Um roteiro tão bizarro que chega a ser angustiantemente previsível.
Uma noite muito triste. Aliás, mais uma.
Na Argentina, oscilou, teve altos e baixos, passou perrengue no começo dos dois tempos, mas conseguiu empatar logo depois de tomar o gol e levou o 1x1 até o fim.
O Racing foi cansando e o Flamengo cresceu muito na segunda metade do segundo tempo.
Faltando 20 min de jogo, o time já controlava a posse e ditava o ritmo. Preocupado, Beccacece recuou o time, fez uma substituição para fechar o lado direito... Parecia que a virada viria naturalmente.
Até que Thuler foi expulso e tudo mudou.
Os minutos finais foram de sufoco.
No jogo de volta, colocou pressão desde o início. Perdeu uma chance dentro da pequena área com menos de 5 minutos e controlou todos os aspectos do jogo no primeiro tempo.
O empate sem gols na altura do intervalo acabou até sendo "injusto", se é que isso existe no futebol.
Voltou para o segundo tempo da mesma forma.
Beccacece fez um esforço enorme para bloquear o lado direito rubro-negro e foi bem sucedido: Everton e Isla tiveram um jogo discreto. Mesmo assim, o Fla mandava no jogo e de vez em quando criava uma ótima chance.
Parecia que a vitória viria naturalmente.
Até que Rodrigo Caio foi expulso e tudo mudou.
Para completar, o time perdeu completamente a concentração por um instante e tomou um gol absurdo logo depois da expulsão. Mais uma falha bizarra em um momento decisivo.
O domínio também tem a ver com a estratégia do Racing, claro. Beccacece veio mais cauteloso e acabou dando campo para o Fla se impor. Mesmo assim, é inegável que o Fla se impôs.
O time argentino não fez nada no jogo. Só ganhou uma chance de presente e botou no barbante.
Mas é inacreditável que o time tenha, em dois jogos seguidos, um zagueiro expulso de maneira completamente desnecessária em um momento tão crucial — e justamente quando o time era melhor!
Também é inacreditável que um time de alto nível tenha lapsos de concentração tão grandes e falhe miseravelmente em tantos lances decisivos — tanto atrás quanto na frente.
Vitinho e Gustavo Henrique, por exemplo, até fizeram um bom jogo no geral, mas saíram como vilões (mais uma vez) pelas falhas capitais.
Rodrigo Caio vinha mostrando que ele faz a diferença na defesa, mas foi expulso sem a menor necessidade. Colocou tudo a perder em um lance.
Jogar bem não é perfumaria, é o primeiro passo para vencer. Mas é preciso algo a mais. O futebol é o jogo de uma bola, e o Flamengo não pode se dar ao luxo de errar tantas vezes a sua "uma bola" em 90 minutos.
É realmente difícil de explicar. Olhando com distanciamento, é um roteiro que parece atípico, até azarado, mas a verdade é que vem soando familiar para qualquer rubro-negro.
Só nos resta juntar os cacos e tentar reencontrar esse "algo a mais". Não vai ser fácil...
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O Flamengo foi à Argentina, empatou com o Racing e voltou para casa com um resultado vantajoso, porém perigoso.
Um jogo de altos e baixos, alguns momentos de perrengue e escolhas curiosas. Quero mergulhar justamente nas escolhas de Rogério Ceni!
Olhar para as escolhas de um treinador pode ser mais complicado do que parece. Segundo o @luis_cristovao, sofremos de uma doença coletiva chamada “treinadorismo”, que nos leva a analisar cada decisão unicamente a partir das nossas próprias ideias.
Na semifinal da Copa de 1990, as duas últimas campeãs se enfrentavam. O maior desafio da Itália era parar o gênio Maradona, mas pelo menos tinha a vantagem de jogar em casa... Ou melhor... Será?
Os melhores jogadores e os melhores times do mundo estavam na Serie A. Naquela temporada, o Milan de Arrigo Sacchi encantava o mundo, revolucionava o futebol e vencia a Copa dos Campeões da Europa pela segunda vez consecutiva.
A Juventus conquistava a Copa da UEFA, enquanto a Sampdoria vencia a Recopa Europeia.
A Internazionale, mesmo sem títulos, tinha um timaço — e havia vencido a temporada anterior com sobras.
Um jovem Roberto Baggio despontava na Fiorentina...
O ano era 1982. O governo militar argentino estava em maus lençóis. O modelo econômico dos anos 70 havia se esgotado no início dos anos 80. O país estava mergulhado em uma profunda recessão, a inflação anual ultrapassava a marca de 90% e a classe média empobrecia rapidamente.
O que um governo ultranacionalista pode fazer diante de tamanha crise? Declarar uma guerra. Foi assim que a Argentina decidiu retomar as Ilhas Malvinas do controle britânico.
Mas os generais subestimaram a situação e o tiro saiu pela culatra. Afinal, mesmo com seu poderio militar concentrado a meio mundo de distância, o Reino Unido não tinha o menor interesse em perder um confronto bélico no auge da Guerra Fria e em ano eleitoral.
Peço licença para contar uma pequena história, fazer uma indicação e terminar com um pedido.
No final, claro, tudo tem a ver com futebol.
Em um cantinho da Costa Verde, perto de Paraty, há uma comunidade caiçara cheia de gente de verdade. Gente simples, que vive da pesca, do turismo e das conexões humanas...
Ponta Negra é um lugar mágico.
Há dez anos, o Coletivo João do Rio organiza uma mostra de cinema lá e leva, por alguns dias, filmes nacionais à comunidade que não tinha luz elétrica até 2018.
Quem já pisou no Maracanã conhece a magia do momento em que milhares de corações passam a bater no mesmo ritmo.
Desfazer-se na multidão, deixar de ser um e passar a ser muitos. Talvez essa seja a experiência mais transcendental — e ao mesmo tempo mais humana — que existe.
Há exatamente um ano, vivemos a versão mais radical dessa experiência. Por um segundo, quarenta milhões de corações não apenas bateram em sintonia: simplesmente pararam de bater.
O tempo congelou. Por um segundo, a Terra ficou em silêncio.
Meu livro começa neste exato momento.
Dizem que a vida passa como um filme na nossa frente quando vivemos experiências extremas.
Quando a bola quicou, cada rubro-negro vivo viu o filme de uma vida.
Quando a gente fala de movimentos coletivos, jogar em conjunto, é sobre isso...
Tecnicamente falando, o Inter tem seis jogadores atrás da linha da bola, mas Marcos Paulo tem DUAS excelentes opções de passe para sair na cara do gol.
Mas você sabe como a jogada chegou até aqui?
Sete ou oito segundos antes, a jogada era essa: tiro de meta curto, Fluminense fazendo uma meia-pressão, o chutão sai, mas o domínio é ruim e a bola fica com o Fluminense.
Danilo Barcelos acelera o passe. Zé Gabriel, que deu o chutão, já está colado em Marcos Paulo, mas só agora Cuesta começa a correr para frente, tentando desesperadamente achatar o campo... Lá do outro lado, Uendel ainda não começou a reagrupar...