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Que país é esse? É o país das ideias erradas, como a ideia de que as causas do crime são a pobreza e a "desigualdade". Mas o crime, na verdade, é resultado de uma escolha feita pelo criminoso.

No dia 6 de fevereiro de 2018 criminosos do Rio de Janeiro fizeram uma escolha.
Eles decidiram roubar o carro onde estavam Uesley Lima, sua esposa Maria Auxiliadora Marriel e a filha deles, Emily Sofia, de 3 anos. O crime ocorreu às 2:30 da manhã, em Anchieta, na Zona Norte do Rio. Não se sabe exatamente o que aconteceu.
O que se sabe é que os bandidos decidiram fuzilar a família. Uesley foi atingido nas costas, Maria ferida de raspão e Emily Sofia morta com um tiro de fuzil. É óbvio que esse ato nada tem a ver com desigualdade. Ele tem a ver com a decisão dos criminosos de executar uma família
Pode-se argumentar que, de uma forma geral, as regiões mais pobres têm maiores índices de criminalidade. Se pobreza não causa o crime, como se explica isso?

É fácil.
Quando você tem gripe, você fica com febre e tosse. Mas a tosse não causa a febre, nem a febre causa a tosse. Ambas são sintomas da gripe.

Da mesma forma, quando as instituições de um país vão mal, ele sofre de pobreza e de taxas mais elevadas de crime.
Pobreza não causa crime. Tanto a pobreza quanto o crime são sintomas de um mesmo mal: a fraqueza e a corrupção das instituições.

Mas prestem muita atenção: a fraqueza das instituições não causa o crime; ela apenas facilita a vida dos criminosos.

O que acontece é muito simples.
Quando as instituições são ruins, as pessoas que querem praticar crimes recebem incentivo extra e perdem o medo das consequências. Mas a decisão de cometer o crime é sempre do indivíduo. As mesmas instituições ruins prejudicam milhões de pessoas que nunca cometeram crime algum.
Vejamos o que diz o psicólogo americano Stanton Samenow sobre comportamento de criminosos:

“O que continua a me impressionar depois de todos esses anos não são as circunstâncias e os riscos que as pessoas encontram, mas como elas escolhem lidar com as cartas que a vida lhes dá"
"Conversei com muitos criminosos que cresceram na pobreza e em famílias caóticas, vivendo em bairros onde armas e drogas eram fáceis de encontrar. Eles e suas famílias certamente tiveram que enfrentar obstáculos que os cidadãos mais privilegiados nunca enfrentaram", diz Stanton.
Prestem atenção no que diz Stanton Samenow: "Em quase todos os casos, esses indivíduos (os criminosos) tinham um irmão que encarou os mesmos riscos e desafios e viveu no mesmo ambiente, mas que não escolheu seguir o caminho do crime".
Na verdade, completa Stanton, "observar o pai ou um irmão destruir a sua vida participando de atividades criminosas inspirou muita gente a abraçar oportunidades de viver com responsabilidade”.

Crime é escolha.
A correlação entre a pobreza de algumas áreas e seu nível de criminalidade não é uma relação de causa e efeito. Ela é, como próprio nome diz, uma correlação. A pobreza de uma região e seu nível de crime estão correlacionadas porque são têm a mesma causa: a falha das instituições.
O que são instituições? São as regras que regem a vida em sociedade: a constituição, as leis, as posturas urbanas, a moral e a cultura, incluindo os hábitos e costumes da população.
As áreas pobres ao redor do mundo têm as mesmas características: desrespeito à lei, descumprimento de posturas urbanas básicas e hábitos e costumes – muitas vezes ditados por um poder criminoso dominante – que violam direitos e degradam a qualidade de vida e o meio ambiente.
Essa correlação entre criminalidade e pobreza não se verifica no nível do indivíduo. Isso é óbvio.

A pobreza não transforma essa ou aquela pessoa em um criminoso. Basta uma visita a qualquer favela para constatar que a maioria dos moradores é formada por pessoas honestas.
Não é a pobreza que gera mais crime. É a falha ou inexistência de instituições – o desrespeito às leis, a ausência de policiamento e de um sistema de justiça criminal efetivo - que incentiva o indivíduo decidido a cometer crimes a faze-lo com mais frequência e com mais violência
Stanton Samenow explica isso de forma bem clara:

"A mentalidade do executivo que desvia dinheiro é a mesma do assaltante à mão armada. Nenhum deles está desesperado por dinheiro".
"O assaltante tira dinheiro das pessoas usando a força. O executivo faz isso usando esquemas sofisticados e fraudes. Tanto um quanto o outro sabe a diferença entre o certo e o errado, mas eliminam essas considerações dos seus pensamentos", diz Samenow.
Samenow conclui: "Tanto o assaltante quanto o executivo se esforçam para não serem descobertos, e se orgulham de conseguir cometer crimes impunemente. E nenhum dos dois se importa com o impacto do seu comportamento sobre as outras pessoas".

Crime é escolha.
Se a pobreza fosse a causa do crime, seria impossível um país ficar mais rico e mais violento ao mesmo tempo, certo? Mas foi exatamente isso que ocorreu no Brasil.

Vamos ver os números:
Em 1980 nosso pib per capita era de 2.000 dólares e tivemos uma taxa de 11.7 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2011 o pib per capita dobrou (em termos reais). Ficamos 2 vezes mais ricos. Nesse ano a taxa de homicídios chegou a 27 por 100 mil habitantes. Ela triplicou!
E a "desigualdade"? Em 2003 o índice Gini, que mede a distribuição de renda, era de 0,581 no Brasil. Nesse ano o país teve 40.000 homicídios. Em 2015 o índice havia melhorado e caído para 0,491 – uma redução de 15%. Nesse ano o país teve 58.000 assassinatos – um aumento de 45%.
Vamos comparar nossa taxa de homicídios com alguns países da américa latina. Apenas a Venezuela tem taxas maiores. Até o México tem taxa menor que a nossa.

Vejam a taxa de homicídios da Índia, onde há pobreza, desigualdade e conflito étnico: Ela é 10 VEZES MENOR que a do Brasil.
O economista Gary Becker ganhou o prêmio Nobel de economia de 1992 mostrando que o criminoso pesa os benefícios e os custos de seu ato antes de cometer um crime.

No Brasil os benefícios que um criminoso obtém com o crime são altos e os custos - e os riscos - são muito baixos.
Cometer um crime é uma escolha do indivíduo.

A precariedade do policiamento e a ausência de um sistema de justiça criminal efetivo facilitam essa decisão.

Mas cometer um crime é, sempre, uma escolha.
Para saber mais: meu livro Jogando Para Ganhar: Teoria e Prática da Guerra Política tem os números e os fatos sobre criminalidade no Brasil, e o caminho para ganharmos essa guerra:

amzn.to/2uenOJE
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