Thread by @taiguara_sousa

1) A MENTIRA COMO DOENÇA DA POLÍTICA – Continuo minhas reflexões sobre as lições do Capítulo III do Gênese para a Política.

Imagem: Eugene Delacroix, "Adam and Eve" (1840).

2) Os versículos 6 e 7 relatam: “A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente..."

3) "...Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si."

4) A consideração racional de Eva, fundada na mentira da Serpente, engana-se sobre o bem a buscar e deseja “ser como Deus”, determinar o que é o Bem e o que é o Mal.
Eva já peca, na razão, ao consentir desobedecer à Lei de Deus e, depois, ao decidir praticar o ato.

5) Percebam como ela mente p/ si mesma sobre o “bem” aparente: é um fruto agradável, bonito, que abre a inteligência... Há toda uma justificação da legitimidade ao ato – uma Lei estava sendo quebrada, necessário garantir a legitimidade da quebra por uma “lei”, que a superasse.

6) Isso é APRESENTADO a Adão, que come do fruto. Não é errado imaginar que houve um diálogo, uma justificação intelectual, que também convence Adão a mentir para si mesmo.

7) Então, da mentira, surge a primeira barreira social: a desconfiança, a vergonha do outro. As tangas de folhas de figueira, com as quais o homem se cobre, marcam o momento em que o outro, aquele com quem eu me relaciono, não é mais digno de confiança.

8) O raciocínio dos Primeiros Pais passa a ser o seguinte: "se eu minto para mim mesmo, minto para o outro e o outro também mente para mim". Agora precisam cobrir-se, ocultar quem realmente são.

9) A sociedade da desconfiança se instaura e todo o rumo político posterior do homem é uma tentativa de restabelecer a veracidade: os costumes, as leis, os contratos... Tudo pretende restaurar uma confiabilidade, uma segurança perdida, pois a mentira adoeceu a relação com o outro

10) Logo, a política que não se pauta pela Verdade, mas por estratagemas de enganação para submeter o outro, como propunha Maquiavel, é uma política doentia.
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