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17 Oct, 28 tweets, 6 min read
Nenhum rubro-negro ficou feliz com o empate contra o Red Bull Bragantino. Dentro de um contexto surreal, os três pontos e a liderança provisória seriam importantes para a sequência que vem a seguir...
Desde a viagem para o Equador, há exatamente um mês, o rubro-negro não teve um dia de paz. O surto de coronavírus, uma série de lesões, uma sequência insana de jogos, convocações...

Em uma temporada já atípica, o Flamengo viveu um mês de pandemônio.
Neste mês, o Flamengo conseguiu seis vitórias e dois empates. Resultado exemplar, até acima do esperado com tantos problemas.

Mesmo assim, não dá para deixar os resultados mascararem o desempenho: o time teve maus momentos em todos os jogos e mostrou que ainda precisa evoluir.
O principal problema ainda é o "efeito mola": o time sai para fazer uma marcação-pressão, mas não avança em bloco. Se o adversário escapa da primeira onda de pressão, a defesa fica completamente exposta e acaba cedendo chances.

A corda costuma estourar do lado direito da defesa.

Afinal, Isla (ou Matheuzinho) joga se projetando o tempo todo, atacando o corredor. Quando o time perde a bola e a pressão pós-perda é mal feita, acaba sendo pego de calça curta justamente naquele setor.
Muita gente tem perguntado sobre essa questão. Parece ser muito mais uma falha de execução do que um plano.

A maneira como você ataca influencia na maneira como você defende, então não faz sentido avançar em bloco e fazer pressão pós-perda se a defesa recua e abre um buraco.
Mesmo com as vitórias, já vinha ficando claro que o Flamengo precisa melhorar. Ainda está longe do nível que se espera. Sem treinar, a missão é difícil, mas precisaremos encontrar formas de acelerar o processo.

Dentro desse contexto delicado e dessa gangorra de desempenho, o Flamengo vinha jogando (apenas) o suficiente para bater os adversários no Brasil. Afinal, é um time melhor, mesmo desfalcado.
Tudo isso culminou na marcação de dois jogos com 48h de intervalo. Não apenas isso, mas dois jogos com 48h de intervalo DENTRO DA DATA FIFA.

Isso quer dizer que, para além da gestão do elenco pelo curto período de recuperação, o Flamengo tinha quatro desfalques importantíssimos!
O grande problema é que o departamento médico e a comissão técnica do Flamengo acreditam, a partir das informações fisiológicas, que 48h depois do jogo acontece justamente o pico do desgaste muscular dos atletas. Idealmente, Domenec não queria repetir ninguém nos dois jogos.
Domenec falou sobre isso na coletiva depois do jogo de terça, contra o Goiás, e de novo depois do jogo contra o Bragantino. Márcio Tannure, médico do Flamengo, falou sobre isso hoje

Ou seja, o quebra-cabeças da escalação não levava em conta apenas opções táticas e técnicas, mas principalmente as questões físicas.

Esse era o contexto e ele não pode ser ignorado. A análise da escalação e do rendimento em campo não termina aí, mas precisa partir daí.
A gente pode discordar das escolhas, mas é difícil crucificar a saída de Pedro ou a opção por iniciar com Bruno Henrique e Gerson no banco.

Afinal, a orientação médica fala mais alto nessa hora.

TODO MUNDO queria os três em campo, mas tem hora que não dá.
Com tudo isso, Domenec optou por levar "para o sacríficio" Thiago Maia e Arão, que haviam jogado terça, além de Isla e Everton Ribeiro, que jogaram por suas seleções. Pedro, que vinha de oito jogos seguidos, jogaria 45 minutos.
Algumas dessas escolhas merecem destaque.

A primeira é na zaga. Thuler não jogava há muito tempo e é natural que ganhasse uma chance. Afinal de contas, futebol tem "fila" e seria estranho se Noga ou Otávio "passassem na frente" depois de apenas um bom jogo de cada.
Léo Pereira, no entanto, vem mal há bastante tempo. Tem mostrado muita dificuldade, sobretudo para controlar os adversários de costas.

Com isso, poderia ter perdido a vaga para um dos meninos.
Pensando na gestão do elenco, Léo foi ultrapassado por GH e Natan nos últimos tempo, mas precisamos reconhecer que não é simples fazer o segundo zagueiro da "fila" virar o sexto ou sétimo em um pulo.

Depois de mais um jogo ruim, talvez este momento esteja chegando...
Na lateral, Isla foi muito mal. Estava claramente esgotado. Não tinha condições... Talvez fosse até melhor jogar com Renê improvisado na direita. O problema é que, com Everton Ribeiro cortando para o meio e abrindo o corredor, faz mais sentido ter um lateral que passa por ali.
Com a opção por Isla, Renê foi para a esquerda. Ele ainda é o substituto imediato de Filipe Luís, por mais que a torcida tenha gostado muito de Ramon.

Mas, especificamente nesse jogo, com o Flamengo enfraquecido na frente, o garoto poderia mostrar um repertório ofensivo maior.
Na frente, Domenec optou por Lincoln pelo lado esquerdo. Não é sua posição original, mas o moleque foi elogiado nas duas partidas que jogou aberto ali (Palmeiras e IDV) e até houve crítica quando, no jogo seguinte, o time voltou com BH e Vitinho.
Com um time recheado de reservas, que não treina e com alguns titulares no bagaço, o Flamengo não fez um bom jogo. O primeiro tempo foi chato, amarrado, sem nada relevante. O segundo até foi melhor, jogado no campo de ataque, mas não o suficiente para vencer.
@obrunopet falou muito bem das escolhas táticas e das dificuldades específicas que o Flamengo teve no jogo.

Pessoalmente, acredito que o time poderia ter iniciado com Ramon na esquerda, Renê na direita e até mesmo Otávio na zaga, além de Vitinho pelo lado esquerdo do ataque.

Concordo que é difícil definir se Pedro deveria jogar logo o primeiro tempo ou ser resguardado para o segundo.
É absolutamente normal criticar as opções do treinador. Elas não são absolutas. Cada um faria as escolhas de uma forma.

A gente só precisa entender, como diz o @carlosemansur, que "o time do analista não vai a campo. O do treinador, sim."

A frustração do empate gerou uma avalanche de críticas.

Algumas certeiras, outras nem tanto. Algumas levando em consideração o contexto atual, outras fazendo questão de "esquecer". Algumas pontuando dúvidas, outras cheias de certezas absolutas...
Ninguém ficou feliz, é claro. Mas problema do Flamengo agora é outro....

A tabela nos últimos jogos foi "fácil": CAP, Sport, Vasco, Goiás e Bragantino.

Nas próximas rodadas pega Corinthians, Inter, SPFC e CAM. Times muito melhores.
Nessa sequência, não bastará jogar "apenas o suficiente".

O time precisará crescer individualmente e coletivamente. Em tese, os titulares vão voltando... São três semanas até o jogo contra o Atlético-MG, mas a pergunta é: como evoluir sem treinar?
Entre esses jogos, há um confronto pela Libertadores (Junior) e dois pela Copa do Brasil (CAP). O Flamengo precisará optar por jogar no limite, fazer rodízio ou até mesmo poupar o time todo.

Essa escolha, só o treinador poderá fazer. O time dele é que vai a campo. Qual será?

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15 Oct
Ufa! O Flamengo sofreu, mas conseguiu vencer o Goiás no último lance.

Ou melhor… O Flamengo criou, martelou, mas a bola cismou de não entrar até o último lance. Assim é o futebol. O sofrimento foi mais pelo resultado (até o fim) do que pela performance em si.

Vamos à análise!
Antes do apito inicial, havia uma dúvida sobre qual seria o time, uma vez que o Fla está no meio de uma agenda insana. Domenec teve que fazer um exercício de escalação condicional: o time e as substituições planejadas na terça dependiam também do planejamento para quinta.
Isso porque, segundo o próprio Domenec, o pico de desgaste dos jogadores se dá 48h após a partida. Ou seja, provavelmente ele não pensa em repetir (quase) ninguém nos dois jogos.

Talvez contando com a volta dos convocados para quinta, colocou o que tinha de melhor no momento.
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13 Oct
“Clássico não se joga, se vence.”

Há quem acredite, há quem discorde. Fato é que o Flamengo foi lá e venceu, mesmo sem jogar. Aliás, mesmo em um jogo pouco jogado. Uma exibição fraca e cheia de erros, mas suficiente para garantir três pontos importantíssimos.
Mas clássico se joga? Se vence? O excelente @csguimaraes escreveu na semana passada sobre essa frase. O texto é sobre o Gre-Nal, mas vale para Flamengo x Vasco também.

Ele conclui que, de fato, clássico se vive, não apenas se analisa. não basta apenas jogar bem. E eu concordo absolutamente.

Preciso, porém, fazer uma ressalva...

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10 Oct
Flamengo e Vasco vivem trajetórias inversas no campeonato. Um começou oscilando e vem se afirmando, o outro começou voando e vem caindo. Na verdade, ambos começam a gravitar suas posições "naturais" na tabela.

Não é surpresa para quem vinha prestando atenção nos números…
Logo no início do campeonato, um assunto começou a chamar a atenção: a falta de pontaria do Flamengo vinha incomodando. Mergulhei profundamente no tema para entender onde estava o problema.

De fato, o Flamengo ainda não era completamente dominante (como ainda não é) nos jogos, mas já era um time que ficava bom a bola, conseguia progredir razoavelmente, criava chances, finalizava... A bola simplesmente não entrava. Faltava o toque final.

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8 Oct
Natan tem sido impressionante até aqui.

Subiu na fogueira, mas se mostrou sempre rápido, seguro, tranquilo, eficiente... E o mais importante: testado em vários contextos diferentes e sempre se saindo bem.
Em sua estreia, pegou um contexto muito específico: com o time de garotos, o Flamengo recuou, se fechou e forçou o Palmeiras a forçar o jogo pelo lado.

Jogou pelo lado direito da zaga. Ele e Otávio foram quase impecáveis defendendo a área.

Já contra o IDV no Maracanã, jogou pelo lado esquerdo, ao lado de Noga.

O time que até subia o bloco de marcação, mas não pressionava intensamente. Preparava uma arapuca para contra-atacar mortalmente. Neneca teve que fazer até mais defesas, mas a zaga também foi segura.
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30 Sep
Existe empate com gosto de vitória? Sinceramente não sei.

Mas certamente existe jogo com gosto de Flamengo.
O rubro-negro terminou a exaustiva semana das liminares com um sorriso no rosto. Não (apenas) pelo ponto conquistado, mas por um verdadeiro domingo de Flamengo. Image
Com todos os problemas, o Fla foi a campo um time de garotos.

Alguns completamente desconhecidos de boa parte da torcida. Há quem diga que “o time foi reforçado por quatro jogadores experientes”, mas a verdade é exatamente oposta. Eram sete moleques da base, a maioria estreando.
E o domingo foi todo deles. Entraram em campo contra um grande rival, colocaram a bola no chão e jogaram com toda a calma do mundo. Nada de bicões desesperados, de jogadores intimidados, de movimentações aleatórias… Para a surpresa de todos, o Flamengo jogou como um time.
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26 Sep
Pelo jeito, o futebol brasileiro decidiu que vale a pena ter um jogo em que o assunto menos discutido, o que menos importa, é o futebol. O tal jogo jogado. Aquilo que deveria ser o mais importante.

É o que acontece quando fazemos as perguntas erradas...
Pelo jeito, o protocolo atual prevê todo tipo de situação, menos uma: surtos coletivos dentro de um elenco.

Pelo que tem sido dito, não há plano para esses casos, não há diretrizes claras, não há linha de corte, objetividade.
Acontece que estamos lidando com um tipo de problema específico: é um problema encadeado.

Isso significa que cada pessoa só é infectada pela pessoa ao seu lado. Ou seja, os casos não aparecem de maneira uniforme e aleatória por aí.
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