Há sinais de uma disputa importante que se insinua no interior do PT. Existem alguns polos em disputa. Mas, o foco geral é com as direções atuais, lideradas pela corrente majoritária: a CNB. Segue um pequeno fio
1) Muitas movimentações internas já ocorriam no PT quando o desastre eleitoral se prenunciava. Alguns lideranças diziam que preferiam aguardar o final das eleições para não serem acusados de contribuir para a derrota eleitoral. Mas, foi Genoíno que saiu à frente
3) Genoíno mira na recente fala do ex-governador Jacques Wagner: "Esse pessoal do PT que quer aposentar o Lula, é para poder preparar o caminho para um grande acordo. Por exemplo: faz um acordo no Congresso Nacional para que o país tenha um Banco Central independente”
5) A burocracia e líderes da corrente majoritária do PT se defendem. Não consegue entabular argumentos coerentes ou minimamente profundos. Reproduzem uma leitura matemática das eleições em que a derrota evidente é apresentada como vitória
6) Em Belo Horizonte, o ex-candidato a prefeito, Nilmário Miranda sugere que "Estávamos apanhando nas cordas. Agora estamos reagindo perto do centro do ringue. "
7) Avaliações de quem se acostumou a sustentar um clima de euforia entre militantes, sem muito compromisso com uma leitura crítica ou com a necessária correção de rumos. A corrente majoritária petista errou e desgastou o partido. Sua postura defensiva vai além
8) Parte da bancada federal do PT, vinculada à CNB (a corrente majoritária), já esboça aliança com Rodrigo Maia em seu projeto de reeleição para "não ficar de fora da mesa diretora no próximo período". As correntes minoritárias divergem. Querem proposta e candidatura próprias
9) O que ocorre com esta direção ou corrente majoritária, afinal? Parece estar em ponto morto. Desde o ofensiva da direita, com apoio do Centrão que ingressou nos governos lulistas, a CNB não consegue sair do enredo que construiu
10) A CNB foi responsável pela subordinação do partido - e da militância - ao lulismo, ao governo federal. Em nenhum momento sugeriu uma ofensiva partidária autônoma, uma avaliação de pontos críticos ou lacunas dos governos petistas.
11) Ao contrário: em 2013, a juventude petista publicou apoios às manifestações de junho que, logo em seguida, foram rechaçadas pela corrente majoritária. No ano seguinte, algumas correntes da juventude petista esboçaram um documento que citava o esgotamento da primeira geração
12) Novamente, os jovens rebeldes do PT foram calados. Para quem ainda acredita que 2013 foi contra o PT, recordo que a Juventude do PT declarou apoio aos protestos contra o aumento das tarifas de transporte, incluindo o da de ônibus, feito pelo então prefeito Fernando Haddad
13) Nota da juventude: "o governo do Estado e a prefeitura da capital, ao elevarem o preço da tarifa de ônibus, trens e metrôs, prejudicam a locomoção de jovens e trabalhadores". E "conclama a militância petista a participar ativamente das manifestações" m.folha.uol.com.br/cotidiano/2013…
14) Retomo 2013 para sugerir que esta narrativa defensiva da corrente majoritária do PT vem de longa data. Ao invés de dar a volta por cima, procurou um inimigo externo para alinhar a militância de base. Procurou, com todas as suas forças, coibir qualquer crítica interna
15) Agora, não há mais como fugir. Derrotada da maneira mais vexatória possível na capital mineira e capital paulista, vencendo em apenas 4 cidades das 15 que disputou no segundo turno, com candidaturas de correntes não majoritárias se destacando, não há como negar os erros
16) Numa moral de esquerda mais clássica, seria o caso das direções partidárias que fracassaram de maneira incontestável na condução dessas eleições colocarem à disposição seus cargos. Para que provocassem um intenso debate interno e o filiado decidisse sobre os rumos partidários
17) Em 1983, logo depois do fracasso eleitoral do ano anterior, surgiu um manifesto procurando colocar o partido novamente nos trilhos. O "Manifesto dos 113", como ficou conhecido internamente, destacava os desacertos das direções do partido. Parece que é o caso atual.
18) Genoíno foi o primeiro líder histórico do PT a colocar o dedo na ferida. Espera-se que várias outras lideranças se somem à necessária leitura crítica dos erros cometidos há anos que acabaram se cristalizando numa derrota eleitoral evidente.
19) Muitas das direções atuais, altamente burocratizadas e sem conseguir esboçar qualquer elaboração de estratégia que coloque o PT na ofensiva política ou até mesmo disputar a agenda nacional, tentam se defender. Derrotados resistem admitir a derrota
20) Mas, lá no fundo, todos dirigentes e lideranças petistas sabem da responsabilidade do seu partido na construção de um projeto nacional democrático e na liderança do bloco de esquerda do país. A tentação para a defesa de cargos e hegemonia ser prioridade ainda é grande
21) Dizem que “o uso do cachimbo entorta a boca”. Hábitos de lideranças que se acostumaram a usar o rolo compressor para se impor acabam por viciar práticas. Admitir erros para aqueles com boca torta exige um esforço hercúleo. Exige mudança de comportamento. E coragem. (FIM)
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Bom dia. Hoje, quero destacar uma nova liderança de Belo Horizonte. Uma liderança que lembra o Garrincha. Segue o fio
1) A analogia entre política e futebol é um recurso didático usado no Brasil. Há quem a considere uma marca masculina da narrativa política. Mas, sinceramente, esta distinção deixou de ter razão de ser até mesmo porque a melhor seleção de futebol de nosso país é a feminina.
2) O fato é que usar deste recurso é uma maneira de comunicar uma ideia ou interpretação política que pode ser árida para o leitor. Como desconhecer que ao dizer que um político parece um centroavante ao estilo “vamos que vamos” de Serginho Chulapa?
Bom dia. Ainda vivemos o rescaldo das eleições de 2020. Mas, já dá para dar alguns pitacos. Faço um fio com o intuito de sugerir que cravar certezas sobre a política brasileira é andar na corda bamba. Segue o fio.
1) No Brasil, país latino, o esporte é a aposta. Um movimento infantil, de autoafirmação, em que se pretende vender a imagem de adivinho. Algo intrigante, dado que se o apostador perde, mergulha na penumbra do esquecimento. Se vence, gera surpresa até fazer a aposta errada.
2) A palavra que define essas eleições não é derrota, nem mesmo vitória, mas transição. Uma transição de uma decisão que tinha se formado entre 2016 e 2018 e que, agora, parece se dirigir ao lado oposto.
Faço uma breves observações sobre a performance dos partidos de centro-esquerda nesta eleição, com destaque para o segundo turno:
1) Esta foi uma eleição de transição por parte do eleitor: a marola do antissistema de extrema-direita e apolítico acabou. O eleitor cravou no conhecido e tradicional. Nessa, o centro-direita levou a melhor.
2) Mesmo no campo do centro-esquerda, sobressaíram candidaturas com "recall". O eleitor foi moderado.
Bom dia. Dia de eleição em 57 cidades do Brasil. Algo um pouco superior a 1% do total dos municípios brasileiros. Contudo, somam perto de metade do eleitorado. Portanto, os vencedores levarão mais que batatas. Segue o fio
1) Serão 57 cidades que decidirão qual prefeito, dentre dois, governará seu território pelos próximos 4 anos: 16 paulistas, 5 cariocas/fluminenses, 5 gaúchas, 4 mineiras, 2 pernambucanas, 2 cearenses, e assim por diante.
2) Se destacarmos as candidaturas de centro-esquerda que estarão neste segundo turno encontramos, num total de 20 (sendo 10 em capitais): 15 do PT, 2 do PDT, 2 do PSOL e 1 do PCdoB
A novidade nesta eleição em Belo Horizonte: a Coletiva
Na eleição passada, várias candidaturas identitárias do PSOL lançaram a ideia das candidaturas coletivas. A novidade dialogava com a experiência política de 2013: liderança não é algo individual, mas coletivo. Segue o fio
1) Havia, ali, uma simbiose entre a democracia representativa – aquela em que o cidadão vota em alguém que o representará no campo institucional – e a democracia participativa – em que vários coletivos e cidadãos se inserem nas estruturas de poder público
2) Em 2016, a campanha coletiva lançava várias candidaturas a partir de uma ideia de unidade, de projeto comum ao redor da sigla MUITAS. A proposta elegeu Áurea Carolina e Cida Falabella e acabou gerando um gabinete unificado na Câmara de Vereadores: a Gabinetona
Boa tarde. Vou socializar cinco fotos (em um mini fio) da matéria da Carta Capital onde faço uma análise da encruzilhada da eleição paulistana para o PT e o PSOL
Aqui, as opiniões do Valter Pomar, as minhas e as de Sérgio Braga
Nesta penúltima foto, o texto ampliado para facilitar a vida de gente mais idosa como eu....