Thread by @estacaobrasilfm

ACHOU QUE NÃO IA TER THREAD COMPLEMENTAR DO EP02? ACHOU ERRADO!

E o tema é: a cronologia do golpe de 1964.

Aqui está aquele fio para explicar passo-a-passo como se deu o golpe de 64 e não dar margens para dúvida: FOI GOLPE!

Segue o🧶 que a gente explica ponto por ponto!

25/08/61- O presidente Jânio Quadros declara sua renúncia ao cargo. A razão? Acreditava que o povo aclamaria para que ficasse no posto e isso lhe daria mais poderes para governar. O povo ficou em silêncio. Pela lei, o seu vice, João Goulart, assumiria a presidência, mas...

30/08/61- Os comandantes das Forças Armadas declaram que não aceitariam a posse de Goulart, que estava em missão diplomática na China. Argumentavam que este foi afeito à "agitações políticas" nos sindicatos quando atuou como Ministro do Trabalho de Vargas, e tendia ao comunismo.

2/9/61 - A solução para a posse de Jango se deu mediante um acordo: para que este não tivesse plenos poderes, acordou-se que este assumiria como presidente, mas sob a tutela de um regime parlamentarista. Tancredo Neves foi escolhido primeiro-ministro e as tensões diminuíram.

7/9/1961- Goulart toma posse como presidente. Importante lembrar o papel de Brizola para este desfecho. Era governador do RS, e montou a Campanha da Legalidade, defendendo o direito constitucional da posse de Jango. Usou as rádios para espalhar esta mensagem para todo país.

2/2/62- É criado o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), voltado para desestabilização do governo de Goulart. Foi financiado pelo Departamento de Estado dos EUA, políticos e empresários do Brasil e exterior. Seu foco era propaganda anti-comunista e anti-Goulart.

7/10/62- Ocorrem eleições parlamentares e para governador em alguns estados. O destaque fica pela atuação ilegal do Instituto da Ação Democrática Brasileira (IBAD). Estima-se que este recebeu U$5 milhões do Departamento de Estado dos EUA para financiar candidatos anti-Goulart.

6/1/1963- Ocorre um plebiscito para decidir pela continuidade do parlamentarismo ou retorno ao presidencialismo. O presidencialismo vence com 82,1% dos votos. A ideia de Jango presidente no presidencialista empolga as esquerdas e alimenta os medos dos conspiradores anti-Goulart.

12/5/63- No RJ, mil graduados das Forças Armadas realizaram uma manifestação em prol do direito de suboficiais, sargentos e cabos serem eleitos - a Constituição de 46 vetava. A tensão aumenta. Oficiais de baixa patente apoiavam Jango e o presidente concordava com a pauta.

7/8/63 - O projeto de reforma agrária do Senador Milton Campos é rejeitado no parlamento. Campos era um senador liberal e um dos líderes da UDN - partido de oposição a Jango. A rejeição do projeto de cunho moderado denotava o domínio dos ruralistas e conservadores no Congresso.

12/9/63- Em Brasília, sargentos da Aeronáutica e da Marinha se rebelam contra a decisão do STF de manter a inelegibilidade dos oficiais de baixa patente.Os oficiais tomaram prédios públicos e cortaram a comunicação da capital com o país. Foram derrotados pelas tropas do Exército.

Um adendo: as manifestações de graduados, cabos, sargentos eram vistas de forma negativa pela cúpula militar, que considerava as mesmas "agitações políticas desnecessárias", além de quebra de hierarquia e disciplina. O apoio de Jango às pautas dos sargentos só piorava a situação.

17/10/63- O PTB, partido de Jango, sugere uma emenda para o projeto de reforma agrária na Câmara dos Deputados. O projeto, mais progressistas que o de Campos, é rejeitado. Embora previsível, o resultado alimenta a ideia de Jango de que não é possível contar com o Congresso.

22/11/63- John Kennedy é assassinado nos EUA. JFK era crítico do governo Jango, e apoiava uma invasão militar caso o Brasil se tornasse uma "república sindicalista". Todavia, JFK prezava o diálogo. Seu sucessor, Lyndon Johnson se demonstrou mais autoritário e favorável ao golpe.

13/03/1964- Ocorre o Comício das Reformas no RJ. Jango decide utilizar o seu apoio popular para pressionar o Congresso em prol das reformas de base. 150-200 mil pessoas vão ao comício. Jango defende a Petrobrás, a reforma agrária e a elegibilidade dos oficiais de baixa patente.

Adendo 1: apesar de considerada "radical" por muitos analistas, a estratégia de Jango era legitima e embasada no apoio popular ao governo, às reformas de base e, especialmente, à reforma agrária. Em anexo, dados de pesquisa de opinião em SP, após o Comício, sobre o governo.

Aqui dados sobre o apoio popular às reformas de base. Percebam que os resultados demonstram enorme popularidade do projeto. As divergências são pontuais em relação ao caráter urgente ou não da aprovação.

Segundo o historiador Luiz Antônio Dias - especialista em análise de pesquisas de opinião no período -, pouco antes do golpe, a proposta de reforma agrária obteve apoio superior a 70% em muitas capitais. Ou seja, Jango não discursava para o vazio. Suas propostas eram populares.

Adendo 2: o Comício é um ponto de inflexão. Temos 3 reações às pressões realizadas por Jango: 1) o PSD -principal partido do Congresso- rompe com o governo; 2) Pululam manifestações anti-Jango nas cidades; 3) militares que conspiravam contra Jango optam pela saída golpista.

19/03/1964- Em São Paulo, foi realizada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Estima-se que até 500 mil pessoas foram às ruas. Entre estas, diversos líderes políticos anti-Jango. Com o tempo, se descobriu que dinheiro foi injetado nos grupos que organizaram os atos.

Adendo: 2 pontos importantes: 1) foi uma manifestação popular contra o governo Goulart; 2) não pode ser utilizada para legitimar o golpe posterior, pois isto não estava em questão naquele momento. A ideia era tornar Jango um candidato impopular para as eleições de 65.

20/03/64- Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, lança uma circular secreta para seus subordinados. Nela, critica duramente Goulart e, embebido pelo contexto da Guerra Fria, insinua que o Brasil está sendo levado rumo ao comunismo. A saída golpista toma força.

21/03/64- O PSD lança Juscelino Kubitschek para presidente nas eleições de 65. JK apoiou o golpe de 64, principalmente após Castelo Branco lhe prometer que as eleições para presidente de 65 iriam ocorrer. Fundamental lembrar: elas nunca ocorreram e a ditadura durou 21 anos.

25/3/64- A Revolta dos Marinheiros. 2 mil marinheiros se reuniram em comemoração aos 2 anos da Associação de Marinheiros- entidade não reconhecida pela Justiça. Protestaram por melhorias e tiveram ordem de prisão declarada. Goulart lhes deu anistia. A cúpula militar se revoltou.

31/03/64- O General Olímpio Mourão Filho inicia o golpe de Estado ao sair com as suas tropas de Juiz de Fora-MG em direção ao RJ, onde estava o presidente João Goulart. Castelo Branco foi contra. Achava que as forças pró-Goulart resistiriam ao movimento golpista. (o 🧶 segue)

Adendo: Mourão Filho tomou a decisão de iniciar o golpe por algumas razões: 1) tinha apoio de Magalhães Filho, governador de MG; 2) tinha apoio do governo dos EUA, que, em caso de resistência do governo Goulart, poderia dar apoio logístico, financeiro e militar ao golpe.

1/4/64- Goulart toma conhecimento do movimento golpista. Tem a opção de bombardear as tropas de Mourão Filho, mas não autoriza o movimento. A razão? Não queria uma guerra civil no país. Suspeita-se que sabia do apoio dos EUA ao golpe. O presidente segue para Brasília.

02/04/1964 – o general Costa e Silva autonomeia-se comandante em chefe do Exército Nacional e organiza o “Comando Supremo da Revolução”. Paulatinamente, os militares vão dominando o movimento golpista, os poderes da República, e colocando de lado os seus aliados civis no golpe.

02/4/64 – Em sessão realizada de madrugada, o Congresso declara vaga a Presidência da República, pois o presidente teria abandonado o BR. Mentira. Jango tinha ido neste mesmo dia de Brasília para Porto Alegre. O STF homologa a decisão do Congresso. É a cereja no bolo do golpe.

3/4/64- Costa e Silva se reúne com os governadores que apoiaram o golpe. Governadores indicam Castelo Branco para a presidência. Costa e Silva rejeita o nome e diz que não é momento para se falar de eleições. O golpe deságua numa ditadura com contornos definitivamente militares.

9/04/1964 – O Ato Institucional Nr.1 é decretado, conferindo poderes para cassar mandatos e suspender direitos políticos. Nesta data, 100 pessoas tiveram os seus direitos políticos suspensos (sim, a notícia da imagem está errada). 40 parlamentares tiveram seus mandatos cassados.

11/04/64 – Por fim, o Congresso chancelou Castelo Branco presidente da República em eleição indireta. O movimento do golpe estava encerrado e a ditadura instaurada.

E as últimas reflexões desse longo fio ficam para: o golpe de 64 foi um movimento violento? Houve mortes? Ou a violência começou somente com a "oposição subversiva" aos governos militares?

A resposta é: sim, a violência começa no golpe de 64. A ditadura nasceu da violência.

1/4/64- Agentes militares invadem o prédio da UNE no Rio de Janeiro e o incendeiam. O movimento estudantil era crescente no período e apoiava as reformas de base.

1/4/64- No Rio de Janeiro, mais precisamente, no Largo do Caco, os estudantes Ari Cunha e Labid Adbuch foram mortos ao protestarem contra o golpe. As suspeitas indicam que eles foram mortos por tiros pelo grupo CCC (Comando de Caça aos Comunistas).

1/4/64- Em Pernambuco, o governador Miguel Arraes, aliado de Jango, foi deposto com o golpe. Muita resistência se deu contra a decisão arbitrária, e nestas manifestações Jonas Barros e Ivan Aguiar foram mortos com tiros.

E um dos eventos mais bárbaros se deu com o líder comunista Gregório Bezerra,com 64 anos na época. Após o golpe, foi preso e torturado, obrigado a pisar em ácido para depois ser levado,com cordas amarradas no pescoço, para desfilar descalço por Recife, como uma espécie de prêmio.

Não há meio termo para se encerrar essa thread: #DitaduraNuncaMais. A história do Brasil pode ser narrada de muitas formas, mas não podemos esquecer do sangue derramado e violência: contra escravos, indígenas, minorias e nos golpes de Estado. Jamais devemos esquecer disso.

Achou o conteúdo interessante? Escute o nosso episódio sobre o golpe de 64 e acompanhe o podcast. Tem muita coisa lá que pode lhe interessar.

No mais, compartilhe esse 🧶. HJ é dia de defender a democracia e manter enterrado o passado autoritário.
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leituraobrigahistoria.com/2020/03/30/o-g…

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Humildemente peço que estes perfis dêem uma olhada nesse fio:

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