Bruno Henrique chegou ao Flamengo como aposta. Terminou 2019 sendo eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Em um time cheio de estrelas em grande fase, há quem diga que foi o jogador mais importante do ano. De fato, não é nenhum absurdo.
Segue o fio aí…
Gerson ganhou o apelido de “coringa”, pela versatilidade demonstrada logo nos primeiros jogos, mas talvez a alcunha caísse ainda melhor em Bruno Henrique. Com Jorge Jesus, o atacante atuou consistentemente em cinco posições diferentes. Foi bem em todas!
O Mister variava bastante as formações entre os jogos e também dentro das partidas. Era comum começar com uma estrutura e mudar — às vezes mais de uma vez — o posicionamento durante os 90 minutos, mesmo sem substituições. BH era fundamental para isso.
Ao longo tempo — e em especial após a saída de Cuellar —, duas formações foram se consolidando como as principais do time. Em praticamente todos os jogos, o Flamengo de JJ variava entre as duas.
A primeira, mais importante e mais famosa, era o 4-4-2.
Nessa formação, normalmente Bruno Henrique jogava na frente, em geral ao lado de Gabigol (mas também com Reinier, Lincoln ou até Berrío quando necessário).
E os dois pareciam feitos um para o outro.
Foi jogando assim que a dupla BH-Gabigol conquistou o imaginário do país. As duplas de ataque se tornaram raras por aqui, então esse sucesso avassalador foi ainda mais gostoso de acompanhar. Dediquei algumas páginas do meu livro para falar sobre isso...
Mas, ainda no 4-4-2, JJ tinha uma variação. Colocava Lincoln ou Reinier na frente ao lado de Gabigol e puxava Bruno Henrique para a esquerda do meio-campo, onde normalmente jogava Arrascaeta (ou Vitinho).
Como é um jogador mais agudo, o camisa 27 mudava a dinâmica daquele lado. Era uma variação para momentos específicos.
BH jogou assim no fim do jogo contra o Botafogo no Engenhão (
Em 2020, JJ parecia querer colocar o plano em prática mais vezes e montou o elenco para isso. Pedro entrava ao lado de Gabigol e BH ia para o lado esquerdo do 4-4-2. Fez isso em jogos do Carioca (Resende e Madureira, por exemplo) e no 3x0 contra o Barcelona pela Libertadores.
A segunda formação de JJ era o 4-2-3-1. Na esmagadora maioria dos jogos, o Flamengo passava pelo 4-2-3-1 em algum momento.
Em quase todos os jogos eliminatórios, inclusive, o time começava jogando assim e passou ao 4-4-2 depois de um tempo.
Quando o Flamengo não tinha Gabigol, JJ às vezes optava por essa formação com Bruno Henrique como centroavante. Opção quase impensável no início do ano e criticada quando utilizada por Abel (que deslocava Gabigol para a direita), mas que deu certo com os ajustes necessários.
BH jogou assim, por exemplo, contra o Corinthians e fez três gols (
Já em 2020, com Gabigol suspenso no primeiro jogo da Supercopa contra o IDV na altitude, o Mister também usou BH como centroavante único, mas a lesão dele no lance do primeiro gol paralisou os planos de evolução e travou um pouco as variações táticas planejadas.
A chave para entender o 4-2-3-1 de Jorge Jesus, no entanto, é outro jogador: Everton Ribeiro.
Quando usava a formação, o Mister sempre tinha o camisa 7 como meia centralizado pela sua capacidade de ler e organizar o jogo.
(Com Domenec, Arrascaeta joga centralizado no 4-2-3-1, faz uma função mais de meia-atacante do que de organizador e Everton Ribeiro segue pelo lado direito)
Ter Everton centralizado significava que Arrascaeta e Bruno Henrique jogariam como meias (ou pontas) pelos lados.
Porém, como os dois preferem partir pelo lado esquerdo, um deles teria que ser levemente sacrificado.
Quem? Dependia do jogo, do plano e do adversário.
BH começou pela direita contra o Vasco em Brasília (
Porém, como quem jogava pela direita acaba sendo um pouco sacrificado, suas atuações mais marcantes no 4-2-3-1 foram pelo lado esquerdo.
(O mesmo pode ser dito sobre Arrascaeta. Poucos se lembram das vezes que ele jogou pelo lado direito desse 4-2-3-1, mas foram muitas)
Algumas realmente grudam na memória. Como não lembrar do camisa 27 dando um calor em Alexander-Arnolds, melhor lateral-direito do mundo, na final do Mundial?
Foi o melhor em campo pelo Flamengo — e não foi por acaso.
No momento, Bruno Henrique não vem jogando seu melhor futebol (mesmo tendo marcado 3 gols nos últimos 5 jogos que disputou) e precisa voltar à grande fase porque é importante demais. Para além disso, precisa ser valorizado por tudo que sabe fazer em campo.
Além da capacidade física extraordinária e do refinamento técnico trazido por JJ, uma característica subestimada de Bruno Henrique é a influência tática. Sua versatilidade permite ao Flamengo jogar de diferentes formas, dependendo do que o jogo pede.
No fim das contas, BH não foi o melhor jogador do Brasileirão apenas pelas assistências e gols. Essa qualidade de adaptação quase indetectável faz dele um “coringa invisível”.
Não apenas um cara que joga bem e é decisivo, mas que ajuda (e muito!) os outros a jogarem melhor.
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Hoje o Flamengo pode ser resumido em uma palavra: erro.
Erro de escalação, de estratégia, de preparação mental, erro técnico, tático, até físico. Erro individual e erro coletivo.
Tudo, absolutamente tudo, foi errado. Parece que não aprendemos nenhuma lição nas últimas semanas.
É até fácil falar depois que deu errado. Mas mesmo voltando ao início, tentando entender o processo de decisão para chegar no jogo, nada faz sentido.
Domenec insistiu em uma escolha impopular: manteve Gustavo Henrique na zaga.
Dá pra dizer que ninguém mais faria isso, já que o zagueiro vem muito mal, errando tudo, falhou feio nos dois últimos jogos decisivos e psicologicamente parece não estar aguentando o rojão.
Sinceramente, não gosto desse "assunto do momento" nas transmissões. Acaba servindo apenas como megafone para a toxicidade das redes sociais. E nem é contínuo, algo sempre visível.
Alguém escolhe o momento de pinçar o assunto.
Acho que nunca vi nada positivo destacado ali.
Não acho que os "assuntos" sejam simplesmente inventados pelos jornalistas. Mas acho sim que ajudam a montar a narrativa do jogo e, normalmente, essa narrativa vem nascendo mais por sentimentos negativos do que qualquer outra coisa.
Me parece uma escolha pelo sensacionalismo
Além disso, a interpretação do "assunto" acaba sendo definida na cabine de transmissão. Se o goleiro toma um frango, o nome dele aparece nos "assuntos do momento". Não importa se, na verdade, a torcida estiver em peso o perdoando pelo erro — a impressão será de massacre coletivo.
Já falei muito sobre o jogo de ontem lá no Telegram. Infelizmente não terei tempo para escrever aqui.
O resumo é: como sempre, pontos positivos e pontos negativos. Mesmo em jogos seguros, o Flamengo ainda tem falhas importantes que dificultam muito o jogo.
Obviamente, a grande preocupação continua sendo a defesa. Acho que um bom resumo é o último texto que publiquei antes do jogo.
Ontem, especialmente no primeiro tempo, a defesa até ficou menos exposta. Mas os erros de saída de bola levaram muito perigo...
A defesa do Flamengo vem mal e isso não é segredo para ninguém. Um time que pretende ser campeão não pode levar 25 gols em 19 jogos. Há muitas falhas individuais e muitos problemas coletivos. O sistema defensivo não se acerta.
Por quê?
Vamos a um breve mergulho...
É impossível desconsiderar o contexto atípico dessa temporada. Já sabíamos que seria um processo difícil, com pouco tempo, muitos jogos, muitas lesões, convocações, covid, verão e ausência de torcida. Uma receita inédita.
Isso tudo tornou o Campeonato Brasileiro, que já é meio maluco por natureza, ainda mais aleatório. Não parece ser coincidência que nesse ano tenhamos o “campeão do primeiro turno” com a menor pontuação neste formato de torneio.
Criticar as atuações individuais hoje é chover no molhado. Jogo terrível do Flamengo em todos os aspectos. Além dos muitos erros, um tanto de azar e coisas inexplicáveis como dois pênaltis MUITO mal batidos e assistência de goleiro.
Na verdade, acho que dá pra dividir o jogo em quatro momentos distintos.
Nos primeiros 15 minutos, o Flamengo foi superior, conseguiu manter a bola, controlar o São Paulo e variar a saída curta e longa. Abriu o placar merecidamente e continuou fazendo seu jogo...
Mesmo assim, um problema persistia. O mesmo problema de sempre. A compactação defensiva, é claro.
Quando não tinha a bola, o time subia para pressionar, mas a defesa não acompanhava ou até recuava. Ficava, como tem ficado, um buraco. A questão era o São Paulo saber explorar.
É claro que o pênalti consagra o goleiro, é a cereja do bolo.
Mas essa defesa aqui é a mais impressionante. É o que define Neneca com perfeição.
A primeira defesa é incrível. O reflexo, seriedade, precisão e explosão pro rebote são de outro mundo!
A maneira como ele reajusta constantemente o posicionamento é fenomenal. A cada movimento de um jogador do CAP, se recoloca e prepara para explodir.
Compare com Lomba. O goleiro colorado só se prepara para defender no último momento. Resultado: nem pula
Ele é muito grande, mas parece um grande boxeador, sempre com um jogo de pernas afiado, sempre calibrando a distância e perfeitamente atento a cada pequeno movimento do adversário. Tem um tempo de reação absurdo por isso.
Até aqui, uma trajetória absolutamente impressionante!