Em meio à tensão que vivo neste acompanhamento da apuração dos votos nos EUA, decidi fazer um fio atemporal sobre como os Fernandos desmontaram a imagem do PT em São Paulo e Belo Horizonte. Que fique claro: torço pelo PT e é por este motivo que alerto para os erros. Segue o fio
1) Fernando Pimentel ingressou na prefeitura de Belo Horizonte para se opor ao modo petista de governar e, consequentemente, parte considerável dos programas de Patrus Ananias. Logo de início, ficou famoso o seminário que planejou esta reviravolta.
2) Pimentel tinha como mote a transformação de BH em cidade global. Conceito nascido nas projeções utópicas empresarias da década de 1990, significa aglomerações urbanas que funcionam como centros de influência internacional, casos de Nova York, Tóquio, Roma, Paris, Londres...
3) Para tanto, o modelo clássico petista de inversão de prioridades (do centro para as periferias; das obras para o social) teria que ser suspenso, retornando a velha aliança entre poder público e empreiteiras. A Linha Verde foi uma dessas expressões "inovadoras"
4) A Linha Verde foi um projeto lançado em 2005 por Aécio Neves envolvendo um conjunto de obras viárias que envolveu Belo Horizonte. O discurso de Aécio era similar ao de Pimentel: "fortalecer a vocação da capital mineira para o turismo de negócios", dizia.
5) Mais à frente, Pimentel investiu numa reforma administrativa. Centralizava ainda mais o comando do governo, mas não promovia nenhum aumento na participação cidadã. À época, publiquei dois artigos no jornal O Tempo, detalhando esta intenção.
6) No campo de disputa interna, Pimentel realinhou as forças petistas. Elegeu Reginaldo Lopes e Miguel Corrêa como seus aríetes e promoveu uma "pacificação interna" com Odair Cunha, da ala católica (Renovação Carismática) do PT mineiro.
7) Este novo arranjo no PT mineiro revelou grande fome política. Reginaldo Lopes e Odair Cunha, dois deputados federais, chegaram a alimentar mais de 100 prefeituras cada um (na verdade, afirmavam que os dois tinham mais de 300 cidades em sua "carteira política").
8) Nilmário Miranda, candidato do PT à eleição de BH deste ano, não fazia parte deste "novo arranjo" interno. O grupo de Patrus se mantinha através dos laços que mantinha com o governo federal. Até que, Pimentel ganha as eleições para o governo estadual.
9) O projeto Pimentel passava tanto pela concepção gerencialista-empresarial que havia empregado na prefeitura da capital mineira, como no apadrinhamento do governo federal, agora, nas mãos de Dilma Rousseff. Os projetos apresentados exigiam recursos
10) Como sabemos, esses recursos não vieram. E, aos poucos, ficou claro que não havia Plano B. Em pouco tempo, os repasses estaduais para as prefeituras foram atrasando, assim como o pagamento dos servidores estaduais. Prefeitos e servidores públicos são bons cabos eleitorais.
11) Surpreendentemente, o que parecia ser um governo hábil em seu início, se revelou um desastre em estratégia no seu final. Justamente às vésperas das eleição estadual, Pimentel começa a atrasar tudo, até 13o salário. Nem para avisar que o gato havia subido no telhado.
12) Aí começa o fim da ascensão de Pimentel e do "novo acordo" interno. Não se tratou de ascensão e queda de apenas um governo estadual, mas de um projeto que se alinhou ao de Aécio Neves. O acordo de PT e Aécio também não era novo, vinha dos comitês "Lulécio" e "Dilmasia"
13) Fico por aqui porque meu netinho acaba de chegar. Retomo ainda nesta manhã para concluir sobre o outro problema do PT nos dias atuais: Fernando Haddad. Inté
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Retorno à análise das crises petistas abertas pelos Fernandos. No fio de hoje (mais cedo), detalhei o "novo acordo interno" forjado por Fernando Pimentel que redundou num imenso fracasso. Agora, analisarei os erros de outro Fernando, o Haddad. Este, quebrou as pernas do PT SP.
1) Fernando Haddad era uma aposta de renovação, algo extremamente necessário ao PT. Jovem, perfil classe média branca intelectualizada, contido, estilo britânico, não muito afeto às periferias, como o outro Fernando, próximo de uma agenda gerencialista-empresarial.
2) No MEC, desmontou toda tradição de proposta pedagógica progressista do país que envolve gente como Paulo Freire e Anísio Teixeira. Ao contrário, propôs a adoção das avaliações externas, refutadas por uma de suas criadoras, Diane Ravicht.
Ontem, ouvi de um amigo que chegou a um alto cargo num dos principais bancos privados do Brasil como o assédio moral diário é uma rotina de bancário, seja lá qual posto assumir. Fiquei com a impressão que os sindicatos de bancários pegam leve demais. (Segue o fio)
1) Este meu amigo relatou que ao dirigir um banco, supervisores regionais ligam diariamente pressionando por metas que, muitas vezes, já cumpriram: uma, duas, três, quatro vezes ao dia.
Não adianta o bancário retrucar dizendo que já cumpriu.
2) Se os bancos de uma região não cumpriram suas metas, a sua agência é pressionada a compensar a venda de "produtos", como títulos de capitalização (que ele sustenta que é uma loteria em que o cliente é levado a jogar sem qualquer certeza de resultado)
Bom dia. Farei um pequeno fio sobre minha fala na live da Coletiva, a candidatura da médica Sônia Lansky à Câmara Municipal de Belo Horizonte em que 9 lideranças sociais se apresentam como co-vereadores dela. Falei sobre a "nova sociedade" que necessita de uma "nova política".
1) Sobre a nova sociedade: a marca prática da nova sociedade é a provisoriedade. Aquele compromisso social e a fidelidade política do século XX para com alguma organização vem decaindo rapidamente. Agora, o avatar propicia múltiplas personalidades, dúvidas e mudanças de rumo
2) Hoje é possível deslizar na opinião a respeito de qualquer coisa podendo aceitar um argumento no grupo de whatsapp e discordar do mesmo argumento em outro. E ninguém o cobrará pela incoerência. Na ação social, temos a substituição de movimentos sociais por mobilizações sociais
Prometi, ontem, postar comentários sobre o levantamento que minha equipe fez das pesquisas de intenção de voto em capitais e cidades-polo do Nordeste, Sudeste e Sul do país. Vou postar agora. Segue o fio.
1) Primeiro, algumas advertências. Fizemos um levantamento em virtude do acesso a pesquisas de intenção de votos. A seleção de cidades-polo, portanto, não segue um critério político, mas de acesso aos dados. Em segundo lugar, não se trata de vaticínio, mas de leitura de dados
2) Comecemos pelas capitais do Nordeste. As pesquisas não indicam uma região exatamente marcada pelo voto progressista. E também não indicam uma relação com o cenário nacional ou até mesmo com o governo estadual de plantão.
Prometi um fio sobre os como os eleitores brasileiros expressam grande desencanto com a política e o Brasil e uma possível revisão em relação à aposta na renovação política. Lá vai.
1) Nas eleições municipais passadas e na eleição de 2018, houve consenso entre analistas políticos que o eleitorado brasileiro se inclinava para a renovação radical como fator decisivo para seu voto. Daí a eleição de candidatos do Partido Novo e do PSL.
2) Conduto, uma análise mais criteriosa e apurada da renovação real na Câmara de Deputados indicava um índice muito baixo. A despeito da imprensa divulgar um percentual de renovação superior a 45%, minha equipe chegou a um índice muito menor: 17%
Bom dia. Hoje, vou retomar uma tese que defende há tempos: o fim do Senado no Brasil. São muitos países que possuem sistema unicameral. Segue o fio
1) Comecemos pelos países que possuem estrutura unicameral: China, Portugal, Suécia, Finlândia, Islândia, Dinamarca, Israel, Estônia, Croácia, Cuba, Venezuela, Peru, Equador, Angola, Líbano, Grécia, Guatemala, Honduras, Turquia, Sérvia, Hungria, Coreia do Sul, Ucrânia ....
2) No sistema bicameral tupiniquim, o Senado, em especial, possui uma lógica neopatrimonialista, tal como sugere Simon Schwartzman: a existência de uma racionalidade de tipo técnica onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo ou inexistente.