Prometi um fio sobre os motivos para o Senado derrubar o golpe que a Câmara de Deputados deu nos recursos do Fundeb. Lá vai. Será um fio curto.
1) Uma primeira causa foi a enxurrada de mensagens aos deputados com argumentos técnicos. Parece pouca coisa, mas parte dos senadores não está acostumada a aprofundar análises sobre financiamento da área social e seus impactos na vida dos seus eleitores.
2) Outra iniciativa foi uma ação articulada na grande imprensa. Mas, a ação principal foi o corpo-a-corpo que, nos EUA, chama-se lobby. O PSDB acabou rachado. E houve intenso trabalho envolvendo PDT, MDB, PSD e Rede. Todos senadores se reuniram com os articuladores pró-Fundeb.
3) Estas foram as frentes, digamos, visíveis. Houve uma outra, muito importante: muitos senadores desejaram dar o troco à Câmara dos Deputados. Em outras palavras, não estão gostando de serem espectadores do protagonismo dos deputados federais.
4) Esta é uma das situações que somente quem faz lobby ou acompanha os bastidores da política sabe como se desdobra. Política é vaidade, é poder, o maior afrodisíaco do planeta. Teórico faz contas matemáticas que raramente dizem respeito à decisão política.
5) Enfim, nesta votação, o objetivo no Senado, além de aprovar o texto, foi encurralar o Centrão. Agora, a batata quente volta à Câmara de Deputados. Será a batalha final.
6) Foram muitos documentos e notas técnicas enviadas aos senadores. Como a que demonstrava que a tese de insuficiência de vagas na rede pública de ensino (daí o financiamento de vagas da rede privada) era um argumento
juridicamente inepto (citando o art. 6º da Emenda 59/2009)
7) Também citaram o artigo 213 da Constituição Federal que define que a regra geral no país é que os recursos públicos são vinculados às escolas públicas, porque a execução estatal direta da educação básica obrigatória é uma exigência do poder constituinte pátrio.
8) O argumento técnico era: para que haja repasses de recursos públicos para instituições privadas de ensino sem
finalidade lucrativa, o §1º do art. 213 da Constituição exige a comprovação de insuficiência de vagas.
9) Mas, como comprovar a insuficiência de vagas se já se universalizou a oferta de vagas na rede pública em relação à educação infantil pré-escolar e dos ensinos fundamental e médio, como manda o art. 6⁰ da Emenda 59/2009?
10) Esses foram os argumentos técnicos. Mas, o importante é percebermos como se dá o jogo do poder nos bastidores, entre poderes, entre casas parlamentares, no interior dos partidos. As análises chapadas, muito lineares, facilitam a vida do analista, mas não são corretas. (FIM)
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Bom dia. Farei um mini fio analisando como empresários, Centrão e Bolsonaro decidiram mirar nos fundos públicos da educação e saúde neste último período e o papel do Centrão na manutenção dos índices de aprovação do governo federal. Lá vai fio:
1) Postei agora há pouco uma nota de Daniel Cara em que se revela o desvio de recursos públicos do Fundeb para a iniciativa privada: quase 16 bilhões. Não se trata de uma "ajuda" ao Sistema S ou às escolas filantrópicas. Trata-se de disputa por recursos públicos pelos empresários
2) O texto de Daniel Cara informa que "Em 2019, conforme análise de dados da Receita Federal produzida por João Marcelo Borges (FGV), concluiu-se que as entidades filantrópicas e confessionais receberam 6,37 bilhões de dinheiro público (...) e o Sistema S recebeu R$ 21 bilhões."
Vou começar o fio sobre o Fundeb que prometi fazer nesta manhã. Começo explicando a história que desaguou no Fundeb. O fio será grande. Lá vai.
1) O financiamento foi para a educação foi entendido como vinculação constitucional de um percentual mínimo de recursos para a educação a partir da Constituição Federal de 1934. O princípio da vinculação de recursos esteve presente nas Constituições Federais seguintes
2) A Carta de 1937 determinou que o direito à Educação se constituía num dever da família, e ao Estado era definido um papel secundário. Esta concepção retornou, em certa maneira, no discurso da Escola Sem Partido, para quem educação é papel da família
Há sinais de uma disputa importante que se insinua no interior do PT. Existem alguns polos em disputa. Mas, o foco geral é com as direções atuais, lideradas pela corrente majoritária: a CNB. Segue um pequeno fio
1) Muitas movimentações internas já ocorriam no PT quando o desastre eleitoral se prenunciava. Alguns lideranças diziam que preferiam aguardar o final das eleições para não serem acusados de contribuir para a derrota eleitoral. Mas, foi Genoíno que saiu à frente
Bom dia. Hoje, quero destacar uma nova liderança de Belo Horizonte. Uma liderança que lembra o Garrincha. Segue o fio
1) A analogia entre política e futebol é um recurso didático usado no Brasil. Há quem a considere uma marca masculina da narrativa política. Mas, sinceramente, esta distinção deixou de ter razão de ser até mesmo porque a melhor seleção de futebol de nosso país é a feminina.
2) O fato é que usar deste recurso é uma maneira de comunicar uma ideia ou interpretação política que pode ser árida para o leitor. Como desconhecer que ao dizer que um político parece um centroavante ao estilo “vamos que vamos” de Serginho Chulapa?
Bom dia. Ainda vivemos o rescaldo das eleições de 2020. Mas, já dá para dar alguns pitacos. Faço um fio com o intuito de sugerir que cravar certezas sobre a política brasileira é andar na corda bamba. Segue o fio.
1) No Brasil, país latino, o esporte é a aposta. Um movimento infantil, de autoafirmação, em que se pretende vender a imagem de adivinho. Algo intrigante, dado que se o apostador perde, mergulha na penumbra do esquecimento. Se vence, gera surpresa até fazer a aposta errada.
2) A palavra que define essas eleições não é derrota, nem mesmo vitória, mas transição. Uma transição de uma decisão que tinha se formado entre 2016 e 2018 e que, agora, parece se dirigir ao lado oposto.
Faço uma breves observações sobre a performance dos partidos de centro-esquerda nesta eleição, com destaque para o segundo turno:
1) Esta foi uma eleição de transição por parte do eleitor: a marola do antissistema de extrema-direita e apolítico acabou. O eleitor cravou no conhecido e tradicional. Nessa, o centro-direita levou a melhor.
2) Mesmo no campo do centro-esquerda, sobressaíram candidaturas com "recall". O eleitor foi moderado.