Dúvidas sobre a Eficácia. Seguindo o mais próximo do estabelecido no protocolo com o dado que tenho, o cálculo está correto.

Densidade de incidência no vacinado: 11.74
Densidade de incidência no placebo: 23.64
Incidence Rate Ratio: 0.4966

VE = 1 - 0.4966 = 50.34% (35.14-62.21)
Como disse antes, ensaios clínicos tem protocolos. Tudo deve ser seguido como está lá. Mudanças podem ocorrer, mas devem ser aprovadas pelos comites, comissão de etica, e tudo mais. Isso porque? para evitar mudanças baseada em dados. Mudanças assim são versificadas, protocoladas,
e ocorrem antes de fechar a base e abrir o blinding.

No protocolo público de agosto, o protocolo diz que a eficácia seria estimada por 1 - Hazard Ratio. O HR viria de um modelo de Cox, estratificado por idade e sexo. Intervalo de confiança pelo método de Parzen, Wei e Ying Image
Obviamente não tenho os dados para reproduzir um Cox estratificado nem o método. O modelo de Cox é uma análise tempo até o evento, ou seja, de modo simples, leva em conta o tempo de risco no denominador. Não é mais X pessoas, mas sim pessoas-ano, pessoas-dia. O Cox é diferente
de algo tão simples, e tem mais detalhes (tipo de censoring, risk set, como tratar os tiers, etc) mas se aproxima disso.

Assim, a eficácia da CORONAVAC é para ser estimada com rate e não risk. Isso é perfeitamente normal.

Assim que usando os dados da apresentação de hoje, com um intervalo de confiança clássico de Wald, a eficácia da vacina é aquela acima, muito próxima da apresentada

Meu cálculo:

VE = 0.5033841
Limita inferior: 0.3513861
Limite superior: 0.6221226 Image
Código do R

library(epiR)

rate_rr <- as.table(matrix(c(85,85/11.74,167,167/23.64), nrow = 2, byrow = TRUE))
rr_relativeraterisk <- epi.2by2(dat = rate_rr, method = "cohort.time", conf.level = 0.95,
units = 100, outcome = "as.columns")
seguindo código

rr_relativeraterisk <- rr_relativeraterisk[["massoc"]][["IRR.strata.wald"]]

ve_relativeraterisk <- 1 - rr_relativeraterisk
Não tenho acesso aos dados, nem relação com o estudo. Tentando só esclarecer fatos.
Os dados eu tirei dos slides da apresentação. Tem 85 eventos e o que está em parentesis é a densidade, como escrito ali embaixo

"Casos (incidência 100s pessoas-ano)" ImageImage
Agora os números do estudo.

Eles tinham como alvo recrutar 13.060 e randomizaram algo menos que isso, pelo que divulgaram. Isso forma a população com intenção de tratar. MAS, trials de vacinas por padrão tem análise principal como por protocolo (a maioria dos trials usa ITT).
São várias razões para isso. A maneira mais fácil de pensar nisso são 2:

1 - a intervenção (vacina) só funciona após a segunda dose, então você começa a contar sua intervenção a partir dali
2 - por questões de segurança. ITT pode deixar mais difícil de detectar efeitos adversos
Isso também está bem definido lá no protocolo:

Como os ~13 mil chegam nos ~9 mil. O mais provável aqui são suspeitas de COVID da randomização até a segunda dose, que era um dos critérios de exclusão, como nas outras vacinas (que tinham mais coisas). Image
Só com os dados e o flowchart entenderemos. Eles também devem apresentar a análise de ITT. Para a população de segurança, entram pacientes com ao menos 1 dose da vacina.

Nos slides vemos que a população de segurança com 1 dose já sobe para 5738+5731 = 11.469 Image
Isso acontece em todos os outros trials de vacina. Abaixo o flowchart do trial da Moderna. Vemos população de segurança/mITT/per protocol. Na CORONAVAC é esperado que tenhamos menos casos proporcionalmente na per-protocol, pq é uma população de alto risco.
nejm.org/doi/full/10.10… Image
para quem gosta de trials, métodos e inferência causal, vale a pena ler ITT x PP no geral e também em vacinas. No geral, desde que pré-especificado no protocolo a per protocol, ambas trazem dados interessantes. Esse artigo discute isso,

sciencedirect.com/science/articl…
O @rafalpx reproduziu para os 78%. Para o 100% precisamos saber como lidaram com zero eventos.

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More from @otavio_ranzani

13 Jan
Para a aprovação de vacinas nas agências regulatórias, desde que seja segura, temos critérios já estabelecidos historicamente. Cada agência tem alguns detalhes, mas a ANVISA usa o clássico:

Eficácia ➡️ pelos menos 50% (≥50%)
Limite inferior do intervalo de confiança: ≥30%
No próprio protocolo do Butantã, para o cálculo de amostra, isso foi estabelecido. Nos protocolos da Pfizer, Moderna, também, todos buscando se adequar ao que diz principalmente o FDA e OMS.

O trial esperava garantir um mínimo de 30% e estimava 60% como medida.
Read 4 tweets
11 Jan
Infelizmente. E é triste demais.

- falta oxigênio
- 350-400 pessoas esperando leitos nos últimos dias
- fila de 48h para sair de lá numa UTI aérea

# Manaus: Janeiro, 2021
Hospitalizados em Manaus desde 25/12. Muitos doentes com suspeita devem esperar testes.
Quando avaliamos hospitalizados em UTI, ventilados e leitos de enfermaria, importante entender que existe um gargalo ("bottleneck"). As vezes pode parecer que parou de aumentar número de internados ou UTI, mas é pq não tem mais leitos. Precisamos ver a demanda.
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9 Jan
2021, Madrid, pandemia: provavelmente uma das maiores nevascas na cidade e grande parte da Espanha pelo #Filomena

Grande caos na cidade e setor de saúde: cidade não preparada nem acostumada com isso. Enquanto isso

Read 7 tweets
9 Jan
Como estão os pacientes COVID após 6 meses da alta?

Maior estudo até agora @TheLancet: 1733 pacientes em Wuhan

➡️ 63% com cansaço ou fraqueza muscular
➡️ 26% com problemas de sono
➡️ 22% com perda de cabelo
➡️ 23% com sintomas de ansiedade/depressão
➡️ Mais sintomas em mulheres
A mediana de idade dos doentes foi 57 anos, a maioria sem comorbidade, 75% precisou de oxigenio suplementar (somente 7% ventilação invasiva/não invasiva, circulação extracorporea). Vale lembrar que como são doentes todos de alta hospitalar, o perfil de gravidade diminui.
Ficaram 14 dias (mediana) no hospital, 4% passou pela UTI, seguimento em 6 meses.
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4 Jan
Como se correlacionam as alterações de ultrassom pulmonar no doente crítico com COVID com a histologia?

Estudo brasileiro traz mais informações para quem usa ultrassom a beira leito #POCUS Image
Em 28 autópsias, os autores avaliaram um escore que usando no ultrassom com os achados da histologia

Ultrassom e padrões do normal a alterado Image
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4 Jan
E o Sars-CoV-2 pode fazer outras coisas no corpo?

Essa semana saiu este caso raríssimo de um paciente, 61 anos, com diagnóstico de Linfoma de Hodgkin associado ao vírus Epstein-Barr.

Diagnóstico do câncer (esquerda) // COVID-19 // após 4 meses remissão importante (direita)
Esse exame é um PET com marcador FDG. As massas em preto são onde há atividade da doença (era um LH estadio III). Os autores remarcam que o paciente não recebeu nenhum quimioterápico, nem corticoide.

O mecanismo aventado, já visto em outras infecções, é que o Sars-CoV-2 ativou a
resposta imune contra o câncer, por vias de reação cruzada de antígenos reconhecido por células-T e também via imunidade inata.

As cópias do vírus Epstein-Barr também caíram bastante.

onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.11…
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