Na semifinal da Copa de 1990, as duas últimas campeãs se enfrentavam. O maior desafio da Itália era parar o gênio Maradona, mas pelo menos tinha a vantagem de jogar em casa... Ou melhor... Será?
Os melhores jogadores e os melhores times do mundo estavam na Serie A. Naquela temporada, o Milan de Arrigo Sacchi encantava o mundo, revolucionava o futebol e vencia a Copa dos Campeões da Europa pela segunda vez consecutiva.
A Juventus conquistava a Copa da UEFA, enquanto a Sampdoria vencia a Recopa Europeia.
A Internazionale, mesmo sem títulos, tinha um timaço — e havia vencido a temporada anterior com sobras.
Um jovem Roberto Baggio despontava na Fiorentina...
Mas, logo antes da Copa, quem levantou o Scudetto foi o Napoli de Diego Maradona.
O segundo título em quatro anos. O segundo da história do clube e, até aqui, o último.
A vitória do sul humilhado sobre o norte arrogante.
Em Nápoles, aquela cidade aos pés do Vesúvio, Maradona explodiu como um verdadeiro vulcão. Era mais do que o melhor jogador, mais do que o craque, o camisa 10. Se tornou um Deus, símbolo maior da região, da cultura e de seu povo.
Tudo girava ao redor de Diego.
Eduardo Galeano narra: "Nas ruas vendiam-se imagens da divindade de calções, iluminada pela coroa da virgem ou envolta no manto sagrado do santo que sangra a cada seis meses e também vendiam-se ataúdes dos times do norte e garrafinhas com lágrimas de Silvio Berlusconi. (...)
"Os meninos e os cachorros usavam perucas de Maradona. Havia uma bola ao pé da estátua de Dante e o tritão da fonte vestia a camisa azul do Napoli."
Veio a Copa. A Itália queria reafirmar a todos o seu status no mundo do futebol e, para isso, construiu dois novos estádios, reformou dez e organizou um torneio impecável, que nem os incidentes de Hooliganismo na Sardenha ou a péssima média de gols poderia manchar.
E a forte seleção italiana também veio preparada para ser impecável dentro de campo. Com Totò Schillaci brilhando na frente e Franco Baresi comandando tudo lá atrás, chegou à semifinal sem tomar nem um único gol em cinco jogos disputados.
Já a Argentina, atual campeã, perdeu o jogo de abertura para Camarões, em uma das maiores surpresas da história das Copas. Só passou da primeira fase em terceiro lugar, mas cresceu depois de eliminar o Brasil nas oitavas. Passou pela Iugoslávia nos pênaltis e enfrentaria a Itália
Havia apenas uma questão... digamos assim... logística.
Para simplificar as coisas, assim como foi na Copa de 82 na Espanha, os grupos jogavam em apenas duas cidades próximas.
A seleção italiana, dona da casa, jogou todos os seus cinco jogos no Estádio Olímpico de Roma.
A Argentina havia viajado um pouco mais, mas os dois jogos finais da fase de grupo, disputados em Nápoles, deram ao público o gostinho de ver seu Deus vestindo a camisa albiceleste.
Por um capricho dos deuses do futebol, é claro, a semifinal seria disputada justamente lá.
Esperto, Maradona logo disparou: “Durante 364 dias do ano vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros em seu próprio e, hoje, precisam fazer o que eles querem, torcer pela seleção italiana. Eu, por outro lado, sou Napolitano os 365 dias.”
O clima no estádio era diferente.
Giovanni Betta, reitor da Università di Cassino e del Lazio Meridionale, deixa claro: "No Estádio San Paolo, realmente havia uma situação muito complicada. Seguramente mais da metade do estádio torcia mais para Maradona do que pela Itália"
O jornalista Gianni Bondini não tem dúvidas: "O nervosismo foi um fator importante. O nervosismo de não ter a torcida que te empurra."
O próprio Schilaci, artilheiro da seleção, admite: "Naturalmente, os torcedores estavam divididos. Parte torcia pela Itália e parte torcia por Maradona. Se o jogo fosse em Roma, acho que teria sido diferente. Infelizmente, tivemos o azar de jogar contra a Argentina em Nápoles."
Maradona havia conquistado os corações napolitanos de tal forma, havia se tornado um representante tão fiel daquele povo, que conseguiu — mesmo em uma atuação discreta dentro de campo — ser decisivo para levar a Argentina à final.
No apito final, 1x1 no placar e a agonia dos pênaltis, elevada à milésima potência por todo o clima fora de campo.
Ali, o herói foi outro. Sergio Goycochea chegou a Copa como goleiro reserva, mas ganhou a vaga depois que o titular Pumpido quebrou a perna logo no segundo jogo.
Nas quartas contra a Iugoslávia, Maradona perdeu seu pênalti, mas o goleiro defendeu dois e garantiu a classificação.
Na semi, contra a Itália, Goycochea voltou a defender duas cobranças e levou a Argentina à final.
Maradona converteu o seu, mas isso nem era o mais importante. Sua parte já estava feita.
Maradona nunca foi um sujeito fácil de engolir. A idolatria por ele, muito menos. Pelo pecado de se tornar Deus encarnado em uma cidade, nunca foi perdoado pelos italianos do norte, que comemoraram o título da arquirrival Alemanha como se fosse deles.
Descanse em paz!
Ah, claro, depois de ontem, foi definido que o Estádio San Paolo passará a se chamar Estádio Diego Maradona!
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O Flamengo foi à Argentina, empatou com o Racing e voltou para casa com um resultado vantajoso, porém perigoso.
Um jogo de altos e baixos, alguns momentos de perrengue e escolhas curiosas. Quero mergulhar justamente nas escolhas de Rogério Ceni!
Olhar para as escolhas de um treinador pode ser mais complicado do que parece. Segundo o @luis_cristovao, sofremos de uma doença coletiva chamada “treinadorismo”, que nos leva a analisar cada decisão unicamente a partir das nossas próprias ideias.
O ano era 1982. O governo militar argentino estava em maus lençóis. O modelo econômico dos anos 70 havia se esgotado no início dos anos 80. O país estava mergulhado em uma profunda recessão, a inflação anual ultrapassava a marca de 90% e a classe média empobrecia rapidamente.
O que um governo ultranacionalista pode fazer diante de tamanha crise? Declarar uma guerra. Foi assim que a Argentina decidiu retomar as Ilhas Malvinas do controle britânico.
Mas os generais subestimaram a situação e o tiro saiu pela culatra. Afinal, mesmo com seu poderio militar concentrado a meio mundo de distância, o Reino Unido não tinha o menor interesse em perder um confronto bélico no auge da Guerra Fria e em ano eleitoral.
Peço licença para contar uma pequena história, fazer uma indicação e terminar com um pedido.
No final, claro, tudo tem a ver com futebol.
Em um cantinho da Costa Verde, perto de Paraty, há uma comunidade caiçara cheia de gente de verdade. Gente simples, que vive da pesca, do turismo e das conexões humanas...
Ponta Negra é um lugar mágico.
Há dez anos, o Coletivo João do Rio organiza uma mostra de cinema lá e leva, por alguns dias, filmes nacionais à comunidade que não tinha luz elétrica até 2018.
Quem já pisou no Maracanã conhece a magia do momento em que milhares de corações passam a bater no mesmo ritmo.
Desfazer-se na multidão, deixar de ser um e passar a ser muitos. Talvez essa seja a experiência mais transcendental — e ao mesmo tempo mais humana — que existe.
Há exatamente um ano, vivemos a versão mais radical dessa experiência. Por um segundo, quarenta milhões de corações não apenas bateram em sintonia: simplesmente pararam de bater.
O tempo congelou. Por um segundo, a Terra ficou em silêncio.
Meu livro começa neste exato momento.
Dizem que a vida passa como um filme na nossa frente quando vivemos experiências extremas.
Quando a bola quicou, cada rubro-negro vivo viu o filme de uma vida.
Quando a gente fala de movimentos coletivos, jogar em conjunto, é sobre isso...
Tecnicamente falando, o Inter tem seis jogadores atrás da linha da bola, mas Marcos Paulo tem DUAS excelentes opções de passe para sair na cara do gol.
Mas você sabe como a jogada chegou até aqui?
Sete ou oito segundos antes, a jogada era essa: tiro de meta curto, Fluminense fazendo uma meia-pressão, o chutão sai, mas o domínio é ruim e a bola fica com o Fluminense.
Danilo Barcelos acelera o passe. Zé Gabriel, que deu o chutão, já está colado em Marcos Paulo, mas só agora Cuesta começa a correr para frente, tentando desesperadamente achatar o campo... Lá do outro lado, Uendel ainda não começou a reagrupar...
O FLA DE CENI - PARTE 1: As comparações com o Fortaleza
Rogério Ceni chega ao Flamengo com o respeito conquistado no seu bom trabalho no Fortaleza. Lá, ajudou a reestruturar o clube, chegou a mais de 150 jogos e se tornou ídolo.
O que essa passagem tem a nos dizer?
A primeira conclusão parece óbvia. Afinal, o grande problema do Flamengo hoje é defensivo e ninguém nega