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Um fio sobre como lidar com orientadores. Os ruins divido em: Gasparzinhos; ultrapassados; narcisistas; gerentes de laboratório; assediadores; e perfeccionistas. Claro que eles podem ser mais de um ao mesmo tempo. Mas antes, observações bem importantes. (1/n)
Depois de ver como acontece fora do Brasil, eu passei a acreditar que seria ótimo tornar mais comum, no Brasil, algo que existe lá fora: o papel de mentor. Hoje, colocamos no orientador (uso masculino mas me refiro a orientador de qualquer gênero) os dois papéis. Ou seja, (2/n)
No Brasil, é comum que um orientador faça orientação E seja mentor ao mesmo tempo. Mas são duas habilidades diferentes! Um mentor é quem nos ajuda a nos planejar no longo prazo e a pesar custos e benefícios de cada decisão de estudos ou carreiras. O orientador não! (3/n)
O papel do orientador é simplesmente auxiliar no processo de construção de pesquisa acadêmica. Só isso. Nada mais. Às vezes, um bom orientador é tb um bom mentor. Muitas vezes não! Um bom mentor, mesmo acadêmico, pode não conhecer nosso tema ou ser bom pesquisador. (4/n)
E um bom orientador pode não ser um bom mentor (ou simplesmente não querer fazer isso – imaginem um orientador que tem 10 orientandos; não é todo mundo que vai querer saber da vida de cada um deles). E olha que pra isso nem preciso entrar na questão da projeção. Ou seja, (5/n)
Entrar na relação pessoal entre orientador e orientando no qual o orientador acaba tendo papel de mãe ou pai. Procure ter um mentor, que nem precisa ser acadêmico! É seu mentor que vai discutir contigo seu futuro, se vc deve aplicar pra universidade X ou Y etc. (6/n)
Mentor não é coach. Não rola dinheiro. Fora do Brasil é parte do trabalho de professor ser mentor de alunos de pós. Vc é mentor de uns e orientador de outros. Às vezes há intersecção. Nem sempre. Mentoria pode ser pra vida inteira (oxalá, vc termina a tese algum dia!) (7/n)
Se vc tiver um mentor, tb pode ser que elx vá lhe auxiliar no processo de aprendizado acadêmico (como encontrar um problema de pesquisa, qual a diferença entre monografia, dissertação e tese, que matérias vc deve pegar na grade etc). Vc vai poder lidar melhor com orientador (8/n)
Um dos grandes problemas na orientação é equilibrar validação com autonomia. Ou seja, um bom orientador valida cada etapa do processo de pesquisa mas não precisa validar cada página escrita. O alunx, maduro, vai pegar as dicas do orientador e seguir seu trabalho. (9/n)
NÃO é papel do orientador fazer pesquisa bibliográfica para o aluno, entregar a hipótese de pesquisa pronta, ficar checando cada equação ou estimação, te dar feedback o tempo inteiro e ficar te cobrando prazo, etc. Mas tb NÃO é papel do orientador: (10/n)
Forçar vc a fazer pesquisa na área que ele quer, implicar com seu estilo de escrita, e reclamar que vc não faz exatamente o que ele “manda”. Claro que vc deve procurar um orientador na sua subárea do conhecimento, mas às vezes isso não é possível. Dito isso: (11/n)
O ideal é uma relação profissional. Mas isso não é a norma. Infelizmente a maior parte das relações entre orientadores e orientados é disfuncional. Não tenho resposta pra tudo, mas pelo menos posso tentar esclarecer o que se fazer em alguns casos. (12/n)
Orientador Gasparzinho: vc não consegue marcar reunião, ele não responde email ou não te dá feedback. Esse caso é bastante comum. Como lidar com isso? Buscar ajuda específica com outros professores, continuar entregando os capítulos no prazo e registrar tudo. (13/n)
Na verdade orientador omisso não é tão problemático assim. Antes alguém que te dê liberdade que alguém que te atrapalhe. O q vc não deve fazer é entregar o trabalho completo no final. Nada disso. Entregue o capítulo 1 e registre (via email, por exemplo). Sem feedback? (14/n)
Bola pra frente. Entregue o segundo capítulo e registre. Com feedback de outros professores, quando o trabalho tiver pronto, o Gasparzinho não vai poder te impedir de ir à banca. Vc tem como se proteger. E vc pode até forçar a defesa, mas normalmente nem vai precisar. (15/n)
Mais complicado é o orientador ultrapassado. Aquele que não faz mais pesquisa ou não está atualizado. Se vc deixar, vai te atrapalhar pq vai insistir q vc use métodos ruins, responda a perguntas triviais ou amplas demais e cite trabalhos velhos. Vc tem que resistir! Como? (16/n)
De novo, vai precisar buscar feedback com outros professores (inclusive fora do programa). Ou então, leia working papers e trabalhos de 2020 da sua área. Se for o caso, replica e estenda para o contexto brasileiro trabalhos recentes. Não cite Foucault ou Keynes. (17/n)
Pior é o orientador narcisista (não somos todos?). Ele vai querer que vc trabalhe somente na área dele, siga a ideologia dele e não cite seus “inimigos”. Não tenha ídolos. Não seja parte de tribo. Vc é cientista. Mas fazer uma tese com esse tipo é difícil. (18/n)
E realmente frustrante é o narcisista ultrapassado. Hj rejeitei artigo de um deles. O cara escreve com toda autoridade sobre o mercado de crédito brasileiro citando Keynes e teóricos da década de 60. Não é artigo de história econômica. Tá cheio desse tipo no Brasil. Argh! (19/n)
Não tenho maiores dicas de como lidar com egocêntricos e narcisistas que querem q vc seja uma extensão deles. Nesse caso, o mais importante é o diagnóstico, ou seja, saber q vc tá entrando numa furada. Mude de orientador ou entregue quase tudo pronto. (20/n)
O gerente de laboratório lhe trata como assistente de pesquisa. Dá ordens e espere q vc as siga. Isso até é agradável para alguns. Afinal, vc não precisa pensar. Basta fazer tudo que o orientador mandar. Mas tem uma armadilha: ele vai esperar q vc saiba executar. Pior! (21/n)
Não vai ter paciência de te explicar o q ele quer (vc vai ter que aprender a ler mentes), vai te culpar se os resultados não forem o que ele espera e pode chegar a gritar contigo pq vc não entregou os resultados (DELE!) no prazo que ele quer. Ele pode ser um ditador. (22/n)
O perfeccionista é uma variante do gerente. Não quer necessariamente q vc faça o q ele quer, mas NADA q vc faça vai estar bom o suficiente. Sempre vai ter um teste a mais de robustez a fazer, uma referência a citar, um livro a ler. Vc nunca vai conseguir acabar o trabalho. (23/n)
Infelizmente, vc vai ter que forçar para defender seu trabalho e vai ter que (mais uma vez) perguntar para colegas ou outros professores se o trabalho atende os requisitos. Tem um lado bom: seu trabalho vai ser muito melhor do que a média. Se vc conseguir defender. (24/n)
Por último, o pior tipo. O sexista, homofóbico ou assediador. Abaixo um comentário que recebi. Infelizmente, não sei o que dizer a não ser pra vc trocar de orientador, já que algumas coisas são crime, outras falhas éticas, e muitas falhas morais. Denunciar? (25/n)
Se possível, sim. A rádio corredor tb funciona. Não é espalhar boato, mas avisar colegas acaba espalhando que aquele orientador não é confiável. Não passe pano pra canalha se vc puder passar a informação adiante sem se prejudicar. (26/n)
Desconsiderando casos de polícia, a grande lição é que o processo de aprendizado só tem um dono: você. No fundo, vc vai precisar de autonomia para poder gerenciar o processo sem que o orientador atrapalhe. E pode ser q vc tenha um excelente orientador. (27/n)
E às vezes um orientador aprende! Me chamaram a atenção pq um aluno estava reclamando que eu tinha sumido. Fiquei mais proativo no processo. O aluno precisava de um pouco mais de atenção no início e deslanchou! Orientadores tb são gente (eu acho). De qqer forma: (28/n)
Sucesso! O Brasil precisa de pesquisadores. E mesmo que vc esteja fazendo uma monografia e não vá virar um, tente usar o tempo para aprender um pouco a fazer pesquisa. Vai que lá na frente vc decide vir pra academia? Habilidades, quanto mais melhor. Bom trabalho. Fin.
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