Piores argumentos que já me deram para o uso de remédios “me engana que eu gosto” para COVID-19.

1. “Eu tomei qualquer absurdo e me curei.”
R: a mortalidade é de 1-2%. Se você tomou e se curou, não dá pra saber se você na seria os 98-99% que seriam curados naturalmente.
2. É pra ficar em casa esperando morrer?
R: se os medicamentos de mentirinha não reduzem mortalidade, esse argumento infantil também não tem efeito.

O tratamento do COVID é o de suporte e dexametasona em casos com pior evolução. Gostaria que fosse mais amplo, mas não é, ainda.
3. “Qual a evidência que remédio para febre reduz mortalidade no COVID?”
R: por sorte não vi nenhum médico falando, mas foi uma das maiores ignorâncias de alto de pedestal que já ouvi.
Sintomáticos plausivelmente reduzem mortalidade por várias doenças por evitar evolução ruim.
4. Só 10% das condutas da cardiologia possuem nível de evidência A.
R: Eu concordo com essa e vou além: muitas das que são nível A não deveriam ser.
O problema é que eu uso esse argumento pra evitar prescrição indiscriminada. Você usa pra se promover vendendo remédios de mentira.
“Leia o c19study. Tire suas próprias conclusões”
R: O médico que compartilha isso tem dificuldades sérias na análise de evidências e pode ser manipulado facilmente em outras prescrições, o que pode ser risco pra sociedade.
A análise é lixo de artigos lixo e não é evidência A.
“O uptodate e o theNNT estão vendidos”
R: os artigos relevantes (não os lixos em que não se vale a pena perder tempo) estão todos analisados sistematicamente e referenciados para a apreciação do público. Óbvio, um público de mais alto nível intelectual que o c19study
“O que que o doutor passa para COVID então?”
R: Mais um argumento/pergunta infantil. Se o doutor está falando que os medicamentos de mentirinha são ineficazes, então obviamente ele não os prescreve.
Ele prescreve aqueles que coerentemente ou comprovadamente trazem benefícios.
“Se quer evidência pra cloroquina, qual a evidência para o lockdown?”
R: parte da falácia que “cloroquina não tem evidência ainda”. Mas já tem e não serve
Ignorância sobre a “plausibilidade extrema”: o lockdown muito plausivelmente evita superlotação e mortes por falta de leitos
“Um artigo da Lancet que mostrava que a cloroquina aumenta mortalidade foi despublicado.”
R: também me preocupo com isso, lancei dúvidas sobre o processo de peer review atual e antes de o artigo ser despublicado até o critiquei.
Mas isso não torna a HCQ eficaz.
“O doutor está comprado pela indústria e querendo prescrever remdesivir”
R: basta uma boa leitura no meu feed para saber que eu me preocupo é com a qualidade dos remédios que meu paciente ingere. Não fui convencido também por ele.
Já a dexametasona custa 8 reais.

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13 Dec
Os pensamentos mecanicista, frequentista e bayesiano. Um resumo:

Mecanicista: todos nós durante a graduação. Faz parte do aprendizado que tenhamos noções sobre fisiopatologia e farmacologia, p ex. É normal que se valorizem os mecanismos e que a cadeira sobre MBE fique às traças.
Um dia, contudo, o médico precisa ter o estalo: o momento da curva de Dunning-Kuger em que a ficha cai: A FACULDADE ME ENSINOU ISSO??
Feliz do médico em que a ficha cai. Ou ele passará o resto da vida no primeiro pico “ignorante” da auto-confiança.
Depois, o médico que é introduzido às evidências científicas vira, primeiro, um frequentista.
Ele já sabe que a seção “evidências” do capítulo que está lendo é mais importante que a seção “mecanismo”.
Mas ao ler uma evidência, ele se fixa muito ao valor de p.
Read 7 tweets
7 Dec
Qual a regra número 1 para quem quer se iniciar na leitura crítica de evidências científicas?

ENTENDA QUE ESTUDOS OBSERVACIONAIS SÓ GERAM HIPÓTESES.

Que tal se atentar a isso na próxima notícia ou corrente que você ler sobre algum estudo?
O exemplo do estudo que concluiu que café aumentava a chance de câncer de pâncreas é um bom exemplo para três tipos de vieses: o viés de seleção, confundidores e o que eu chamo de “viés da eminência”.

Foi publicado em 1981 por MacMahon na New England Journal of Medicine (NEJM).
O estudo foi do tipo “caso-controle”, então se selecionavam pacientes com câncer e sem câncer e se perguntava se eles tinham alguns hábitos prévios à doença, entre eles o de beber café. A associação café x câncer de pâncreas é espúria.

Vamos entender seus vieses de um por um:
Read 11 tweets
2 Dec
Você já ouviu falar do “efeito placebo”? Provavelmente, o que você entende sobre ele está errado.

Vamos analisar as bases do efeito placebo para perceber porquê esse é um viés cognitivo do ser humano baseado em mistério e falsas esperanças e não pode ser definido sob a lógica.
O efeito placebo foi primeiro quantificado por Bleecher, escrevendo que os sintomas de 35% de 1082 pacientes foram aliviados por placebo.
Você há de concordar que para a existência comprovada de um efeito placebo, podemos usar o critério:
(1) tem que ter recebido placebo vs qualquer terapia (medicamentosa ou não)
(2) o efeito não apareceu em quem não recebeu placebo,
(3) o efeito tem que ser relevante clinicamente
Read 12 tweets
30 Nov
“Eu tomei ivermectina e me curei”. “Sobrevivi graças à cloroquina”

Vamos a uma thread para explicar porquê isso não é um argumento inteligente (para um médico, é inaceitável) ou modificador de conduta. Lembre-se que a chance de sobreviver ao COVID, não usando nada, é de 98-99%.
A função da Medicina Baseada em Evidências (MBE) é, basicamente, evitar que coincidências ou o acaso poluam o julgamento dos médicos.

Para dar um exemplo dessas coincidências, cito o caso da Procainamida e o estudo CAST.
Procainamida é um anti-arrítmico que tinha um mecanismo farmacológico brilhante e que também melhorava fortemente algo que os médicos podem ver facilmente: o Holter, um exame.

Era usado em pacientes que já tinham infartado e tinham arritmias complexas.
Read 13 tweets
28 Nov
Atualizando a terapia para COVID-19 pelo uptodate e pelo theNNT.com.

A análise não leva em conta as mentiras descaradas do Ministério da Propaganda, digo, Saúde, nem paixão por político, nem tem o intuito de lotar consultório. É evidência.
Sintomáticos e cuidados gerais: ✅

Constantemente definido por terra-planistas como “quer dizer que é pra ficar em casa esperando morrer?”, esse é o cuidado milenar da Medicina. Essas medidas plausivelmente previnem evolução para formas graves de diversas doenças.
Tratamento empírico com antibióticos: ❌

A doença é viral e o tratamento empírico só é indicado se houver possiblidade de uma infecção bacteriana superposta, algo que parece ser mais raro do que descrito em elevadores de hospital e grupos de Zipzop.

Azitromicina ❌
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26 Nov
Há uma parábola que conta que a Mentira, após falar uma obviedade (“está quente hoje”), convenceu a Verdade a cair na água e roubou as suas roupas. Desde então a Mentira se veste com roupas da Verdade.

Lembrei disso ao ver esse site:
Basicamente, é um compêndio de mentiras e estudos mal feitos (lixo) sobre Ivermectina e outras drogas. Esse site já havia ficado famoso antes pela análise ludibriadora (com intuito claro de enganar quem não entende o básico de evidência) de artigos com a Hidroxicloroquina.
Focando na Ivermectina, apenas (mas todo o site é lixo), o site mistura lixo com lixo podre (estudos observacionais, cartas ao editor e trials de péssima qualidade) para afirmar que há uma chance em 524 mil de que a Ivermectina não funcione.

Vamos ver porquê isso é falácia.
Read 8 tweets

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