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22 Oct, 23 tweets, 7 min read
Para o Flamengo o jogo era quase protocolar e isso permitiu que Dome poupasse vários jogadores. Mas mesmo muito mexida, a identidade tática da equipe permaneceu e foi vista na saída de bola, na ocupação racional de espaços, na bola parada... Vamos de fio tático sobre a partida.
Já classificado para as oitavas e precisando apenas de um empate para garantir o 1º lugar do grupo, Dome optou por poupar praticamente todos os jogadores disponíveis para a importante partida contra o Internacional pelo Brasileirão no domingo.
O 4-2-3-1 foi mantido e a mudança mais brusca no 11 inicial foi na posição do meia/ponta direita. Michael possui características completamente diferentes de É. Ribeiro e isso muda um pouco a dinâmica ofensiva pelo setor, afinal Michael e Matheuzinho rendem mais atacando por fora.
Podemos ressaltar também a manutenção de Vitinho como meia-central na linha de meias, indicando que para Dome, o substituto ideal de Arrasca realmente foi encontrado. Além disso, a dupla Thuler e Léo Pereira ganhara nova oportunidade após a má partida contra o RB Bragantino.
O Junior Barranquilla também atuou num 4-2-3-1 tendo Téo Gutiérrez fazendo o papel de organizador da equipe, além de Borja, ex-Palmeiras, como centroavante. Mas mesmo com esses dois bons jogadores, o time é bem fraco e apresenta muitos problemas, sobretudo defensivos.
O jogo começa com o Flamengo dando as cartas desde o minuto zero. A intensidade rubro-negra era bem alta e impunha um jogo de um time só. Constrói, cria, perde a posse, pressiona, recupera rápido e volta a atacar.
E o perde-pressiona do Fla realmente vem evoluindo muito recentemente. Situação que era problema crônico no início do trabalho de Dome agora já começa a tomar forma e os jogadores já começam a entender como funciona esse jeito novo de fazer pressão.
Isso porque com JJ, o Fla fazia uma pressão por encaixes visando pressionar rapidamente o portador da bola. Com Dome, o estilo da pressão mudou e passou a ser uma pressão fechando linhas de passe. A diferença é sutil, mas leva tempo até a total assimilação pelos jogadores.
Quando o Fla não conseguia recuperar a posse através do desarme, forçava o chutão do adversário, ganhava o duelo aéreo e voltava a construir desde trás. Construção essa em que vimos bastante variedade no posicionamento dos jogadores.
Teve saída de bola em 2+4 com os laterais mais baixos oferecendo suporte na construção com a dupla de volantes na mesma altura buscando atrair marcações. Mas teve também saída em 3+1, com o 1º volante baixando no meio dos zagueiros e permitindo o avanço dos laterais.
Além disso, cada vez mais a dinâmica de ocupação de espaços do jogo de posição vai ficando mais automatizada na cabeça dos jogadores. A preocupação que havia quanto a dinâmica ofensiva do setor direito por exemplo, não se concretizou. Michael e Matheuzinho não se embolaram.
E essa variedade tática não se limita às construções ofensivas. A bola parada do Fla começa a ganhar cada vez mais importância e efetividade. Nathan vs Corinthians, Léo vs Vasco, GH vs Sport e ontem, gol de Thuler. E de novo a partir de escanteio cobrado buscando a segunda trave.
Mas temos que ressaltar que essa boa atuação do Fla fora muito facilitada graças ao baixo nível de atuação do time colombiano, que deixava muitos espaços, sobretudo na última linha de defesa e marcava com baixíssima intensidade, permitindo ao Fla uma troca de passes bem tranquila
Aos 20’, já com a vantagem no placar, o Fla baixa um pouco a intensidade e o ritmo do jogo diminui. O Junior até começa a ter um pouco mais a posse, mas cria muito pouco. A impressão era que o Fla mesmo menos intenso, tinha o jogo completamente controlado.
E realmente o tinha. Mesmo com esse ritmo mais lento conseguira chegar ao 2º gol num excelente contra-ataque. Lincoln baixa para dar suporte como pivô e após Diego lançar B. Henrique em profundidade, três jogadores acompanham a jogada para dar opção de finalização dentro da área.
O 2T reiniciou com duas substituições programadas. Vitinho e Arão saem para a entrada de dois meninos, João Gomes e Lázaro. Ambos os substituídos devem jogar contra o Inter e com a vantagem no placar, poupá-los era mesmo o mais prudente.
O esquema tático do Flamengo não muda, já que os meninos entram fazendo exatamente a mesma função dos que saíram. Assim como não muda o domínio rubro-negro na partida. Se a posse de bola de no 1T já havia sido alta (66%), no 2T subiu ainda mais (75%).
Até que na única transição defensiva falha do Fla, o Junior diminui o placar. Impressionante como o Fla sempre cede gols e oportunidades ao adversário mesmo em jogos absolutamente controlados. Nos últimos 15 jogos o Fla só saiu sem sofrer gol em dois (2x0 vs Sport e 4x0 vs IDV).
Mas o gol do Junior não mudou o panorama da partida, que permanecia com domínio completo do Fla. Aos 78’, Ramon entra novamente para fazer dobradinha com o lateral-esquerdo. Só que dessa vez, Dome não promoveu alteração na formação para o 5-3-2 como fizera contra o Corinthians.
Afinal, o Junior não apresentava muito perigo ofensivo e nem atacava com muita gente para fazer com que Dome repetisse a linha de 5 na defesa. Assim, Ramon entrou mesmo como ponta-esquerda na linha de meias do 4-2-3-1, mantendo Renê como lateral e empurrando BH para centroavante.
Ainda deu tempo para mais um gol convertido em cobrança de escanteio, escancarando o bom trabalho de Jordi Guerrero nas bolas paradas ofensivas. Bola parada ganha jogo e deve mesmo ser utilizada com eficiência.
No final das contas, o mais importante para o Flamengo é ter visto um time praticamente todo reserva praticar com muita eficiência as mesmas nuances táticas utilizadas pelos “titulares”. Para isso, manter todo o elenco em atividade constante é fundamental.
O elenco ganha cada vez mais opções e os jogadores que entram e revezam se mostram preparados e em forma física para manter a mesma pegada dos “titulares”. Isso vai ser fundamental para o andamento da temporada nesse (maluco) calendário. Os detratores do rodízio piram.

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