, porém, um trabalho que vai ter um imenso impacto vai enfatizar novamente, com imensa sofisticação, a importância das Américas e seus “acres fantasmas” para a transição para o capitalismo através de uma comparação com a China.
O debate continua, mas tanto na economia (vide o @nunopgpalma ) como na história (veja a segunda edição da bela síntese do Duplessis) se tem reconhecido a importância do comércio intercontinental e da escravidão, tentando integrar perspectivas internalistas e externalistas.
Respondi, @nicolaslippolis ? Algum dia eu escrevo um artigo de síntese sobre isso, falta tempo!
