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NO AR. Cinco fatos para entender como é monitorado o desmatamento na Amazônia. aosfatos.org/noticias/cinco…
A crise entre o governo Bolsonaro e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que culminou na exoneração do diretor do órgão, trouxe o monitoramento da devastação na floresta amazônica para o centro do debate nacional nos últimos dias.
Mas como é feito esse controle do desmatamento na Amazônia e por quem? Quais são as suas vantagens e falhas? De que forma os dados devem ser lidos e comparados? Compilamos cinco fatos que ajudam a entender essas e outras questões sobre o monitoramento da floresta.
1. Há dois principais sistemas de monitoramento da Amazônia pelo governo brasileiro, o Deter (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real), de 2004, e o Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), de 1988. Cada um tem seus próprios métodos e objetivos.
O Deter usa imagens do satélite sino-brasileiro CBERS-4 e do indiano IRS para indicar à fiscalização do Ibama possíveis focos de desmatamento. Além de detectar o corte raso, (quando não há mais vegetação na área), o sistema identifica estágios iniciais de degradação da floresta.
O sistema tem algumas limitações: não funciona bem nos períodos em que há nuvens encobrindo a floresta e usa imagens com resolução relativamente baixas, que fazem com que ele tenda a subestimar o total desmatado.
A implantação do Deter coincidiu com uma rápida diminuição do desmatamento da Amazônia. A área desmatada caiu de 27.772 km² em 2004 para 4.571 km² em 2012 (redução de 83%), menor número registrado desde 1988, quando começaram as medições do Prodes.
Já o Prodes tem como objetivo medir anualmente, e com a maior precisão possível, qual área da Amazônia foi completamente devastada. É ele que calcula as estatísticas oficiais do governo sobre desmatamento.
O sistema usa dados dos satélites Landsat (da Nasa), CBERS-4 e IRS-2, e analisa imagens com maior resolução do que as geradas pelo Deter. Por isso, ele também é melhor na detecção dos desmatamentos — segundo o Inpe, o sistema tem precisão de 95%.
Assim como o Deter, o Prodes detecta áreas a partir de um hectare, mas só torna públicos os dados de áreas superiores a 6,25 hectares. As medições são feitas anualmente e divulgadas no segundo semestre.
Há ainda o SipamSar (Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento). Ele usa imagens de satélites com Radar de Abertura Sintética, que não sofrem influência das nuvens, e, como o Deter, lança alertas em tempo real. Porém, só cobre parte da Amazônia e os dados não são públicos.
Apesar dos indícios de sucesso na luta contra o desmatamento, estudos acadêmicos internacionais já questionaram a real eficiência do sistema brasileiro de monitoramento da Amazônia.
Um artigo publicado em 2016 por Peter Richards, pesquisador da Universidade Brown, nos EUA, por exemplo, estimou que o Prodes deixou de ver nove mil km² de áreas desmatadas entre 2008 e 2012.
Outro estudo, publicado na revista Nature no fim de julho e financiado pela agência espacial norte-americana Nasa, concluiu que as taxas anuais de perda de floresta podem ser até duas vezes maiores do que as registradas pelo Prodes entre 2001 e 2016.
2. Além dos sistemas governamentais, entidades privadas independentes também têm sistemas de monitoramento da Amazônia. O mais famoso é o Sad (Sistema de Alertas de Desmatamento), da ONG Imazon, que usa imagens de seis satélites diferentes e publica relatórios mensais.
A Universidade de Maryland mantém sistema de monitoramento da Amazônia no site Global Forest Watch, com dados dos satélites Landsat, da Nasa. O projeto registra variações na cobertura arbórea não só por desmatamento, mas também por incêndios, causas naturais, entre outros.
Por fim, existe também o MapBiomas, uma iniciativa de um grupo de universidades, ONGs e empresas que analisa e refina os dados de todos as fontes governamentais e privadas para acompanhar o desmatamento no país.
3. Os dados do Deter de fato não são adequados para fazer comparações mensais, principalmente porque sua capacidade de detecção é afetada pela cobertura de nuvens, que varia ao longo do ano.
Essa restrição à comparação foi um dos fatores que originaram os ataques do governo ao Inpe. O G1 e a TV Globo divulgaram que o Deter havia registrado um aumento de 88% no desmatamento em junho na comparação com 2018. O dado não foi veiculado no boletim do Inpe.
Embora seja verdade que, em junho de 2019, a área que teve alertas do Deter foi 88% maior do que no mesmo mês do ano anterior, isso não significa necessariamente que o desmatamento em si aumentou nessa mesma proporção naquele mês.
Isso porque, se há muitas nuvens na região monitorada em um determinado mês, a visão dos satélites fica obstruída e há chance de que o sistema só registre os desmatamentos após o tempo abrir. Toda a área desmatada no mês nublado, então, entra nos alertas do mês seguinte.
O próprio Inpe adverte sobre essa limitação. "A informação sobre áreas é para priorização por parte das entidades responsáveis pela fiscalização e não deve ser entendida como taxa mensal de desmatamento", diz o site da instituição.
4. Embora não seja ideal para comparações mensais, o Deter mostra um retrato mais preciso do desmatamento quando um período longo é considerado — um estudo de 2015 com dados de março a setembro apontou correlação de 83% entre os alertas desse sistema e as informações do Prodes.
Esses dados indicam, sim, que o desmatamento está aumentando — e de forma acelerada. De agosto de 2018 a julho de 2019, período que coincide com a medição do Prodes, o Deter mapeou 6.245 km² de destruição na Amazônia, 48% a mais do que os 4.197 km² do período 2017/2018.
Em coletiva de imprensa na semana passada, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que o desmatamento está em alta, mas afirmou que essa tendência vem desde 2012. Embora isso seja verdade, os dados preliminares sugerem uma forte aceleração desse processo.
De 2013 a 2018, o Prodes registrou um aumento de 28% na taxa anual de desmatamento. Se os números preliminares do Deter forem confirmados com avanço de 48% nos últimos 12 meses, será, em apenas um ano, um crescimento maior do que o dos últimos cinco.
5. Bolsonaro não foi o primeiro governante a desferir críticas públicas ao sistema que monitora a floresta amazônica. Em 2008, o presidente Lula questionou o Inpe e reclamou do que considerava um excesso nos alertas contra o desmatamento nos anos anteriores.
"O que aconteceu, na minha opinião, eu não sou comunicador, posso estar errado... você vai no médico detectar porque você está com um tumorzinho aqui e, ao invés de fazer biópsia e saber como vai tratar, você já sai dizendo que está com câncer", disse o petista à época.
No mesmo ano, o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP), então governador do Mato Grosso, também confrontou os dados oficiais e disse que o desmatamento real em seu estado era 10% do medido pelo Inpe.
Maggi alegava uma diferença de metodologia: ele considerava apenas o desmatamento total (corte raso), enquanto o Inpe somava também números de degradação (corte parcial). Um mês depois de sua reclamação, o Inpe passou a publicar relatório diferenciando os tipos de desmatamento.
Já o governo Dilma Rousseff adiou a divulgação dos dados de desmatamento de agosto e setembro de 2014, às vésperas da eleição presidencial. Quando foram enfim revelados, os números apontaram alta de 122% nos alertas em relação a 2013.
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