A novidade nesta eleição em Belo Horizonte: a Coletiva
Na eleição passada, várias candidaturas identitárias do PSOL lançaram a ideia das candidaturas coletivas. A novidade dialogava com a experiência política de 2013: liderança não é algo individual, mas coletivo. Segue o fio
1) Havia, ali, uma simbiose entre a democracia representativa – aquela em que o cidadão vota em alguém que o representará no campo institucional – e a democracia participativa – em que vários coletivos e cidadãos se inserem nas estruturas de poder público
2) Em 2016, a campanha coletiva lançava várias candidaturas a partir de uma ideia de unidade, de projeto comum ao redor da sigla MUITAS. A proposta elegeu Áurea Carolina e Cida Falabella e acabou gerando um gabinete unificado na Câmara de Vereadores: a Gabinetona
3) A Gabinetona não era propriamente uma ideia original. Nos primeiros mandatos parlamentares do PT, ao longo dos anos 1980, os mandatos eram populares e todas as decisões eram tomadas em plenárias de apoiadores e colaboradores daquele parlamentar eleito.
4) A proposta da MUITAS tinha um ponto de estrangulamento: o comunitarismo fechado do identitarismo. O comunitarismo cria um espírito de corpo e acaba criando uma identidade única, uma afetividade corporativista. Votar em uma ou outra significava votar numa única visão de mundo
5) Agora, topamos com mais um avanço nas eleições parlamentares de BH que supera o ponto de estrangulamento de 2016: a Coletiva. O que há de novo nesta proposta que se enreda a partir da candidatura da médica Sônia Lansky, do PT? As covereanças
6) A candidatura oficial é de Sônia, mas ela se apresenta como um mosaico de 10 covereadores (onde a dela é mais uma). Aqui temos uma radicalidade democrática que articula as individualidades e diversas pautas com um projeto comum de cidade.
7) Avanço um pouco mais: a promessa de representação de múltiplos interesses numa casa parlamentar só tem sentido se expressa este mosaico de rostos, de inserções sociais, de pautas.
8) É comum se formar bloco de parlamentares com um projeto convergente. Ora, como o eleitor pode garantir que seu interesse e visão de mundo estará representado num bloco que ele não sabe que se formará?
9) Se voto numa pessoa como representante, mas não tenho totalmente nítida a agenda de seus interesses político-ideológicos, posso ser surpreendido depois de sua posse. Essa é uma das insuficiências do que se denomina em política de “representação delegada”
10) Representação delegada é aquela em que o candidato se identifica expressamente com os interesses de uma fatia do eleitorado. Nas eleições para vereadores em nosso país, este é um problema permanente.
11) Na Europa, como na França que é parlamentarista, este problema é superado pela eleição “em lista”, ou seja, o eleitor vota numa lista de candidatos por partido e não exatamente numa única pessoa. Assim, o projeto estratégico, coletivo e ideológico fica nítido.
12) Numa candidatura múltipla, como a da Coletiva de BH, envolvendo várias lideranças com inserções territoriais e de várias lutas por direitos distintos, saberemos exatamente qual é a extensão da agenda do candidato. Trata-se de um desenho de ocupação e de lutas sociais em BH
13) Assim, se o eleitor votar em Sônia Lanksy, médica, engajada na luta contra os elevados índices de mortalidade materna e neonatal em Belo Horizonte, também estará votando na agenda de músicos e escritores negros da cidade (caso do covereador Rubinho Giaquinto)
14) Votando na Coletiva, estará votando em professores da rede municipal de ensino (caso da covereadora Rúbia Ferreira), de estudantes e feministas (caso da covereadora Stella Gontijo), de psicólogos e lésbicas (caso da covereadora Lara Sousa)
15) Estará votando em profissionais da saúde mental (caso da covereadora Lígia de Laurentis), em conselheiros municipais (casos de Dehonara Silveira, Juliana do Carmo e Sorângela de Souza) e em militantes da luta pelo transporte público (caso do covereador André Xavier).
16) Todos nós aguardamos a vez do Brasil ingressar na onda do “efeito dominó” que toma corpo no nosso continente a partir da volta dos justicialistas ao governo da Argentina, do MAS ao poder na Bolívia, a resposta da esquerda chilena no recente plebiscito e à derrota de Trump
17) Aguardamos um sopro de ousadia no campo progressista e, em especial, na esquerda brasileira. Uma ousadia que inove, que enfrente a mesmice do sistema partidário brasileiro, que avance na política nacional e abra o sistema partidário ao controle social cidadão.
18) Percebo que a proposta da Coletiva aqui em Belo Horizonte aponta para esta ousadia tão aguardada por nós. E se alinha aos princípios libertários que geraram a brisa democratizante dos anos 1980 e que reapareceram, ainda mais joviais, durante as jornadas de 2013.
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Boa tarde. Vou socializar cinco fotos (em um mini fio) da matéria da Carta Capital onde faço uma análise da encruzilhada da eleição paulistana para o PT e o PSOL
Aqui, as opiniões do Valter Pomar, as minhas e as de Sérgio Braga
Nesta penúltima foto, o texto ampliado para facilitar a vida de gente mais idosa como eu....
Retorno à análise das crises petistas abertas pelos Fernandos. No fio de hoje (mais cedo), detalhei o "novo acordo interno" forjado por Fernando Pimentel que redundou num imenso fracasso. Agora, analisarei os erros de outro Fernando, o Haddad. Este, quebrou as pernas do PT SP.
1) Fernando Haddad era uma aposta de renovação, algo extremamente necessário ao PT. Jovem, perfil classe média branca intelectualizada, contido, estilo britânico, não muito afeto às periferias, como o outro Fernando, próximo de uma agenda gerencialista-empresarial.
2) No MEC, desmontou toda tradição de proposta pedagógica progressista do país que envolve gente como Paulo Freire e Anísio Teixeira. Ao contrário, propôs a adoção das avaliações externas, refutadas por uma de suas criadoras, Diane Ravicht.
Em meio à tensão que vivo neste acompanhamento da apuração dos votos nos EUA, decidi fazer um fio atemporal sobre como os Fernandos desmontaram a imagem do PT em São Paulo e Belo Horizonte. Que fique claro: torço pelo PT e é por este motivo que alerto para os erros. Segue o fio
1) Fernando Pimentel ingressou na prefeitura de Belo Horizonte para se opor ao modo petista de governar e, consequentemente, parte considerável dos programas de Patrus Ananias. Logo de início, ficou famoso o seminário que planejou esta reviravolta.
2) Pimentel tinha como mote a transformação de BH em cidade global. Conceito nascido nas projeções utópicas empresarias da década de 1990, significa aglomerações urbanas que funcionam como centros de influência internacional, casos de Nova York, Tóquio, Roma, Paris, Londres...
Ontem, ouvi de um amigo que chegou a um alto cargo num dos principais bancos privados do Brasil como o assédio moral diário é uma rotina de bancário, seja lá qual posto assumir. Fiquei com a impressão que os sindicatos de bancários pegam leve demais. (Segue o fio)
1) Este meu amigo relatou que ao dirigir um banco, supervisores regionais ligam diariamente pressionando por metas que, muitas vezes, já cumpriram: uma, duas, três, quatro vezes ao dia.
Não adianta o bancário retrucar dizendo que já cumpriu.
2) Se os bancos de uma região não cumpriram suas metas, a sua agência é pressionada a compensar a venda de "produtos", como títulos de capitalização (que ele sustenta que é uma loteria em que o cliente é levado a jogar sem qualquer certeza de resultado)
Bom dia. Farei um pequeno fio sobre minha fala na live da Coletiva, a candidatura da médica Sônia Lansky à Câmara Municipal de Belo Horizonte em que 9 lideranças sociais se apresentam como co-vereadores dela. Falei sobre a "nova sociedade" que necessita de uma "nova política".
1) Sobre a nova sociedade: a marca prática da nova sociedade é a provisoriedade. Aquele compromisso social e a fidelidade política do século XX para com alguma organização vem decaindo rapidamente. Agora, o avatar propicia múltiplas personalidades, dúvidas e mudanças de rumo
2) Hoje é possível deslizar na opinião a respeito de qualquer coisa podendo aceitar um argumento no grupo de whatsapp e discordar do mesmo argumento em outro. E ninguém o cobrará pela incoerência. Na ação social, temos a substituição de movimentos sociais por mobilizações sociais
Prometi, ontem, postar comentários sobre o levantamento que minha equipe fez das pesquisas de intenção de voto em capitais e cidades-polo do Nordeste, Sudeste e Sul do país. Vou postar agora. Segue o fio.
1) Primeiro, algumas advertências. Fizemos um levantamento em virtude do acesso a pesquisas de intenção de votos. A seleção de cidades-polo, portanto, não segue um critério político, mas de acesso aos dados. Em segundo lugar, não se trata de vaticínio, mas de leitura de dados
2) Comecemos pelas capitais do Nordeste. As pesquisas não indicam uma região exatamente marcada pelo voto progressista. E também não indicam uma relação com o cenário nacional ou até mesmo com o governo estadual de plantão.