A questão da ideologia e da cultura do individualismo é muito séria e tá com alguma profundidade na esquerda. EU TOU FELIZ COM SUA VITÓRIA, ENTENDO SUA OPINIÃO, MAS. e a questão coletiva? Como tá seu povo, as gente, sua família? O que pensa sua organização, território, povo? Fio+
Há muita treta no LeftTwitter (tipo blacktTwitter?). Muitas delas pelo valor que damos à opinião individual de uma estrela da esquerda nas redes. É muito estranho que exista gente muito conhecida cuja voz é individual. Desde quando serve à esquerda esse intelectual sem gente?+
Qts pessoas comandou Lenin, Fidel, Che, Mao? Qts companheiros tinha Rosa ou Ramona? Entendem? As falas destas pessoas não podem ser apenas por sua própria luz, mas pela história e relação de força que tinham no tempo. Assata e Ângela não possuíam uma organização? +
O individualismo tá chegando tão forte agora na esquerda que há influencer que vai acabar criando sua organização e pautando a política de movimentos por ter mais "seguidores" que uma organização social do povo. Isto é a completa inversão e é trapaceiro em termos de democracia. +
Os anarquistas sabem os erros de uma voz individual ou de uma liderança personalista. A morte dos opositores mora ao lado nesta história. Acaso a morte de reputações não está ocorrendo também ali e acolá nas discussões com esta gente que influencia à esquerda pela rede? +
Os zapatistas não usam uma passamontañas porque sentem frio. Estão negando a voz individual, o reconhecimento do indivíduo como chave pra luta revolucionária que fazem. Inclusive eles mataram a identidade do SCI Marcos e fez nascer Galeano. Se insurgiram contra este erro. +
Foram além, saíram de um porta-voz mestiço para um indígena, quando foram ao congresso mexicano, colocaram uma mulher para falar numa casa cheia de políticos homens. A voz não é algo que devemos submeter à nossa vontade individualista, mas ao movimento. +
Então, quando a treta começar com o tal influencer, devemos perguntar o que pensa a organização que ele faz parte. Tudo ficará melhor. A organização fala menos porque por menos democrática que seja, não pode tegarelar como fazer os influenceres. Brigaremos menos. +
Quando estiverem vomitando vitórias individuais como se fossem algo para esfregar em nossa gente pobre e sofrida, temos quer perguntar como está sua gente, sua família, seu território, seu povo. Se vai bem, menos mal. Mas se segue em dor enquanto já ostentamos, pera lá. +
Enquanto indivíduos, há briga todos os dias entre trotskistas e stalinistas, entre anarquistas e socialista, etc. Mas as organizações estão produzindo textos umas contra as outras? Então no twitter se machucando, chamando de 5ª coluna? Se estão, muito menos do que as pessoas. +
Então hoje temos cigano, socialista, índia, quilombola de iPhone, e ok. Entendo a crítica à direita. Mas no aspecto coletivo é que importa para nossa tradição de luta. Então queremos assentamentos com painéis solares, quilombos com cisternas de água da chuva, escolas, etc. +
A soberania de nossos povos, organizações e territórios importa mais. É isto que temos que carregar a frente. E penso que é um momento político bom para colocarmos nossas individualidades de forma mais discreta. Sério, gente, sofreremos menos. Há muita dor nas redes sociais. +
Ali, aqui, há gente adoecida e adoecendo com as falsidades, as promessas ilusórias e a dificuldade de organização e luta para sair desta dor. Se nossa ação individual construir estas pontes e conexões com a luta para que muito mais gente se congregue, ok. Do contrário, cuidado. +
Por fim é simples: o culpa não é nossa. O individualismo é a experiência liberal. Só que queremos emancipar-nos disto. Avançar significa também uma outra individualidade que forme a coletividade que almejamos, que por sua vez nos ampara individualmente. Temos que entender isso. +
Nossa luta é por outra individualidade, não esta que disputa, engana, machuca para poder encontrar seu lugar ao sol. Que sejamos cada um farol para guiar as pessoas aos nossos territórios, organizações e povos. Não sejamos barreiras para as lutas alheias. Congreguemos mais.
