Bruno Pet Profile picture
29 Oct, 24 tweets, 7 min read
Foi a primeira vez que Dome disputou uma partida de mata-mata pelo Flamengo. Mesmo contra um CAP que passa situação bem delicada na temporada, algumas escolhas de Dome durante a partida indicam que ele realmente vê o mata-mata com outros olhos. Segue o fio.
A expectativa na escalação do Fla era à espera de que Dome poupasse alguns jogadores por conta da sequência pesada de jogos. E Dome poupou, mas apenas 3 jogadores. Gérson, G. Henrique e Nathan saíram. Noga e Léo Pereira receberam nova oportunidade.
O 4-2-3-1 se manteve com Vitinho novamente centralizado na linha de 3 meias, se firmando cada vez mais como reserva imediato de Arrascaeta. A dupla de volantes se repetia com Arão e T. Maia, já que ambos estão suspensos e não poderão jogar contra o São Paulo pelo Brasileirão.
O CAP vinha de uma semana conturbada. Técnico e auxiliares demitidos, diretor de futebol pedindo desligamento e muitos desfalques. Paulo Autuori, que acabou acumulando a função de treinador, levou a campo um 4-2-3-1 com Nikão e Cittadini como destaques.
O jogo inicia com o Flamengo dando as cartas. O CAP marcava em bloco médio/baixo e a saída de 3 do Fla com Arão descendo no meio dos zagueiros sofria pouca pressão e tinha liberdade e paciência para encontrar o passe.
É. Ribeiro fazia ótimo trabalho aparecendo como homem-livre atrás das linhas de marcação do CAP e encontrava sempre Isla fazendo a ultrapassagem pelo corredor. Aliás, precisamos destacar o bom funcionamento da dinâmica ofensiva do lado direito de ataque do Fla.
O entrosamento entre Isla e É. Ribeiro cresce a cada jogo. Ambos são complementares e maximizam as características um do outro. O entendimento de Isla em saber quando deve fazer a ultrapassagem e de ER7 em quando dar o passe já está numa sincronia sensacional.
E essa dinâmica do lado direito de ataque era mesmo a principal arma do Fla. Aos 17’, Pedro chuta rente a trave. Aos 19’ sai o gol. A jogada que iniciara pelo setor esquerdo de ataque vira rápido para a direita e encontra Isla sozinho com tempo para ajeitar e cruzar.
Por outro lado, sem a bola o Fla praticava uma pressão alta muito intensa, sobretudo nos tiros de meta do time paranaense. Pedro e Vitinho subiam para pegar os zagueiros, B. Henrique e É. Ribeiro pegavam os laterais e T. Maia saltava em pressão em Richard.
Isso dificultava bastante a saída de bola do Athletico que se via obrigado a retornar a bola em Santos, que se livrava dando chutão. Foram 24 bolas longas na partida de um goleiro que tem uma média de apenas 5.5 por jogo.
Mas havia um problema. Diferente do 4-3-3 que Autuori havia levado à campo contra o Grêmio, quando Christian jogou mais avançado, dessa vez ele ficou na mesma altura de Richard no 4-2-3-1. E esse posicionamento de Christian gerava dúvida nos homens de meio do Fla.
Das duas uma: ou T. Maia teria que ser intenso o suficiente pra subir a pressão nos dois sozinho, ou Arão teria que desgarrar de Cittadini e subir a pressão junto com Maia. Nos primeiros minutos, a decisão foi ter Maia sozinho.
Mas a partir dos 15’, Arão começou a subir e ajudar Thiago Maia na pressão. E isso de fato melhorou os encaixes na pressão alta, mas trouxe outros problemas, uma vez que Arão era o elo de ligação entre a linha de defesa e a pressão alta.
Cittadini começou a ficar livre entre as linhas que passaram a ficar muito espaçadas. Por algum motivo desconhecido (por mim), a linha de defesa do Fla não subia junto a pressão alta e ficava muito baixa em campo, gerando um buraco gigante no meio.
Os lançamentos longos de Santos começavam a virar mais uma estratégia do que uma necessidade. Quebrando a bola, o CAP pulava a pressão alta do Fla e tinha em Cittadini uma possibilidade grande de vencer a segunda bola.
Mas foi só no 2T mesmo que isso começou a causar maiores problemas ao Fla. Depois de um 1T seguro e controlado do Fla, o condicionamento físico começou a pesar. Santos saltava as linhas de pressão com os lançamentos longos e a segunda bola era sempre do Athletico.
Aos 20’, o Flamengo não tinha mais fôlego para subir a pressão e retornar com intensidade para fechar a linha de meio. Aos 22’, Dome renova o fôlego do time e entra com Daniel Cabral no lugar de Vitinho.
Assim, o sistema defensivo passa a marcar numa espécie de 4-1-4-1, com T. Maia e Daniel Cabral desgarrando da linha de meio para saltar em pressão, mas deixando Arão protegendo o entrelinhas, retornando a função que havia cumprido nos primeiros minutos do jogo.
Mas não adiantara muito, porque o sistema defensivo continuava dando espaços. Daniel parecia meio perdido, a abordagem na marcação era pouco intensa e Léo Pereira e Noga também não faziam boa partida.
Além disso, o Fla tinha muita dificuldade de conectar contra-ataques e não conseguia mais manter a posse. Agora com Lucho e Wellington em campo ditando o ritmo no meio-campo, o CAP mandava na partida e tinha muito mais posse de bola.
Aos 40’ Dome recua ainda mais o time. Tira Pedro e entra com Gustavo Henrique e monta uma linha de 5 defensores com 3 volantes à frente. É. Ribeiro e BH ficavam mais à frente.
Dome havia falado com o elenco após o jogo contra o Inter sobre a importância de não sofrer gols em disputas de mata-mata. Me parece que o catalão realmente está levando isso muito a sério. O 5-3-2 do Fla com 3 zagueiros + 3 volantes no final da partida diz muito sobre isso.
Mas com as falhas do sistema defensivo, brilhou mesmo a estrela de Hugo. Muito do mérito do Fla não ter sofrido gols nessa partida passa pela exuberante partida de seu goleiro. Gestos técnicos perfeitos e um reflexo/velocidade muito acima da média para um goleiro da sua altura.
No final das contas, o resultado foi excelente. O desempenho, nem tanto. Vencer fora de casa sem sofrer gols dá ao Fla a vantagem de poder empatar em casa na volta. Mas o condicionamento físico, a descompactação defensiva e o recuo excessivo do time ligam um sinal de alerta.

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Bruno Pet

Bruno Pet Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @obrunopet

26 Oct
Internacional e Flamengo fizeram nada mais, nada menos que o melhor jogo do campeonato. Teve de tudo. Tática, técnica, intensidade, disputa física, jogo psicológico, alterações de esquema, mudança de estratégia... Vamos trocar uma ideia sobre todas as nuances do jogo.
Com muitos desfalques, Dome tinha duas grandes questões para resolver na escalação do Flamengo. Primeiro quem seria o substituto de B. Henrique. Com muita gente fora de combate, os jogadores disponíveis com características mais próximas eram Michael e Pedro Rocha.
A segunda, qual seria a dupla de volantes. O Inter é um time muito físico e intenso e ter Thiago Maia seria fundamental para igualar essa intensidade. Em contrapartida, Arão entregaria uma distribuição de jogo na saída de bola importante para vencer a pressão alta gaúcha.
Read 29 tweets
24 Oct
O Internacional de Eduardo Coudet é híbrido, físico, intenso e entende os momentos do jogo. Essas são algumas das características do time que o Flamengo vai enfrentar no próximo domingo valendo a liderança do Brasileirão. Vamos analisar o bom time do Inter nesse fio.
No cargo há 10 meses, Coudet carrega suas ideias de jogo desde os tempos de Rosario e Racing. A formação padrão é o 4-1-3-2 com uma linha de meias pautada pela pouca exigência criativa. Isso porque no estilo de jogo de Coudet a intensidade é mais importante que a criatividade.
No Brasil, Coudet sofre críticas por utilizar muitos volantes e alguns chegam a dizer que Coudet é retranqueiro. Pura viagem. Apesar de volantes por natureza, as funções desses meio-campistas são diferentes e ao mesmo tempo complementares.
Read 25 tweets
22 Oct
Para o Flamengo o jogo era quase protocolar e isso permitiu que Dome poupasse vários jogadores. Mas mesmo muito mexida, a identidade tática da equipe permaneceu e foi vista na saída de bola, na ocupação racional de espaços, na bola parada... Vamos de fio tático sobre a partida.
Já classificado para as oitavas e precisando apenas de um empate para garantir o 1º lugar do grupo, Dome optou por poupar praticamente todos os jogadores disponíveis para a importante partida contra o Internacional pelo Brasileirão no domingo.
O 4-2-3-1 foi mantido e a mudança mais brusca no 11 inicial foi na posição do meia/ponta direita. Michael possui características completamente diferentes de É. Ribeiro e isso muda um pouco a dinâmica ofensiva pelo setor, afinal Michael e Matheuzinho rendem mais atacando por fora.
Read 23 tweets
19 Oct
Mais uma partida de domínio absoluto do Flamengo. Goleada na casa do rival e um repertório bem interessante de ações ofensivas. Bola parada, lançamento longo, construção com passes curtos e Vitinho. Que partida “daquele que não prestava mais”. Bora de fio tático sobre o jogo.
O Flamengo mais uma vez entrou no 4-2-3-1. Ainda sem Arrascaeta, o escolhido da vez para fazer a função de meia central foi Vitinho. E por características individuais do próprio, a formação as vezes até parecia um 4-4-2, com Vitinho bem próximo de BH como segundo atacante.
No segundo jogo de Vagner Mancini à frente do Corinthians, vimos um 4-2-3-1 com Xavier e Camacho de volantes, M. Vital como meia central, Everaldo e Otero abertos e Boselli no comando de ataque.
Read 24 tweets
16 Oct
Menos de 48h após a última partida, o Flamengo novamente entrou em campo. Ignorar o contexto na análise desse jogo seria leviano, já que ele afeta diretamente o rendimento do time. Vamos trocar uma ideia sobre esse contexto e o que aconteceu dentro das quatro linhas nesse empate.
Não bastasse o elenco todo ter sido infectado por COVID recentemente e o já insano calendário devido a pausa da pandemia, a “cereja do bolo” foi ser submetido a jogar uma partida 48h após o término da anterior. Mas qual é o problema disso?
Estudos fisiológicos indicam que o ápice da fadiga muscular e da sensação de cansaço físico ocorre justamente 48 horas após uma partida. É quando o atleta apresenta maior queda de rendimento. Não há tempo para o cara se recuperar fisicamente.
Read 26 tweets
14 Oct
No meio de uma sequência muito intensa de jogos, o Fla conseguiu vencer mais uma. De novo contra uma equipe extremamente defensiva. Mesmo com alterações na dinâmica ofensiva, o Fla criou e viu um Tadeu fechando o gol. Vamos de fio sobre os aspectos táticos da partida.
De forma surpreendente, Dome escalou o que havia de melhor nas mãos. Nenhum jogador fora poupado. As duas únicas diferenças para o time que jogou contra o Vasco eram o retorno de Nathan e a entrada de Michael no lugar do suspenso Diego.
Apesar da manutenção do 4-2-3-1 houve alteração na dinâmica ofensiva pelo lado direito do campo. Isso porque Michael jogou no setor e Gérson foi deslocado para meia central. Desta maneira, o Fla passava a ter pontas mais agudos e de profundidade dos dois lados do campo.
Read 25 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!