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Então vc está começando a tese de mestrado ou doutorado e está perdidx? Um fio para tentar deixar mais claro o processo. Divido o fio em: 1) como definir a pergunta de pesquisa; 2) método; (3) como se relacionar com orientador; (4) como manter sua saúde mental. (1/n)
No fio de hoje fico só na pergunta de pesquisa pq ele ficou longo. Amanhã ou depois completo! Vcs vão ver que tentei ser bem detalhista. Então, vamos à pergunta de pesquisa. (2/n)
A pergunta de pesquisa é a parte mais difícil. Afinal, é a SUA contribuição, seja no mestrado (mais simples) ou doutorado. Qd começamos, nossa tendência é fazê-la geral demais. O nome da minha dissertação foi: Processo de Desenvolvimento no Sudeste Asiático. Loucura! (3/n)
Coisa de maluco. Países da região não se desenvolvem da mesma maneira. Há dezenas de políticas locais distintas. No máximo dava pra falar de um modelo comum de orientação pra exportação com abertura de capitais. Ainda assim, loucura. Então, como fazer? (4/n)
Primeiro, pra 95-99% dos orientandos, as teses serão empíricas com afirmações causais. X causa Y? Desvalorização cambial gera crescimento? Quando um grupo de cidadão influencia política? Quais os determinantes do Alzhaimer? E a relação entre necropolíticas e adoecimento? (5/n)
Eu coloquei em forma de pergunta mas não precisa ser. Uma tese com título “Fascismo de gênero: controle, opressão e exclusão de mulheres” não vai falar sobre TODO tipo possível de fascismo de gênero. Por isso, a primeira decisão é qual a pergunta principal. Ou seja, (6/n)
O que realmente vc está querendo? Pense em X (causas múltiplas) e Y (consequência visível). Se vc pensar assim tudo fica mais fácil. Gestão de riscos de inovação e sobrevivência empresarial? Blz. Tem empresas que fazem mais ou menos gestão de risco. Elas sobrevivem mais? (7/n)
Mas tem uma armadilha. Há uma tendência FORTE de usarmos a ideologia para informar as perguntas de pesquisa (mais forte em ciências sociais, mas que TB existe em ciências naturais, de várias formas). Vc acha que já sabe o que vai encontrar. Exemplo: (8/n)
Se vc escolheu estudar fascismo de gênero, já vai achar que sabe o que aumenta sua incidência. É maior em áreas rurais, ou então é maior em áreas evangélicas. E aí ferrou. Vc tem seu martelo e agora tudo é prego. Não é assim! Vc deve ser MAIS cético com o que acredita (9/n)
Esse é o grande dilema moderno. Vc é o maior crítico da sua pergunta de pesquisa. Antes de todo mundo! Se vc acha que fascismo de gênero é maior na área X, sua OBRIGAÇÃO é escarafunchar evidências de que isso acontece, mas ceticamente! (10/n)
Vc tem que partir do pressuposto que suas conviccões estão ERRADAS. Mesmo que vc ache que sabe a resposta. No mundo ideal, vc escolheria perguntas que realmente não saberia a resposta. Mas vamos ser honestos, a maioria de nós quer confirmar nossas crenças. Ou seja, (11/n)
É por isso que alguém mais sensível à diversidade é que normalmente vai pesquisar e escrever sobre fascismo de gênero. É por isso que são desbravadoras as mulheres que começaram a debater isso em economia. Tudo bem! Desde que com método sólido! (12/n)
Mas o mais importante é que sua pergunta de pesquisa seja bem específica. Nada de querer abraçar o mundo, mesmo no doutorado. Escreva um livro com sua teoria geral do mundo todo depois do doutorado. Antes disso, deixe claro que vai ser BEM específico (13/n)
Pelo menos no doutorado eu ajustei: 1o ensaio: teste do modelo de Abreu-Pearce-Stachetti tb pro mercado de cimento; 2o ensaio: relação entre taxas de retorno econômicas e contábeis. Pronto. Coisas bem tangíveis e diretas e mensuráveis. (14/n)
Onde achar sua pergunta de pesquisa? Ela pode vir da orientadora ou da sua vontade. Eu SEMPRE prefiro orientar projetos cujas perguntas venham dos alunos, mesmo que seja fora da minha especialidade. Mas não é todo orientador. Se vier do orientador: (15/n)
Saiba que corre o risco de vc virar um assistente de pesquisa de luxo (ainda mais no mestrado). Mas no doutorado, NÃO PODE SER ASSIM. Vc está virando um pesquisador independente. Mesmo que a pergunta original venha da orientadora, vc TEM que torná-la sua. (16/n)
E essa é uma grande barreira. No Brasil, não gostamos de autonomia e não temos accountability (escrevi sobre isso aqui: rzeidan.com/2019/01/19/nao…. Mas desculpa, a pergunta de pesquisa é sua. Sua orientadora não é sua babá. E sua dissertação não pode ser só descritiva! Método!(17/n)
Quer uma dica? Replique e estenda! Pegue um artigo recém publicado (RECÉM! De 2017 pra frente) e replique (ajustando) para o contexto brasileiro. Se puder, estenda um pouco. Pronto. Dissertação de mestrado. Sem ser só descritiva! No doutorado, vc tem que ir além. Mas! (18/n)
Replicando vc começa a entender como se faz pesquisa. No mestrado, a replicação e ajuste ensinam bastante. Hj tem MUITO artigo cujos autores publicam os dados e os códigos. Mesmo em humanidades, dá pra replicar – se alguém falou da história A na Índia, e no Brasil? (19/n)
Como pegar outros problemas de pesquisa? Vá no Google Scholar, coloque um tema que vc goste e clique na opção de artigos de 2015 pra frente. Pegue aqueles de BONS periódicos (cuidado com predatory journals – pagou publicou). Pronto! Muita coisa útil. (20/n)
Claro que vc não vai fazer uma dissertação só com fontes de 2015 pra frente. Essa dica é para encontrar perguntas de pesquisa que as pessoas estão fazendo na sua área, sobre algum tema. Raramente vc vai ser o desbravador, começando uma área sozinha. Então, (21/n)
Fico por aqui hj. Vc é o dono da sua pergunta, ela tem que ser específica, é normalmente causal, e vc tem que ser mais cético que qqer um sobre ela. Obviamente, sem método não tem como responder. Trato disso no próximo fio. Fin.
PS: estou SEMPRE à disposição. Podem me escrever (DMs SEMPRE abertas) aqui mesmo ou por email rz25 at nyu.edu. Não posso garantir que vou ajudar, mas garanto tentar. Estamos todos no mesmo barco e o Brasil precisa de mais e melhores pesquisadores.
Enchendo mais o saco da @_pinheira @tatiroque @winniebueno e @goescarlos.
PS2: monografia de graduação pode ser mais descritiva. Ainda assim, se puder replicar para nossa ou outras realidades estudos daqui ou de fora, muito melhor! Vale pra qqer área da ciência.
PS3: ótimo é inimigo do bom. Acho uma boa pergunta de pesquisa. Você não vai resolver o mundo nessa dissertação ou tese. Elas são só o começo!
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