O ministro da educação voltou a fazer comparações entre “ciências humanas” e áreas médicas. Ele afirma que “a esquerda” priorizou “faculdade de antropologia ou filosofia” e que por isso faltará médicos e enfermeiros agora. Será que a tese dele procede? Segue o fio para saber. 
Se utilizarmos o número de cursos totais ofertados no Brasil não encontramos a priorização advogada pelo ministro. Pelo contrário. Veja a tabela que compara 2002 com 2018. Lembrando que a rede privada é hegemônica no ensino superior no Brasil (tem 75% das matrículas).
O crescimento dos cursos de medicina e enfermagem nas últimas décadas é bem maior que o de “antropologia ou filosofia”. O número de profissionais médicos e enfermeiros também cresce bastante. Veja nesse trabalho com dados até 2010. +(scielosp.org/article/csp/20…)
Há uma informação importante. Em função da Portaria 328, assinada pelo ministro Mendonça Filho e Michel Temer em 2018, ficou vedada a criação de novos cursos de Medicina e a ampliação de vagas já existentes no Brasil. A medida foi tomada muito por pressão das entidades médicas. +
O argumento era de que o Brasil teria médicos suficientes (2,1 médicos por mil habitantes), mesmo que a média mundial seja de 3,4. Esse discurso foi frequentemente usado também quando do debate sobre o Mais Médicos. Hoje o governo quer cubanos de volta ao programa pela crise.+
Sobre o número de hospitais, dados recentes (setorsaude.com.br/dicas/cenario-…) mostram que entre 2010 e 2019 os hospitais públicos cresceram 17%, foram 355 novas unidades. Para um país como o Brasil ainda é pouco, ainda mais em uma pandemia, mas o dado desmente o sugerido pelo ministro. +
Sobre o papo de “esquerda”, “Paulo Freire” acho que não preciso dizer que se trata de confusão deliberada, provavelmente sua intenção é afagar sua bolha ideológica. Seria chover no molhado fazer uma análise mais detalhada dessas insinuações políticas sem pé nem cabeça. Fim.
Olhei nesse fio apenas para os cursos citados pelo ministro como aqueles que teriam sido priorizado, mas se falarmos em relação a área de conhecimento, "saúde e bem-estar" foi a das que mais expandiu vagas e tem ingressantes e concluintes acima da média da OCDE.
Quando olhamos para o número de matrículas por áreas do conhecimento, notamos que as humanidades e as ciências sociais (que o ministro argumenta que teriam sido prioridade) estão abaixo da média da OCDE no BR. Diferente da área da saúde e bem estar e de engenharias, por exemplo.
Aqui está o link para o artigo ampliado desse fio, material melhor acabado para compartilhar em outras redes. link.medium.com/Afl8MZPU54
