Preço de vacinas: R$100 cada Pfizer, R$50 cada Coronavac, R$25 cada AstraZeneca. Qual vale mais a pena?

Tanto faz! O preço que governo paga por cada dose de vacina Covid é irrelevante. Não é exagero, é análise custo-benefício. Segue o fio que eu explico 👇
Para saber se uma vacina é "cara" ou "barata" não é suficiente comparar preço de uma com a outra. O custo de vacinas assim como outros tratamentos de saúde devem ser analisados em função dos benefícios potenciais que geram. E quais são esses benefícios?
Para simplificar, vamos dividir os benefícios das vacinas em três partes:

- Benefícios diretos - curto prazo
- Benefícios diretos - longo prazo, a valor presente
- Benefícios indiretos

Vamos começar pelos diretos 👇
Como benefício direto da vacina, há redução forte das chances:
1) ser infectado
2) precisar de atendimento
3) ser hospitalizado
4) morrer

---

1) Reduzindo chance de infecção já reduz gasto com testes covid. Um teste PCR hoje custa ~R$150, mais que 1 dose da vacina mais cara!
2) Atendimento médico não encontrei fácil média confiável nem para o SUS, nem para rede privada. Mas vamos chutar bem baixo, valor de ~R$50 por consulta. Teste simples mais consulta simples já está mais caro que 2 doses da vacina mais cara que confere 95% eficácia contra covid...
3) Ao ser hospitalizado, pode haver custo de internação comum ou UTI. Custo de UTI covid no SUS parece estar em torno de R$1.600 POR DIA. Em média, paciente de covid em UTI fica 2 semanas internado. A R$22.400 cada, poderíamos vacinar 112 pessoas com 2 doses da vacina mais cara.
4) Óbito. Custo do óbito podemos aproximar pelos métodos de cálculo de Valor Estatístico da Vida. Temos algumas estimativas desse valor no Brasil, variando de R$630 mil a R$2,4 milhões. Vamos usar o valor mais tímido de R$630 mil para não dar margem para me acusarem de exagero.
Esses valores podem ser estimados de diferentes formas (explicar fica para outro fio), mas são para uma vida média inteira. Com dados dos EUA estimaram que uma morte por covid subtrai em média 10 anos de sobrevida. Usando expectativa de vida de 72 anos, subtrai 14% da vida média.
Esses 14% não são lineares com valor da vida estatística, mas vamos simplificar. 14% de 630 mil estamos falando de R$88.200 de perda média de potencial produtivo para cada óbito covid a valor presente. Pagaria imunização de 441 pessoas com 2 doses da vacina mais cara.
Esses são valores brutos de custos diretos associados ao covid. Agora precisamos jogar as probabilidades de cada evento ocorrer. Se infectado, há em média:
80% chance de ser sintomático
15% chance de precisar de atendimento
5% chance de internação, 2% UTI
1% chance de óbito
80% * R$150 PCR = R$120
15% * R$50 atendimento = R$7,50
2% * R$22.400 UTI = R$448
1% * R$88.200 óbito = R$882

Custo esperado médio por infecção Covid:
R$1.457,50 ou 14 doses da vacina mais cara!

Observação: Ignorei o custo de intenção não-UTI, essa estimativa é conservadora.
Ou seja, mesmo comprando a vacina mais cara de todas o "retorno" sobre o preço da vacina é tão desproporcionalmente grande que tanto faz se você pagou R$100 ou R$25. O que importa é erradicar esse custo hospitalar e em vidas das infecções.

Mas esses são apenas os custos diretos!
Quais são os custos indiretos? São aquelas renúncias que uma pessoa faz quando se infecta com o coronavírus. Além de gastar com teste, consulta médica, remédios ineficazes, internação e potencial óbito, a pessoa infectada também fica alguns dias debilitada.
No melhor dos casos, pessoa infectada ficará em casa entre 1 e 2 semanas para não infectar outros. A maioria dos brasileiros não consegue fazer home office. Supondo trabalho valorado pelo salário mínimo (R$1.100/mês), esse isolamento implica custo indireto de R$550 por infectado.
Para esse custo não faz diferença se pessoa recebeu ou não do empregador pelo tempo que ficou em casa. O fato é que para a sociedade ela deixou de produzir um benefício social e essa renúncia tem um custo de oportunidade relevante. Supomos salário mínimo, na realidade é mais.
Mas tem mais! Esse é o custo mais baixo, da infecção. A pessoa que precisa de atendimento hospitalar ficará mais 14 dias no hospital, duplicando esse custo indireto. De novo supondo salário mínimo para ser estimativa conservadora, custa R$1.100 o mês de cada internado.
As 1-2 semanas de isolamento de cada um podemos colocar como 80% de chance dada a infecção, e o mês inteiro como 5% de chance. O custo indireto médio esperado em perda de produção para cada infecção fica em R$495.
Mas tem mais! Os hospitais também estão renunciando a realização de cirurgias eletivas. Pessoas estão morrendo de outras doenças por sobrelotação hospitalar com leitos covid. Pessoas estão gastando com testes de anticorpos. Há pessoas com covid longo com prejuízos maiores....
E os efeitos indiretos sobre o resto da sociedade, a imprevisibilidade, o desemprego, a falta de investimentos, a inflação, a destruição das contas públicas, a fome, a desestruturação de famílias, a renúncia de atividades de lazer, milhões de alunos sem aula, desigualdade...
Mesmo se ignorarmos todos esses custos - que são imensos -, só com o que estimamos na conta de padaria até aqui são R$1.952 de custo médio esperado por infecção. Diante desse custo, que diferença faz pagarmos R$25 pela vacina Oxford ou R$100 pela vacina Pfizer? TRAGAM VACINAS!!!

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26 Jan
A imprensa precisa cobrar mais detalhes sobre essa tal "compra de 33 milhões de doses de vacina pelo setor privado", porque com as informações que temos a história está MUITO estranha e o governo precisa se explicar. Segue o fio 👇
www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau… Image
Informações de fundo necessárias que todos precisam saber:
- Governo tem acordo com AstraZeneca (AZ) para compra de 100 milhões de doses
- Vacina da AZ é hoje a mais barata disponível no mundo (custa entre US$3 e U$5)
- AZ está com dificuldade de entrega até para a União Europeia ImageImageImage
Vamos analisar. Aparentemente o governo enviou carta à AZ autorizando empresas privadas brasileiras a comprarem 33 milhões de doses. Mas o lote está saindo por US$23,79 cada dose, quase 5 vezes mais caro que o valor que o resto do mundo está pagando. Isso é muito estranho... ImageImage
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24 Jan
Governo Federal @govbr emitiu uma nota oficial "explicando" por que não fizeram acordo com a Pfizer. Segue ponto a ponto as mentiras, erros lógicos, falta de bom senso, omissões e crimes dessa grande FARSA dessa nota. Segue o fio👇
Logo de início somos brindados com uma hipocrisia sem igual. Governo alega que chegariam poucas doses com acordo da Pfizer e isso geraria frustração. Bem, É ÓBVIO que sem acordo teremos AINDA MENOS DOSES. É ridículo acharem que isso é motivo razoável!
gov.br/saude/pt-br/as…
Agora começa a nova das "cláusulas abusivas" que o governo tem reclamado sempre que pressionado. Vamos ver o que eles dizem...
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23 Jan
Reclama da cloroquina, mas acha que existe "alopatia". Estamos de olho.
Explicando: a divisão "homeopatia" vs "alopatia" foi inventada pelos homeopatas para tentar diferenciar "cura pelo semelhante" e "cura pelo oposto". Mas a medicina moderna nunca se baseou em "cura pelo oposto", o termo "alopatia" é completamente vazio de significado. 👇
Os dois princípios basilares da medicina moderna são éticos: o da beneficência (fazer o bem) e não-malevolência (procedimento não pode fazer mal injustificado ao paciente ou outros). Medicina Baseada em Evidência é só um jeito sistemático de descobrir o que faz bem e quanto.
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10 Jan
A história de laboratórios de vacinas Covid buscando não se responsabilizar por efeitos adversos deixou muitos com pé atrás. Parece suspeito, mas é só complexo. Escrevi longo texto no @JotaInfo explicando por que você não precisa se preocupar. Quer entender rápido? Segue o fio 👇
O 1º ponto a saber é que a não-responsabilização por efeitos adversos raros não é novidade das vacinas novas. Na verdade, essa regra já vigora para todas as vacinas em países desenvolvidos há décadas. Brasil, países pobres e em desenvolvimento é que ainda têm regulação antiga.
À primeira vista parece algo contra intuitivo ou até absurdo, porém há boas razões para ela existir. Vamos entender as razões para essa cláusula. Para isso precisaremos de um pouco de direito, economia, estatística e também de história.
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5 Jan
Em economia temos conceito de bem comum, que é um bem rival e não-excludente. Exemplo: vagas na rua. Vacinas não são bem comum porque são excludentes. Se elas não tivessem propriedade da exclusão, não conseguiríamos criar a lista de priorização que diz quem pode recebê-las antes.
Dizer que vacinas são bem comum provavelmente se deve a uma confusão com a saúde dos outros ser bem público (não-rival e não-excludente). Viver numa população imunizada contra uma doença traz benefícios individuais que são não-rivais e não é possível excluir alguém de recebê-los.
Isso explica, por ex, por que é tão difícil lidar com movimento antivacina. Eles recusam a vacina, mas pegam carona (free-ride) no bem público que a vacina gera que é a imunidade coletiva. Se esse comportamento se generaliza, acaba destruindo o bem público da imunidade coletiva.
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4 Jan
Oferta de vacinas pelo setor privado em uma pandemia é muito polêmico. Além da saúde pública, toca questões morais e políticas sensíveis. Há risco grave de cairmos em respostas simples que só prejudicarão combate ao Covid. Um pouco de análise econômica pode ajudar. Segue o fio👇
Antes de termos uma resposta, é preciso definir devidamente o problema. No caso são vários, vou numerar:

1 Maior nº de acordos de vacinas
2 Maior nº de doses
3 Máxima velocidade
4 Máximo impacto preventivo
5 Máximo impacto na redução do contágio

NÃO há resposta simples e fácil.
Vou apresentar duas respostas simples, fáceis e erradas que acredito que terão maior adesão no Brasil porque nós costumamos gostar muito desse tipo de resposta errada. Apresentarei a intuição e em seguida por que não é uma boa. Pode não caber no mesmo tweet então segue lendo.
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