A única coisa que sustenta o bolsonarismo é a fabricação de inimigos imaginários.
Essa é a base da guerra cultural, criação desvairada de narrativas conspiratórias sobre forças ocultas e onipotentes.
Não é só espuma. A guerra cultural afeta diretamente as políticas públicas 👇🏼
Desde o princípio do governo, estava claro que a guerra cultural era a razão da sanha dos olavistas em ocupar espaços em áreas-chave: cultura, educação, direitos humanos, política externa.
Em todas elas, desejava-se construir uma nova ideia de Brasil, cristão e conservador 👇🏼
A infame frase de Bolsonaro na ONU é a melhor tradução disso: "o 🇧🇷 é um país cristão e conservador". Somos majoritariamente cristãos, sim, mas isso não faz do povo um monolito de ideias e convicções.
Essa idealização do Brasil serve bem aos interesses populistas do presidente👇🏼
... porque o coloca como o único porta-voz do "Brasil verdadeiro", em oposição aos socialistas, progressistas, liberais, todos membros de uma elite alheia aos interesses do povo e, portanto, traidora da pátria.
Quem discorda das insanidades presidenciais vira inimigo na hora 👇🏼
A fabricação de inimigos é estratégia útil para a promoção de políticas públicas, pois obriga aliados a aceitar qualquer coisa p/se manter na base.
Quem questiona a moralidade ou eficácia das propostas do Planalto é chamado de ditador, desarmamentista, esquerdista, globalista 👇🏼
Bolsonaro demorou um tempo para calibrar a narrativa. Falava-se em Deus e patriotismo, mas sem muita consistência.
Recentemente, ele e sua trupe descobriram que o melhor argumento é "liberdade". Liberdade para ser racista e homofóbico, liberdade para ter arma e contar mentiras👇🏼
E essa guerra cultural em nome da "liberdade" começa a afetar diretamente políticas públicas que dependem do engajamento coletivo.
Em saúde pública, isso ficou patente. A cloroquina foi a solução perfeita para quem não queria seguir o distanciamento social ou usar máscara 👇🏼
Agora, com a vacina, evoca-se a liberdade de escolha (que nunca foi um problema para sarampo ou tétano) para seguir insuflando a falsa briga entre Bolsonaro, que diz falar em nome do povo, e uma elite malévola articulada pela China, Globo, PT, OMS, George Soros e Paulo Freire👇🏼
O caso da saúde é curioso porque a pasta não é comandada por um olavista surtado, mas por um general que dizem ser a voz da moderação no Planalto.
A conclusão óbvia é que, para a guerra cultural dar certo, bastam doses de burrice e incompetência.
Esse artigo que escrevi com meu amigo @davidmagalhaes é um dos + importantes que escrevemos.
Nele, buscamos responder à seguinte pergunta: o que permitiu que populistas continuassem sendo populistas diante de uma crise sanitária, mesmo colocando em risco a saúde das pessoas? 👇🏼
Nossa resposta passa por 2 conceitos:
1) Populismo médico: uso de retórica divisiva p/reduzir responsabilidades durante a crise e transferi-las p/outros atores;
2) Ciência alternativa: rede de suporte ao populista que propõe soluções pseudocientificas c/verniz de legitimidade👇🏼
Analisando a promoção da cloroquina no Brasil e nos EUA, percebemos que Bolsonaro e Trump optaram por lidar com a crise não de forma abertamente negacionista, mas pretensamente científica, c/argumentos amparados por uma rede de médicos, jornalistas e influenciadores de direita👇🏼
Primeiro, golpe simbólico: o bolsonarismo veio à sombra do trumpismo, imitou suas táticas, importou suas narrativas. Bolsonaro terá que se agarrar a outros referenciais daqui em diante.
Mas a maior vítima é a política externa 👇🏼
Já disse, aqui, que o comportamento irresponsável de Bolsonaro coloca o 🇧🇷 em posição de fragilidade.
Nenhum presidente deveria fazer campanha em eleições alheias. Isso é óbvio e está na CF-88.
Além de torcer pra Trump, comprou, sem ressalvas, a narrativa de fraude eleitoral 👇🏼
E a cereja do bolo é a demora em reconhecer a vitória do democrata, ao passo que praticamente todos os países já o fizeram - inclusive aliados 🇭🇺🇮🇳🇮🇱
A diplomacia é feita de sinalizações. Os democratas sabem que terão um presidente hostil e terrivelmente trumpista por aqui 👇🏼
Há 1 razão fundamental p/um presidente não fazer campanha p/outro, além do óbvio respeito à boa diplomacia: se a torcida der errado, colocam-se as relações bilaterais em risco.
Bolsonaro quis ser cabo eleitoral de Macri 🇦🇷, Bibi 🇮🇱 e Trump 🇺🇸. Ele não costuma dar muita sorte 👇
O + surpreendente é Bolsonaro dobrar a aposta, mesmo quando a estatística joga contra ele.
A implicância c/o governo "socialista" do país vizinho levou ao pior período das relações 🇧🇷🇦🇷 em 4 décadas.
O caso 🇺🇸 é ainda + estranho. Bolsonaro segue em campanha aberta por Trump 👇
Já seria suficientemente ruim se Bolsonaro tivesse se calado semanas atrás, quando disse que torcia por Trump.
Com a menção inédita e pouco elogiosa no debate à política ambiental brasileira, Biden deixou clara sua insatisfação com o Trump tropical.
Às vésperas da eleição norte-americana, possivelmente a mais decisiva da nossa geração, gostaria de (novamente) recomendar algumas arrobas que entendem MUITO do assunto e poderão ajudá-l@s a decifrar a loucura do sistema eleitoral e da política 🇺🇸 👇
Mais uma #UNGA , mais 1 discurso presidencial, mais 1 tonelada de matéria bruta para entendermos as narrativas políticas do governo.
Esse fio é pra comentar algumas (grandes) inconsistências do discurso de Bolsonaro, tão defensivo e quase tão agressivo quanto o do ano passado 🧵
"É uma honra abrir esta Assembleia c/os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da verdade p/superar seus desafios"
Era previsível que abrisse o discurso c/as 2 palavras + banalizadas desse governo: "soberania" e "verdade". Não significam nada.
"A covid-19 ganhou o centro de todas as atenções ao longo
deste ano e, em 1º lugar, quero lamentar cada morte ocorrida"
Finalmente ele lamentou "cada morte ocorrida" sem culpar governadores, imprensa ou o PT! Mas será que ele está falando das 971.879 no 🌎 ou das 137.445 do 🇧🇷?