Os pensamentos mecanicista, frequentista e bayesiano. Um resumo:
Mecanicista: todos nós durante a graduação. Faz parte do aprendizado que tenhamos noções sobre fisiopatologia e farmacologia, p ex. É normal que se valorizem os mecanismos e que a cadeira sobre MBE fique às traças.
Um dia, contudo, o médico precisa ter o estalo: o momento da curva de Dunning-Kuger em que a ficha cai: A FACULDADE ME ENSINOU ISSO??
Feliz do médico em que a ficha cai. Ou ele passará o resto da vida no primeiro pico “ignorante” da auto-confiança.
Depois, o médico que é introduzido às evidências científicas vira, primeiro, um frequentista.
Ele já sabe que a seção “evidências” do capítulo que está lendo é mais importante que a seção “mecanismo”.
Mas ao ler uma evidência, ele se fixa muito ao valor de p.
Ser frequentista nessa ocasião é lidar com controvérsias. É ficar na ciranda eterna do “ovo faz bem, ovo faz mal”, porque cada novo estudo, dependente ou independente de sua capacidade de analisar artigos, acaba virando a nova verdade.
Ou, um frequentista ainda mais experiente, pode usar a hierarquia dos estudos e classificar as evidências que recebe de acordo com a metodologia. E acabar acreditando na que for mais robusta.
Sobre terapias: Trials randomizados >>> Observacionais.
Por fim, o bayesiano. Conhecendo essa tabela, o bayesiano sabe que, além da hierarquia, da análise da metodologia, também é importante aplicar a probabilidade pré-teste.
Um valor de p < 5% pode gerar resultados falsos em > 89%.
Resumindo a análise desses diferentes tipos de pensamento em análise de evidências médicas:
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Piores argumentos que já me deram para o uso de remédios “me engana que eu gosto” para COVID-19.
1. “Eu tomei qualquer absurdo e me curei.”
R: a mortalidade é de 1-2%. Se você tomou e se curou, não dá pra saber se você na seria os 98-99% que seriam curados naturalmente.
2. É pra ficar em casa esperando morrer?
R: se os medicamentos de mentirinha não reduzem mortalidade, esse argumento infantil também não tem efeito.
O tratamento do COVID é o de suporte e dexametasona em casos com pior evolução. Gostaria que fosse mais amplo, mas não é, ainda.
3. “Qual a evidência que remédio para febre reduz mortalidade no COVID?”
R: por sorte não vi nenhum médico falando, mas foi uma das maiores ignorâncias de alto de pedestal que já ouvi.
Sintomáticos plausivelmente reduzem mortalidade por várias doenças por evitar evolução ruim.
Qual a regra número 1 para quem quer se iniciar na leitura crítica de evidências científicas?
ENTENDA QUE ESTUDOS OBSERVACIONAIS SÓ GERAM HIPÓTESES.
Que tal se atentar a isso na próxima notícia ou corrente que você ler sobre algum estudo?
O exemplo do estudo que concluiu que café aumentava a chance de câncer de pâncreas é um bom exemplo para três tipos de vieses: o viés de seleção, confundidores e o que eu chamo de “viés da eminência”.
Foi publicado em 1981 por MacMahon na New England Journal of Medicine (NEJM).
O estudo foi do tipo “caso-controle”, então se selecionavam pacientes com câncer e sem câncer e se perguntava se eles tinham alguns hábitos prévios à doença, entre eles o de beber café. A associação café x câncer de pâncreas é espúria.
Você já ouviu falar do “efeito placebo”? Provavelmente, o que você entende sobre ele está errado.
Vamos analisar as bases do efeito placebo para perceber porquê esse é um viés cognitivo do ser humano baseado em mistério e falsas esperanças e não pode ser definido sob a lógica.
O efeito placebo foi primeiro quantificado por Bleecher, escrevendo que os sintomas de 35% de 1082 pacientes foram aliviados por placebo.
Você há de concordar que para a existência comprovada de um efeito placebo, podemos usar o critério: (1) tem que ter recebido placebo vs qualquer terapia (medicamentosa ou não) (2) o efeito não apareceu em quem não recebeu placebo, (3) o efeito tem que ser relevante clinicamente
“Eu tomei ivermectina e me curei”. “Sobrevivi graças à cloroquina”
Vamos a uma thread para explicar porquê isso não é um argumento inteligente (para um médico, é inaceitável) ou modificador de conduta. Lembre-se que a chance de sobreviver ao COVID, não usando nada, é de 98-99%.
A função da Medicina Baseada em Evidências (MBE) é, basicamente, evitar que coincidências ou o acaso poluam o julgamento dos médicos.
Para dar um exemplo dessas coincidências, cito o caso da Procainamida e o estudo CAST.
Procainamida é um anti-arrítmico que tinha um mecanismo farmacológico brilhante e que também melhorava fortemente algo que os médicos podem ver facilmente: o Holter, um exame.
Era usado em pacientes que já tinham infartado e tinham arritmias complexas.
Atualizando a terapia para COVID-19 pelo uptodate e pelo theNNT.com.
A análise não leva em conta as mentiras descaradas do Ministério da Propaganda, digo, Saúde, nem paixão por político, nem tem o intuito de lotar consultório. É evidência.
Sintomáticos e cuidados gerais: ✅
Constantemente definido por terra-planistas como “quer dizer que é pra ficar em casa esperando morrer?”, esse é o cuidado milenar da Medicina. Essas medidas plausivelmente previnem evolução para formas graves de diversas doenças.
Tratamento empírico com antibióticos: ❌
A doença é viral e o tratamento empírico só é indicado se houver possiblidade de uma infecção bacteriana superposta, algo que parece ser mais raro do que descrito em elevadores de hospital e grupos de Zipzop.
Há uma parábola que conta que a Mentira, após falar uma obviedade (“está quente hoje”), convenceu a Verdade a cair na água e roubou as suas roupas. Desde então a Mentira se veste com roupas da Verdade.
Lembrei disso ao ver esse site:
Basicamente, é um compêndio de mentiras e estudos mal feitos (lixo) sobre Ivermectina e outras drogas. Esse site já havia ficado famoso antes pela análise ludibriadora (com intuito claro de enganar quem não entende o básico de evidência) de artigos com a Hidroxicloroquina.
Focando na Ivermectina, apenas (mas todo o site é lixo), o site mistura lixo com lixo podre (estudos observacionais, cartas ao editor e trials de péssima qualidade) para afirmar que há uma chance em 524 mil de que a Ivermectina não funcione.