Contra um CAP cheio de desfalques, o Flamengo controlou o jogo do início ao fim. Tinha tudo para ser um jogo tranquilo, mas de novo as falhas defensivas coletivas e individuais entregaram gols para um adversário que fez pouco por merecê-los. Vamos de fio tático analisando o jogo.
O time de Autuori veio no mesmo 4-2-3-1, mas com escalação bem diferente do jogo da ida. Além dos desfalques, o descanso a Márcio Azevedo e Nikão indicavam que a prioridade do CAP não era mesmo a Copa do Brasil, mas sim a fase difícil no Brasileirão.
Dome fez algumas alterações na escalação. A linha de defesa estava praticamente toda modificada. Apenas F. Luís fora mantido da última partida. No meio, Vitinho perdeu vaga e T. Maia e Arão retornam ao meio, junto a Gérson.
Com esses jogadores escalados haviam duas possibilidades de formação: 1) Manutenção do 4-2-3-1 com Maia e Arão como dupla de volantes e Gérson como meia-central ou 2) 4-3-3 com Arão como único volante entre as linhas e Gérson e Maia mais avançados.
E de cara deu pra ver que a opção escolhida foi o 4-3-3. Essa alteração no desenho tático fez o Fla se defender de forma diferente. Afinal, a forma como você ataca influencia a forma como você se defende. E o Fla precisa mesmo aprender a se defender melhor
Se no 4-2-3-1 o momento defensivo vira um 4-4-2, no 4-3-3 passa a ser um 4-1-4-1 com Arão entre as linhas. Isso minimiza o (recorrente) buraco que o Fla tem deixado entre as linhas defensivas, pois Arão passa a vigiar mais de perto os adversários que circulam nesse espaço.
A importância disso é que a linha de defesa passa a ter mais proteção, com pelo menos mais um jogador próximo a ela. Isso ficava evidente quando o Fla subia a pressão no CAP. Nesse momento, Maia e Gérson cuidavam dos volantes, É. Ribeiro e BH dos laterais e Pedro dos zagueiros.
Não havia necessidade da subida de Arão para ajudar na pressão, pois os principais articuladores da saída de bola do CAP já estavam sendo marcados. Assim, Arão ficava de olho em Lucho, que era quem buscava flutuar entre as linhas do Fla.
E no início isso funcionou muito bem. Nos primeiros 30’, o Fla tinha total controle do jogo, chegando a ter mais de 75% da posse de bola. As oportunidades eram criadas, sobretudo pelo lado direito de ataque.
Sem a figura de um meia-central mais fixo, É. Ribeiro teve ainda mais liberdade para flutuar por dentro e ajudar a atrair o CAP para o lado-esquerdo do campo, abrindo o corredor para a subida de Matheuzinho. O primeiro gol sai exatamente dessa forma.
Com a marcação do Flamengo muito bem encaixada na saída de bola, o CAP tinha muita dificuldade de sair jogando. Erik e Wellington eram vigiados de perto por Gérson e Maia e não conseguiam ajudar tanto na saída.
E essa dificuldade do Athletico pra sair jogando gera um outro assunto que é bom a gente debater. Ele ajuda a desmistificar um mito recente no futebol que é “quando sob pressão, dá um chutão pra frente que resolve”.
Pois o segundo gol do Flamengo sai justamente após um chutão do goleiro Santos. O chutão tira a bola do domínio do CAP e a recoloca em disputa. Thuler ganha a disputa aérea e 15s depois após boa trama pela direita, sai o gol do Fla. Defenda-se agora, caro amigo amante do chutão.
Mas mesmo com o jogo controlado, o Fla começava a vacilar. O CAP criou mais coragem, começou a subir a pressão e as falhas individuais do Flamengo voltaram a aparecer. Hugo entregou numa dessas vezes, mas foi salvo pelo árbitro.
Logo depois, foi a vez de Arão. Com a bola dominada, sem sofrer muita pressão, ele erra o passe que resulta no golaço de Erick. Vale a ressalva: Arão fez boa partida, ditou o balanço defensivo do time, controlou bem o espaço entrelinhas e distribui bem o jogo na saída de bola.
Mas é impressionante como o Flamengo sofre com lapsos de atenção e concentração. Dome falou sobre isso na coletiva pós-jogo, inclusive. As falhas individuais não são os únicos problemas defensivos do time, mas já são jogos em sequência entregando gols a partir delas.
Na volta do intervalo o Fla perde intensidade. O cansaço físico bate e o controle de subida de pressão de Gérson e T. Maia fica falho. Os encaixes na marcação alta deixam buracos que são facilmente encontrados pelo Athletico que conseguia passar da pressão com certa facilidade.
Com o cansaço, a recomposição defensiva também passou a ficar prejudicada. Em um dos ataques do CAP fica bem nítido que os homens de frente demoraram uma eternidade para recompor, deixando o adversário com bastante espaço para jogar na entrada da área.
Dome até tentou dar uma renovada no fôlego do time com as entradas de Michael, Lincoln, Renê e Ramon, mas não adiantou muito. Os espaços continuavam existindo.
No lance do 2º gol do CAP, muita gente foca (com razão) na sequência de falhas individuais digna dos Trapalhões. Mas esse lance evidencia também esse outro ponto que comentei da linha de meio que demora a recompor no sistema defensivo.
Essa questão física preocupa e muito. A sequência de jogos não vai ficar mais tranquila daqui pra frente. Domingo tem jogo importantíssimo pelo Brasileirão contra um dos times mais intensos do campeonato e que estará mais descansado.
No final das contas, a vitória e a classificação do Fla foram justas. O Fla foi melhor no somatório dos 180’. Mas os problemas defensivos, as falhas individuais entregando gols ao adversário e o cansaço físico continuam existindo. E o tempo pra treinar vai continuar inexistente.

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