Flamengo e Atlético-MG fazem o principal jogo da rodada neste fim de semana de Brasileirão. Mais uma vez Sampaoli credencia o clube em que trabalha ao título nacional, montando um time que é a sua cara. Vamos mergulhar no Atlético-MG de Sampaoli.
Antes de iniciar qualquer análise é importante olharmos para o contexto. E no caso do Galo, o contexto é bem favorável quando comparado aos outros postulantes ao título do Brasileirão.
Quando ainda era treinado pelo venezuelano Dudamel, o Atlético foi eliminado da Copa do Brasil e da Sulamericana, deixando o calendário apenas com o Brasileirão a ser disputado. E isso gera algumas vantagens importantes para o Atlético.
A primeira vantagem é física. Os jogadores têm mais semanas livres para descansar e chegar mais inteiros nos jogos. A segunda, tática, uma vez que há mais tempo para treinamentos, preparação e estudo do adversário. E a última, mental.
O Atlético não mais sofrerá aquele desgaste psicológico típico das competições mata-mata, nem qualquer tipo de trauma atrelado a eliminações. Apesar de extremamente negligenciado no futebol, o aspecto mental é de suma importância, sobretudo para times que buscam títulos.
Dado o contexto, vamos para dentro das 4 linhas. Sampaoli bebe muito da fonte do jogo de posição e usa diversos conceitos dessa metodologia em suas equipes. Ocupação racional dos espaços, busca por superioridade e manutenção da posse de bola são alguns desses conceitos.
Essa última, inclusive, fica fácil de enxergar quando olhamos para as estatísticas. O Atlético-MG é o time com maior percentual de posse de bola no campeonato com média de 60.9%. E isso se dá muito graças a forma como o Galo posiciona bem suas peças em campo.
Apesar de sempre mudar a escalação de acordo com o adversário, Sampaoli tem estrutura tática muito bem definida na fase de construção ofensiva. Quando com a bola, o Atlético varia o posicionamento em 3 estruturas: 2-3-5, 3-2-5 ou 3-1-5-1.
Dentro dessas estruturas, a saída de bola é talvez um dos pontos mais importantes do time. Ela pode ser com 3 zagueiros em 3+2. Pode ser um 3+2, mas com o lateral-direito ficando junto aos zagueiros. Pode ser em 2+3 ou, em casos mais extremos, um 3+1 com só um volante.
Diversas são as possibilidades para a saída de bola atleticana. Mas há uma que vem sendo utilizada com mais frequência recentemente, que é o formato em 3+2 com Guga ficando junto aos zagueiros na linha de 3, com Jair e Allan mais à frente.
Só que para essa saída de bola funcionar, muitas vezes é preciso a participação ativa do goleiro, sobretudo quando o CAM sofre pressão mais alta. Éverson tem seguido Sampaoli para onde o argentino vai aqui no Brasil, e foi contratado muito por conta do seu bom trabalho com os pés
Apesar das muitas variações na saída de bola, a linha de 5 na base da pirâmide quase nunca se desmonta. E isso parte muito do conceito de ocupação racional dos espaços do ataque posicional que Sampaoli carrega consigo.
Qual jogador vai ocupar cada posição dessa linha não importa e isso varia demais. Mas o ponto é que a linha está sempre sustentada da seguinte maneira: dois jogadores abertos dando amplitude, dois meias posicionados em zonas intermédias e um atacante centralizado.
Reparem que se olharmos para o campo a partir daquela subdivisão em quadrantes inerente ao jogo de posição, há pelo menos um jogador do Galo dentro de cada uma dessas zonas.
Com o setor ofensivo bastante povoado é possível gerar mais linhas de passe de progressão quando o time tenta penetrar a defesa adversária. Isso permite também que o time ataque a área com muitos jogadores. Não é à toa que o Atlético é o time que mais cruza no campeonato.
Na posição central dessa linha de 5, Sasha e Marrony se revezam. Nenhum dos dois tem característica de centroavante fixo, o que diz muito sobre a mobilidade que Sampaoli exige de quem joga nesse setor. Na posição dos meias, algumas variações são possíveis.
Quando entra com dois meias de ofício, Nathan e Zaracho por exemplo, eles são quem cumprem essa função. Mas por diversas vezes Sampaoli já iniciou as partidas com apenas um meia de ofício e com isso, Arana é quem preenchia o setor como meia-esquerda.
Nos extremos da linha de 5, na maioria das vezes Sampaoli usa pontas de ofício, como Keno e Savarino. Mas também usa Arana com certa frequência nessa posição dando amplitude do lado esquerdo e até, com menos frequência, Maílton do lado direito.
Olhando para essas variações na organização ofensiva do Atlético, um jogador se mostra bem versátil e importante: Guilherme Arana. Partindo sempre do posicionamento padrão de lateral, no momento ofensivo Arana já atuou de ponta, meia e volante nesse time.
E os números corroboram com a boa fase do lateral. Segundo o @SofaScoreBR, Arana é o lateral com mais chances de gol criadas no campeonato, lateral que mais contribuiu com passes decisivos e 2º com mais passes certos no terço final.
Outros dois jogadores merecem destaque individual nesse Atlético. O zagueiro Júnior Alonso que tem bom poder de desarme e demonstra muita capacidade com a bola nos pés, tendo papel importante na saída de bola do time.
E o outro, o atacante Keno. Apesar da irregularidade ele é o artilheiro do time no campeonato com 8 gols e é excelente no 1x1, sendo o 5º com melhor média de dribles por jogo. Aliás, encontrar Keno em superioridade qualitativa no 1x1 é outra característica importante do Galo.
Mas apesar de ser um time bem treinado, o Atlético é extremamente vulnerável defendendo transições. O contra-ataque tem sido a principal arma utilizada pelos adversários para bater o time mineiro. Palmeiras, Bahia e Fluminense que o digam.
Apesar de fazer uma pressão pós-perda de qualidade no campo ofensivo, o Atlético encontra muita dificuldade quando erra passes em posições mais recuadas do campo. Com muita gente subindo para ocupar o campo ofensivo, o time fica muito exposto nessas situações.
O Palmeiras, por exemplo, armou uma arapuca interessante para forçar esses erros na saída atleticana. A partir de um bloco de marcação médio, o Palmeiras variava a pressão nos jogadores abertos na saída de 3 (Alonso e Guga) e nos dois volantes (Jair e Allan).
Dessa forma, os principais articuladores da saída de bola do Galo não encontravam liberdade para trabalhar a bola. Quando recuperava a posse, o Palmeiras usava as transições em velocidade de Rony, Luiz Adriano e Wesley, pegando a defesa do CAM bastante desguarnecida.
Uma estatística interessante calculada pelo @teofb e que corrobora com essa fragilidade é que o CAM é o time que mais sofre finalizações a partir de contra-ataques. 1 a cada 5 contra-ataques sofridos resultam em chance de gol. É disparado o pior time do campeonato no quesito.
Sampaoli mais uma vez vem apresentando um excelente trabalho à frente de um clube brasileiro e de novo se coloca como postulante ao título nacional. O Atlético está longe de ser um time pronto, mas apresenta nuances táticas muito interessantes e acima da média nacional.
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Contra um CAP cheio de desfalques, o Flamengo controlou o jogo do início ao fim. Tinha tudo para ser um jogo tranquilo, mas de novo as falhas defensivas coletivas e individuais entregaram gols para um adversário que fez pouco por merecê-los. Vamos de fio tático analisando o jogo.
O time de Autuori veio no mesmo 4-2-3-1, mas com escalação bem diferente do jogo da ida. Além dos desfalques, o descanso a Márcio Azevedo e Nikão indicavam que a prioridade do CAP não era mesmo a Copa do Brasil, mas sim a fase difícil no Brasileirão.
Dome fez algumas alterações na escalação. A linha de defesa estava praticamente toda modificada. Apenas F. Luís fora mantido da última partida. No meio, Vitinho perdeu vaga e T. Maia e Arão retornam ao meio, junto a Gérson.
Flamengo e São Paulo fizeram um jogo cheio de ingredientes. Teve gol no início, VAR, virada, confusão, pênaltis... mas a verdade é que o São Paulo foi melhor e soube explorar as falhas de um Fla que cometeu diversos erros defensivos. Individuais e coletivos. Segue o fio.
Diniz tinha alguns desfalques para montar o time. Ainda sem lateral direito de ofício, Tchê Tchê de novo quebrou galho jogando no setor. No 4-4-2 que foi a campo, Diniz deu muita liberdade para os homens de frente flutuarem, mas sempre buscando aproximação ao setor da bola.
Pelo lado do Fla, Rodrigo Caio ainda estava fora e G. Henrique e Nathan fizeram a zaga. Além disso, Dome não tinha 3 dos 4 jogadores que se revezam na posição dos dois volantes do 4-2-3-1. Essa era a grande dúvida para esse jogo: quem seria a dupla de Gérson?
Foi a primeira vez que Dome disputou uma partida de mata-mata pelo Flamengo. Mesmo contra um CAP que passa situação bem delicada na temporada, algumas escolhas de Dome durante a partida indicam que ele realmente vê o mata-mata com outros olhos. Segue o fio.
A expectativa na escalação do Fla era à espera de que Dome poupasse alguns jogadores por conta da sequência pesada de jogos. E Dome poupou, mas apenas 3 jogadores. Gérson, G. Henrique e Nathan saíram. Noga e Léo Pereira receberam nova oportunidade.
O 4-2-3-1 se manteve com Vitinho novamente centralizado na linha de 3 meias, se firmando cada vez mais como reserva imediato de Arrascaeta. A dupla de volantes se repetia com Arão e T. Maia, já que ambos estão suspensos e não poderão jogar contra o São Paulo pelo Brasileirão.
Internacional e Flamengo fizeram nada mais, nada menos que o melhor jogo do campeonato. Teve de tudo. Tática, técnica, intensidade, disputa física, jogo psicológico, alterações de esquema, mudança de estratégia... Vamos trocar uma ideia sobre todas as nuances do jogo.
Com muitos desfalques, Dome tinha duas grandes questões para resolver na escalação do Flamengo. Primeiro quem seria o substituto de B. Henrique. Com muita gente fora de combate, os jogadores disponíveis com características mais próximas eram Michael e Pedro Rocha.
A segunda, qual seria a dupla de volantes. O Inter é um time muito físico e intenso e ter Thiago Maia seria fundamental para igualar essa intensidade. Em contrapartida, Arão entregaria uma distribuição de jogo na saída de bola importante para vencer a pressão alta gaúcha.
O Internacional de Eduardo Coudet é híbrido, físico, intenso e entende os momentos do jogo. Essas são algumas das características do time que o Flamengo vai enfrentar no próximo domingo valendo a liderança do Brasileirão. Vamos analisar o bom time do Inter nesse fio.
No cargo há 10 meses, Coudet carrega suas ideias de jogo desde os tempos de Rosario e Racing. A formação padrão é o 4-1-3-2 com uma linha de meias pautada pela pouca exigência criativa. Isso porque no estilo de jogo de Coudet a intensidade é mais importante que a criatividade.
No Brasil, Coudet sofre críticas por utilizar muitos volantes e alguns chegam a dizer que Coudet é retranqueiro. Pura viagem. Apesar de volantes por natureza, as funções desses meio-campistas são diferentes e ao mesmo tempo complementares.
Para o Flamengo o jogo era quase protocolar e isso permitiu que Dome poupasse vários jogadores. Mas mesmo muito mexida, a identidade tática da equipe permaneceu e foi vista na saída de bola, na ocupação racional de espaços, na bola parada... Vamos de fio tático sobre a partida.
Já classificado para as oitavas e precisando apenas de um empate para garantir o 1º lugar do grupo, Dome optou por poupar praticamente todos os jogadores disponíveis para a importante partida contra o Internacional pelo Brasileirão no domingo.
O 4-2-3-1 foi mantido e a mudança mais brusca no 11 inicial foi na posição do meia/ponta direita. Michael possui características completamente diferentes de É. Ribeiro e isso muda um pouco a dinâmica ofensiva pelo setor, afinal Michael e Matheuzinho rendem mais atacando por fora.