Flamengo e São Paulo fizeram um jogo cheio de ingredientes. Teve gol no início, VAR, virada, confusão, pênaltis... mas a verdade é que o São Paulo foi melhor e soube explorar as falhas de um Fla que cometeu diversos erros defensivos. Individuais e coletivos. Segue o fio.
Diniz tinha alguns desfalques para montar o time. Ainda sem lateral direito de ofício, Tchê Tchê de novo quebrou galho jogando no setor. No 4-4-2 que foi a campo, Diniz deu muita liberdade para os homens de frente flutuarem, mas sempre buscando aproximação ao setor da bola.
Pelo lado do Fla, Rodrigo Caio ainda estava fora e G. Henrique e Nathan fizeram a zaga. Além disso, Dome não tinha 3 dos 4 jogadores que se revezam na posição dos dois volantes do 4-2-3-1. Essa era a grande dúvida para esse jogo: quem seria a dupla de Gérson?
João Gomes foi o escolhido. E então a dúvida passou a ser: qual dos dois faria a função do primeiro volante? Afinal, João jogava mais avançado nas divisões de base como um segundo volante, assim como Gérson costuma jogar no time principal.
Logo aos 15 segundos de jogo essa resposta ficou bem clara. Já na saída de bola, João Gomes era quem mais recuava para ajudar, mesmo sem descer no meio dos zagueiros para fazer a saída de 3, enquanto Gérson ficava em altura mais avançada no campo.
Mas o São Paulo indicava que João e todo o time do Flamengo teriam muito trabalho para fazer uma saída de bola pelo chão. Isso porque Diniz preparou uma pressão alta bem forte, impondo muita dificuldade na saída por baixo do Fla.
A saída encontrada pelo Fla foi conectar passes mais longos buscando o pivô de Pedro ou o ataque a profundidade de Bruno Henrique. Nos primeiros 5 minutos de jogo, Hugo já havia buscando esses lançamentos 3 vezes.
E na 3ª sai o gol. A jogada inicia com um lateral batido pra trás por F. Luís, que o Fla esboça sair por baixo, atraindo a pressão alta tricolor. Quando a bola volta no goleiro, Hugo faz lançamento longo que encontra a linha de defesa do SP exposta numa situação de 4x4.
Essa era a forma que o Fla encontrava para escapar da pressão alta do São Paulo, se aproveitando de uma das fragilidades do time de Diniz. É normal o São Paulo sofrer com contra-ataques, controlando mal a profundidade ao subir a pressão e deixando a linha de defesa bem exposta.
Por outro lado, com a vantagem no placar, o Fla preferia não fazer uma pressão muito alta. O bloco defensivo do Fla se postava em bloco médio e só aplicava pressão próximo a linha do meio-campo.
Mas quando pressionava era de forma desorganizada e pouco intensa. Como o São Paulo trabalhava com uma saída de bola bem sustentada, ou seja, com muitos jogadores, conseguia quebrar o primeiro bloco de marcação do Fla com muita facilidade.
Com os jogadores com liberdade para se agruparem no setor da bola, o Tricolor quase sempre estava em superioridade numérica e conseguia escapar com facilidade da marcação pouco intensa do Flamengo. E isso em todos as fases da construção, desde a saída de bola até o terço final.
Dessa forma, o São Paulo expunha um dos principais problemas desse time do Fla: a descompactação defensiva. O São Paulo povoava o entrelinhas do Fla com 2 ou 3 jogadores e se fazia valer dessa deficiência do time de Dome.
Filipe Luís se mostrou bem irritado com esse problema. Em determinado momento, quando a linha de defesa não acompanhou a subida da linha de meio-campo e prejudicou a compactação do time, o lateral gritou, gesticulou, esperneou... mas de nada adiantou.
E esse espaçamento gerava por tabela um segundo problema: a disputa da 2ª bola. Como a linha de meio do Fla estava muito longe da linha de defesa na origem do lances, por consequência, os homens de meio do Fla chegavam atrasados no rebote. O gol de empate do SP sai assim.
Logo depois do gol, aos 18’, um outro lance bem parecido deixava novamente bem claro como a segunda bola estava totalmente a feição para o São Paulo graças a descompactação defensiva do Fla. Esse problema não é novidade para Dome e voltaria a acontecer na partida.
Com a igualdade no placar, o Fla até havia melhorado no jogo, subindo mais a pressão na marcação e roubando bolas no terço final. Até que acontece o primeiro dos muitos erros individuais cometidos. B. Henrique perde o pênalti que deixaria o Fla novamente em vantagem no placar.
Mesmo com o pênalti perdido, o Fla continuava bem e criando chances. As falhas defensivas, porém, não melhoraram. Nos minutos finais do 1T, o São Paulo vira o placar num lance que o Fla perde DUAS vezes seguidas a 2ª bola. Primeiro no lançamento longo e depois no cruzamento.
É claro que há também falha individual importante de G. Henrique para defender o cruzamento, com orientação corporal falha muito bem explicada pelo @teofb no tweet abaixo. Mesmo assim, os erros coletivos não podem ser ignorados.
Na volta do intervalo, o Fla não melhora e o São Paulo passa a dominar mais claramente o jogo. Aos 12’, mais uma falha individual de G. Henrique. O zagueiro tenta cortar a bola da área de forma toda atabalhoado, comete pênalti e o São Paulo abre 3x1.
Esse era o 3º erro individual grave na partida. Mas não acabara aí. Aos 16’, após boa jogada de Gérson dentro da área, o Fla ganha mais um pênalti. Seria o gol para botar o Fla de volta no jogo. Só que não. Pedro bate mal, perde o pênalti e o psicológico do time vai pro espaço.
Não há cabeça de jogador que resista a 2 pênaltis perdidos no mesmo jogo. Ainda mais num jogo difícil e contra um adversário forte. Dome até fez modificações, trocando Vitinho por Michael, mas com o psicológico afetado, o time já estava bagunçado e não havia muito o que analisar.
Ainda deu tempo do Fla cometer mais uma falha defensiva. Isla e G. Henrique não se alinham a Nathan e F. Luís na linha de defesa e dão condições de jogo a Luciano, que faz o 4º gol e aumenta o placar. Aliás, mais um erro de GH. Partida pra esquecer do zagueiro do Fla.
O jogo do Fla foi ruim, cheio de problemas defensivos e de erros individuais. O do São Paulo, mesmo com algumas falhas defensivas, foi bem superior. Diniz soube explorar bem os defeitos do Fla e coloca o São Paulo de vez na briga pelo título do Brasileirão.
O elenco do Fla é excelente, mas R. Caio faz falta. Arão e T. Maia também. As opções ofensivas estão escassas com tantas contusões, mas os problemas defensivos, coletivos e individuais, são os mais evidentes. Dome terá trabalho para consertar isso sem tempo pra treinar.

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29 Oct
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