Descrição dos primeiros 250 mil pacientes com COVID-19 hospitalizados no Brasil no @LancetRespirMed
➡️Idade média 60 anos, um terço <50 anos
➡️39% na UTI / 23% ventilação invasiva
➡️2 em cada 5 morreram. 3 em cada 5 se foi para UTI
⬆️Diferenças regionais
Com a base de dados SIVEP-Gripe, do início da pandemia até meados de Agosto, selecionamos para a análise principal os pacientes com ≥20 anos, COVID-19 confirmado com PCR e hospitalizados. Em uma análise de sensibilidade, analisamos todos os pacientes com COVID-19 (PCR + outros)
Descrevemos os casos do Brasil e estratificado por cada uma das 5 regiões. No geral, as características dos pacientes são semelhantes à relatada quanto a sintomas e comorbidades. A idade foi similar entre as regiões, exceto mais pacientes ≥80 anos no Nordeste.
A proporção de pacientes do sexo masculino foi maior (56%), porém em algumas outras descrições, essa porcentagem tende a ser maior. 49% dos pacientes se auto-declaram brancos e 49% preto ou pardo. Essa proporção varia bastante por região, sendo >80% de preto/pardo no N e NE.
Considerando as doenças do coração/rim/diabetes/ pulmão/sangue/sistema imune/neurológico/obesidade, 16% não tinham comorbidade (25% após imputação).
-70% dos pacientes chegaram com a oxigênio <95%
-80% com falta de ar
No geral, doentes no N e NE chegaram mais grave ao hospital
Mortalidade hospitalar geral foi de 38% (2 em cada 5), sendo:
- 50% no Norte
- 48% no Nordeste
- 35% no Centro-Oeste
- 34% no Sudeste
- 31% no Sul
Grande diferença se foi para UTI, necessitou de ventilador e por idade.
A mortalidade hospitalar aumentou com idade. A diferença entre sexo masculino e feminino sem ajustes não foi tão alta (diferente de algumas coortes que mostraram maior mortalidade no sexo masculino). Mesmo estratificado por gravidade foi semelhante (appendix).
A mortalidade variou estratificada por idade e comorbidades, nível educacional, raça/cor da pele auto-declarada e uso de suporte. A maior diferença acontece quanto < a idade. Pacientes com ⬇️ escolaridade tem alta mortalidade, assim como preto/pardo e indígena (poucos pacientes)
Medimos o uso de recursos a nível populacional. O número de hospitalizações por 100 mil habitantes e idade, uso de UTI e ventilação estão abaixo. A necessidade de recurso é bastante alta. Chamam atenção Norte e Sudeste.
O número de admissões de UTI por 1000 leitos de UTI foi de 2246 no Norte, 2217 no Sudeste, 2073 no Nordeste, 2001 no Centro-Oeste e 1793 no Sul. Usamos os dados do CNES de Fevereiro, como a capacidade basal pré-pandemia dos leitos.
A mortalidade hospitalar por idade/regiões tem grande variabilidade e uso de recursos 👇.
Enquanto para mais idosos a diferença regional fica menor, chama a atenção que para doentes jovens, a mortalidade nas regiões N e NE são altas.
Descrevemos também a evolução tempo-espacial em número de casos, hospitalizações e mortalidade hospitalar.
As regiões Norte, Nordeste e Sudeste tiveram o pico mais cedo, seguido do Centro oeste e Sul. Quando mais ponteagudo, mais hospitalizações e maior carga no sistema e, no geral, maior mortalidade (mais estável no tempo no Sudeste)
Existem importantes diferenças regionais de distribuição de idade, que ajustamos por estratificação e algumas taxas por padronização. A oferta de leitos em números é bastante diferente, assim como a localização: algumas regiões somente concentradas nas capitais.
Fizemos uma análise de sensibilidade com todos os casos diagnosticados com COVID-19: PCR, com teste de antígeno/anticorpo e clínico epidemiológico. A principal razão foi um possível viés de mais casos graves sendo testados onde não se tinha teste. Foram analisados então 314,615
Replicamos toda a análise que se mostrou bastante consistente. O N e NE foi onde teve o maior aumento proporcional de casos, como esperado, pela menor oferta de PCR. A mortalidade geral se manteve em 38%, porém houve uma queda de 50% para 44% no Norte. As diferenças se mantiveram
Existem outros detalhes importantes q se estendem pelo suplemento. Fizemos imputação múltipla (chained equations) para avaliar impacto de missing em UTI, ventilação, comorbidades, e o resultado geral se manteve. Após a imputação, o número de pacientes sem comorbidades ⬆️ para 25%
Este estudo é possível devido a termos o SUS e tradição em vigilância e bases de dados. Algumas limitações são inerentes ao tipo de dado, que teve cobertura de 96% da população brasileira. Tentamos diminuir o viés de notificação dos mais graves no começo usando outros critérios
de diagnóstico. Este estudo é epidemiológico descritivo e documentamos um panorama dos primeiros 5 meses da pandemia com dados. Não fazemos inferências causais. Ainda teremos muito que estudar.
Este é um trabalho coletivo de pesquisadores de várias instituições. Obrigado pela colaboração.
Após definir a pergunta de pesquisa, o protocolo de análise foi escrito e toda mudança foi definida no artigo como "post-hoc". Os dados são públicos e o código para reproduzir o artigo também.
Agradecemos as fontes financiadoras.
Agradecemos a todos e todas profissionais da saúde que vem se dedicando e não medindo esforços para atender a população.
COVID-19 é uma doença grave. Sem controle do número de casos não há sistema de saúde que consiga responder à demanda.
O controle da pandemia é fora do hospital. Dentro do hospital, precisamos de leitos e ventiladores, mas doentes graves precisam de equipes treinadas e com entrosamento. A expansão que tivemos foi grande, mas ainda assim com muita demanda.
Para a aprovação de vacinas nas agências regulatórias, desde que seja segura, temos critérios já estabelecidos historicamente. Cada agência tem alguns detalhes, mas a ANVISA usa o clássico:
Eficácia ➡️ pelos menos 50% (≥50%)
Limite inferior do intervalo de confiança: ≥30%
No próprio protocolo do Butantã, para o cálculo de amostra, isso foi estabelecido. Nos protocolos da Pfizer, Moderna, também, todos buscando se adequar ao que diz principalmente o FDA e OMS.
O trial esperava garantir um mínimo de 30% e estimava 60% como medida.
Dúvidas sobre a Eficácia. Seguindo o mais próximo do estabelecido no protocolo com o dado que tenho, o cálculo está correto.
Densidade de incidência no vacinado: 11.74
Densidade de incidência no placebo: 23.64
Incidence Rate Ratio: 0.4966
VE = 1 - 0.4966 = 50.34% (35.14-62.21)
Como disse antes, ensaios clínicos tem protocolos. Tudo deve ser seguido como está lá. Mudanças podem ocorrer, mas devem ser aprovadas pelos comites, comissão de etica, e tudo mais. Isso porque? para evitar mudanças baseada em dados. Mudanças assim são versificadas, protocoladas,
e ocorrem antes de fechar a base e abrir o blinding.
No protocolo público de agosto, o protocolo diz que a eficácia seria estimada por 1 - Hazard Ratio. O HR viria de um modelo de Cox, estratificado por idade e sexo. Intervalo de confiança pelo método de Parzen, Wei e Ying
Hospitalizados em Manaus desde 25/12. Muitos doentes com suspeita devem esperar testes.
Quando avaliamos hospitalizados em UTI, ventilados e leitos de enfermaria, importante entender que existe um gargalo ("bottleneck"). As vezes pode parecer que parou de aumentar número de internados ou UTI, mas é pq não tem mais leitos. Precisamos ver a demanda.
Como estão os pacientes COVID após 6 meses da alta?
Maior estudo até agora @TheLancet: 1733 pacientes em Wuhan
➡️ 63% com cansaço ou fraqueza muscular
➡️ 26% com problemas de sono
➡️ 22% com perda de cabelo
➡️ 23% com sintomas de ansiedade/depressão
➡️ Mais sintomas em mulheres
A mediana de idade dos doentes foi 57 anos, a maioria sem comorbidade, 75% precisou de oxigenio suplementar (somente 7% ventilação invasiva/não invasiva, circulação extracorporea). Vale lembrar que como são doentes todos de alta hospitalar, o perfil de gravidade diminui.
Ficaram 14 dias (mediana) no hospital, 4% passou pela UTI, seguimento em 6 meses.