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26 Oct, 29 tweets, 9 min read
Internacional e Flamengo fizeram nada mais, nada menos que o melhor jogo do campeonato. Teve de tudo. Tática, técnica, intensidade, disputa física, jogo psicológico, alterações de esquema, mudança de estratégia... Vamos trocar uma ideia sobre todas as nuances do jogo.
Com muitos desfalques, Dome tinha duas grandes questões para resolver na escalação do Flamengo. Primeiro quem seria o substituto de B. Henrique. Com muita gente fora de combate, os jogadores disponíveis com características mais próximas eram Michael e Pedro Rocha.
A segunda, qual seria a dupla de volantes. O Inter é um time muito físico e intenso e ter Thiago Maia seria fundamental para igualar essa intensidade. Em contrapartida, Arão entregaria uma distribuição de jogo na saída de bola importante para vencer a pressão alta gaúcha.
E Dome opta por ter os dois, mantendo o 4-2-3-1 com TM e Arão fazendo dupla de volantes e empurrando Gérson para uma função mais avançada. Mas não como meia-central, e sim como meia-esquerda, já que Vitinho fora mantido na posição de Arrascaeta, jogando por dentro.
Com isso, o Fla perde o jogador de velocidade e ataque a profundidade pelo lado esquerdo sem a presença de Bruno Henrique, mas ganha mais controle de bola, organização e presença física com Gérson no setor.
Já o Inter de Coudet, apesar dos desfalques, não surpreendeu na escalação. O 4-1-3-2 já característico do time gaúcho foi mantido, com Heitor como lateral-direito, Uendel na esquerda e um meio-campo extremamente combativo, físico e intenso com destaques para Patrick e Edenílson.
O jogo inicia conforme o planejamento de Coudet. O Inter subia os blocos de marcação fazendo uma pressão alta muito intensa e organizada. Isso dificultava demais a saída de bola rubro-negra, que se via em extrema dificuldade.
O Internacional induzia o Fla a sair jogando pelo lado esquerdo de seu ataque e fechava todas as linhas de passe mais curtas, deixando apenas as opções de passe mais longos. Até que aos 5’, Isla vacila na frente de quem menos podia, Patrick.
O volante/meia do Inter é um monstro fisicamente e tende a superar seus adversários nesse tipo de duelo corpo a corpo. A falha individual forçada de Isla evidenciava a fase 1 da estratégia de Coudet e o Inter abrira 1x0 usando justamente seu principal ponto forte.
Quando tinha a bola desde trás, o Inter optava por atrair a marcação do Fla, sobretudo a de Thiago Maia que subia para pressionar Lindoso. Após atrair, o Inter conectava lançamentos mais longos em profundidade, fugindo bem da pressão alta adversária.
Nesse momento do jogo, os críticos da saída de bola por baixo já começavam a pegar no pé de Dome. Os amantes do chutão se descabelavam. Até que sai o gol de empate do Fla numa construção que passa justamente por essa saída de bola pelo chão. E não é que essa estratégia funciona?!
Mais dois destaques nesse lance do gol. O giro de Pedro em cima de Zé Gabriel, usando bem o corpo para girar e receber a bola já se orientando para o gol. E o facão de Vitinho, confundindo Moledo que hesita em sair para marcar Pedro, justamente por conta dessa movimentação.
Após o gol, o Fla começa a passar mais tempo com a posse de bola e controla melhor o jogo, passado o ímpeto inicial do Inter. Só que a pressão alta do Inter ainda voltaria a fazer efeito. Gustavo Henrique recua mal para Hugo e a bola sobra para Thiago Galhardo. Erro fatal.
O detalhe é que Gustavo Henrique até tinha opções melhores para sair jogando nesse lance, já que os encaixes de marcação do Inter não estavam tão bem encaixados. A má escolha de passe de Isla somada a má escolha de GH não foram perdoadas pelo bom time do Inter.
Novamente na frente do placar, agora já com quase 30’ do 1T, Coudet começa a partir para a fase 2 de sua estratégia. Abdica da pressão alta e passa a marcar em bloco médio/baixo, com duas linhas de 4 bem compactas.
O Fla matinha a posse de bola, mas conseguia criar muito pouco. Sem Bruno Henrique, pouca gente incomodava a linha defensiva do Internacional. Faltavam opções para gerar possibilidades de passe em profundidade.
Visando atrair os blocos de marcação do Inter, o Fla recuava a bola nos zagueiros. Mas o Inter não caia na isca, mantendo seus blocos defensivos bem baixos. Num lance bem representativo, GH, Arão e Nathan trocaram passes por quase 30s sem ninguém do Inter subir pra incomodar.
Na volta do 2T, Coudet mantém a estratégia mais defensiva. As roubadas de bola no campo adversário a partir da pressão alta que tanto deram trabalho ao Fla no 1T simplesmente sumiram, como o @teofb muito bem mostra nesse tweet.
Mas Dome muda a estratégia. Inverte o posicionamento de Vitinho com Gérson, coloca Thiago Maia mais avançado em campo, muda o formato do tripé de meio-campistas e sai do 4-2-3-1 para o 4-3-3.
Nesse formato, Gérson começara a flutuar mais no entrelinhas e o Flamengo a encontrar espaços pelo centro. Com o Inter mais recuado, Isla e Filipe Luís começam a ter mais liberdade para avançar e aparecer mais no campo de ataque.
Nos primeiros 10’ do 2T, o Fla chegou a ter 80% da posse de bola. O domínio era absoluto. As chances eram criadas, mas não eram convertidas. Pedro, Filipe Luís, Vitinho e Gustavo Henrique tiveram chances, mas não converteram.
Com o Inter dando espaços, Coudet resolve promover duas mudanças. Rodrigo Dourado e D’Alessandro entram nas vagas de M. Guilherme e Abel Hernández. O Inter abre mão dos 2 atacantes e sai do 4-1-3-2 para um 4-2-3-1.
Com Dourado, Coudet povoa mais o meio e diminui os espaços de Gérson. Edenílson sai do meio e passa para o setor direito. Com D’Alessandro, o Inter passara a ter alguém com maior capacidade de segurar e esconder a bola, baixando o ritmo do jogo.
O Inter conseguiu baixar o ritmo e diminuir um pouco a avalanche rubro-negra de oportunidades. O jogo não fluía, Gérson encontrava menos espaços pelo meio e o Fla começava a recorrer aos lados do campo para criar oportunidades.
O Inter se defendia como podia e com todos os jogadores que podia. Aos 39’, em um cruzamento de Filipe Luís, praticamente todos os jogadores do Internacional estavam dentro da área para evitar o gol, deixando claro o amplo domínio do Fla e o recuo excessivo do Inter.
Como buscava muito os lados do campo, Dome colocou Lincoln em campo para jogar ao lado de Pedro, buscando povoar mais a área. O 4-3-3 sai de cena e o Fla passa a jogar no 4-4-2 com Gérson ainda pelo meio, mas vindo mais de trás, Michael pela esquerda e ER7 na direita.
Até que de tanto martelar, no finalzinho da partida, sai o merecido gol de empate. Gérson puxa da esquerda pra dentro, conta com as movimentações de Lincoln e Filipe Luís para encontrar espaço pelo meio e cruza para um É. Ribeiro sozinho atacando a área vindo da direita.
Gol mais que merecido. A derrota teria sido absolutamente injusta para o Flamengo. Um time que mostrou repertório ofensivo e que amassou um dos melhores times do Brasil dentro da casa dos caras. O trabalho de Dome é muito bom e evolui a cada dia.
O trabalho de Coudet, idem. Mesmo com um elenco mais curto e cheio de desfalques mostrou que consegue montar um time organizado, intenso e competitivo. Parabéns aos dois treinadores. Coudet e Dome promoveram uma partida a la Europa no melhor jogo do campeonato até aqui.

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