Thread by @rmotta2

A melhor maneira de começar a explicar a tragédia da segurança pública do Brasil é falar pelos que não tem voz, como Marilia Sampaio de Andrade, de 32 anos, mãe de um menino de 5 anos.

Marília trabalhava como recepcionista no prédio onde um de meus amigos tem um consultório, na Bahia. Marilia foi violentada e assassinada enquanto esperava o ônibus. Seu corpo foi encontrado abandonado em uma estrada de Salvador, no dia 4 de outubro de 2017.

Quem matou Marília?

É preciso falar de Giovana Victoria Ribeiro da Silva, de 7 anos, que morreu com um tiro nas costas durante um assalto à lanchonete de sua mãe em Jacareí, um bairro pobre de São Paulo. O assassino de Giovana tinha 17 anos. É “de menor”.

Para entender o que isso significa, vamos lembrar de outro caso terrível: João Hélio, o menino que foi arrastado pelo asfalto do Rio de Janeiro até morrer. Um dos autores desse crime também era “de menor”.

O que aconteceu com ele?

O assassino ficou internado 3 anos para "cumprimento de medidas socioeducativas", e depois foi premiado com mudança para local ignorado, com toda a família, paga por uma ONG. Algumas matérias na imprensa sugeriram que o assassino e sua família podem ter ido para a Suíça.

Alexandre Bueno, de 51 anos, foi assassinado no dia 14 de fevereiro de 2016, um domingo, quando defendia sua mulher e as três filhas de assaltantes que invadiram sua casa. Alexandre foi morto na frente de sua família.

Lucas Terra, de 14 anos, foi amarrado, torturado e violentado. Depois foi colocado dentro de uma caixa e queimado vivo em março de 2001. Menos de 10 anos depois seu assassino recebeu o benefício do regime aberto.

Está livre, andando pelas ruas como você e eu.

Suzane Richthofen, a menina rica que mandou matar os pais a pauladas e recebeu 39 anos de prisão, teve autorização da justiça para sair no dia dos pais e no dia das mães . E depois de cumprir apenas 13 dos 39 anos de sua pena, foi para regime semiaberto: apenas dorme na cadeia.

Que país é esse? É o país onde um médico, o Dr. Jaime Gold, teve a barriga aberta de alto a baixo com uma faca, por um criminoso, sangrando até a morte, quando andava de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas, em 2015.

Seus assassinos eram “de menor”.

Um deles já tinha sido preso – ou melhor, “apreendido” - 15 vezes. O que aconteceu com os assassinos? Você já sabe: eles foram internados para "cumprir medidas socioeducativas".

A seguir, deputados estaduais aprovaram uma lei que proíbe porte de facas.

Mas isso você não sabe:

Dois anos depois um dos assassinos do Dr. Jaime foi preso assaltando um supermercado.

Maria Claudia Del'Isola, de 19 anos, foi estuprada, morta a golpes de pá e enterrada na sala de sua casa, em Brasília, em 2004, pelo caseiro Bernardino e Adriana, sua esposa.

Os pais procuravam pela filha desaparecida sem saber que seu corpo estava ali, a poucos metros deles.

O casal foi condenado por homicídio triplamente qualificado, estupro, atentado ao pudor, ocultação de cadáver e furto. Eles receberam 65 anos e 58 anos de prisão, penas que foram reduzidas.

Vejam que nessa foto a assassina sorri.

O assassino foi para o regime aberto em 2016.

O capitão PM Anderson Galvão foi assassinado com cinco tiros quando cortava o cabelo numa barbearia em Jacarepaguá em 23 de abril de 2019, pelo simples fato de ser policial.

Eu fui ao enterro do capitão no cemitério de Sulacap.

Não encontrei lá nenhum sociólogo ou dono de ONG.

Não se pode falar de segurança pública sem falar das vítimas. Mas, no Brasil, isso é assunto proibido.

Para o criminoso, o sistema de justiça criminal dá todos os direitos e garantias.

Para a vítima sobra uma cova rasa e o esquecimento