O Inter de Abel Braga conseguiu uma sequência de nove vitórias consecutivas, assumiu a liderança goleando o São Paulo e chega à penúltima rodada mais vivo do que nunca. A final de domingo promete. O rubro-negro agora se pergunta: como joga o Inter?
Para começar, vamos olhar os números — sempre fazendo aquela ressalva importante de que as estatísticas são muito úteis para entender o jogo, mas precisam ser analisadas levando em conta o contexto de cada equipe e do campeonato.
Já surgem algumas conclusões interessantes...
A começar pela posse de bola. O Flamengo é, ao lado do Atlético-MG, o time que mais gosta da bola no campeonato. O Inter aparece em quinto, quase empatado com o Grêmio, por exemplo, que é considerado um time de muito mais posse…
Mas existe um detalhe importante. Se fizermos um recorte usando apenas os 10 últimos e os 5 últimos jogos do Inter, veremos que ele tem uma das menores médias de posse do campeonato!
Assim como o Flamengo, o Inter trocou de treinador, mudou jogadores e alterou seu estilo ao longo do campeonato. Portanto, esse recorte será muito importante. A partir de agora, todos os números incluirão os 10 últimos e 5 últimos jogos dos dois times.
Um parâmetro interessante é o que costumo chamar de “Quebra da posse”. Ele mostra o quão picotada é a posse de bola do time. Afinal, você pode ter uma posse contínua de 1 min ou 12 posses de 5 segundos. O tempo de posse total será igual, mas o jogo será radicalmente diferente.
Dá para ver que o Inter não apenas tem cada vez menos a bola, mas também tem a bola de forma mais picotada. Sinais de um time que vem se tornando cada mais direto.
A mesma conclusão pode ser vista no número de passes trocados por jogo.
Muito se fala na imposição física do time. De fato, é um time forte e intenso que, com esse jogo mais direto, coloca a bola em disputa lá na frente o tempo todo e depende dessa imposição para criar alguma coisa.
(Lembre-se que o Inter tem cada vez menos posse)
O jogo aéreo preocupa a torcida rubro-negra, mas é bom lembrar que o Fla é o time com o melhor aproveitamento no quesito, especialmente naquelas bolas lançadas e disputadas ali na intermediária. A diferença é que o Inter coloca a bola muito mais vezes em disputa.
Sem a bola, o Inter se consolidou como a defesa menos vazada do campeonato, tendo levado apenas oito gols nos últimos dez jogos.
Conseguiu fazer isso casando seu estilo direto com a bola e uma defesa bem recuada. Um clássico time de contra-ataque.
Cada vez mais, o Inter se fecha bem, deixa o adversário trocar passes por fora do bloco de marcação e não força a quebra da posse. Enquanto o outro time tem a bola, o Inter espera o momento certo para o bote e se sente confortável assim.
E quando digo “espera”, é um pouco isso mesmo. A marcação é ativa e concentrada, mas aquela imagem de um Inter frenético que disputa cada bola e atropela os adversários fisicamente já ficou no passado.
O objetivo é fechar o meio e forçar o adversário a jogar por fora. A partir daí, encurralar o adversário pelo lado, com a saída do lateral, do ponta e do meia saindo para cercar e fechar o avanço, mas só tentar roubar se a situação for favorável.
Mesmo tendo cada vez menos a bola, o Inter faz cada vez menos tentativas de roubada e enfrenta cada vez menos duelos defensivos. Isso, somado aos bons resultados, mostra um time cada vez mais consciente na hora de se defender.
E aí chegamos na estatística mais impressionante do Inter desde o início do campeonato. É um time que simplesmente não deixa o adversário contra-atacar. Apenas 9% dos contra-ataques do outro time geram finalização e esse número vem caindo!
Isso tem a ver com a maneira de jogar, claro. Um time que se defende mais recuado tende a oferecer menos chances no contra-ataque. Mas também tem a ver com a forma como o Inter vem construindo a história de seus jogos.
Nos últimos dez jogos, o Inter só teve posse de bola maior que o adversário em dois: Sport (62%) e Grêmio (51%).
Foram os dois únicos jogos em que o time comandado por Abel tomou o primeiro gol. Não é mera coincidência.
O Inter abriu o placar em 7 dos últimos 10 jogos.
Em 4, fez o primeiro gol antes dos 10 min: VAS (10’), RBB (4’), SPFC (8’) e FOR (4’ e 10’)
Nos 3 restantes, fez o gol no finalzinho do 1T ou comecinho do 2T: GOI (43’), CEA (53’) e BAH (45+1’ e 48’)
(O outro foi 0x0 contra o CAP)
Ou seja, se não é mais ligado no 220v como era o time de Coudet, que chegou no campeonato fisicamente muito acima dos outros e jogava todas as partidas numa rotação acima do adversário, atropelando fisicamente, o Inter de Abel sabe usar sua energia.
Começa sempre com uma blitz alucinante. Se abre o placar, dá a bola para o outro time, se fecha e segura o resultado.
Se não der certo no início, “guarda” (entre muitas aspas) energia para uma nova blitz no final do primeiro tempo/início do segundo ou para quando toma um gol.
Uma dinâmica mais ou menos parecida com o que vimos no jogo do primeiro turno. Mas ali, ainda com Coudet, o Inter foi muito mais incisivo na marcação-pressão ao longo de todo o primeiro tempo.
Há pouco tempo, esse seria um alerta vermelho gigantesco para o Flamengo. Afinal, o time parecia demorar para engrenar nos jogos e quase sempre tomava um gol cedo. Nos últimos tempos, no entanto, o problema vem se diluindo.
Com esses números gerais, dá para ter uma ideia bem razoável do modelo de jogo e do que Abel pode propor. A partir daí, podemos estudar as formações, escalações e mecanismos específicos de jogo, mas isso é assunto para outro post...
A estratégia é um ponto interessante sobre esse jogo. Afinal, a vitória dá o título ao Inter, mas o empate não é nada mal. Será que o time colorado vai tentar sua blitz inicial — que naturalmente envolve algum nível de risco — ou vem fechado de início?
É bom lembrar que a defesa do Inter vai ao Maracanã bastante desfalcada. Isso seria um incentivo para sair mais para o jogo — não confiando em uma atuação defensiva tão sólida — ou se fechar ainda mais — tentando proteger mais a zaga?
Times que colocam a bola o tempo inteiro em disputa acabam deixando o andamento do jogo mais aleatório, mas os resultados mostram que não há muita aleatoriedade nesse Inter. O time sabe o que está fazendo e tenta se impor desse jeito.
Não é um modelo de jogo muito sofisticado. Não é um time que se propõe a dar espetáculo. O Internacional compete. E compete muito!
Com o peso de 41 anos na fila, o time vem com sangue nos olhos.
O Flamengo é melhor, mas vai precisar mostrar isso dentro de campo.
Ah, todos os números são baseados nos dados do @InStatFootball
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Jogo é jogado e lambari é pescado. Não dá pra garantir resultado no futebol. Nesse campeonato, então, não tem jogo ganho.
Mas não dá para perder assim. É inacreditável ver o time indo de inoperante a inexistente ao longo de 90 minutos. Não há lógica que explique.
É um erro analisar o time só com base no que a gente quer.
Precisamos tentar entender o que o time quer. Isso envolve tanto o treinador quanto os jogadores.
Mas o que o Flamengo quer?!
Tomar decisões em um campo de futebol é difícil justamente porque cada decisão tem consequências.
Do sofá de casa, a gente diz "era só fazer isso", mas a nossa ideia não é testada pelo cruel encontro com a realidade. O treinador e os jogadores, sim, vivem essa pressão.
Essa foto circulou mais cedo pela internet. Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, estudando vídeos dos jogos do Flamengo.
Um detalhe não fugiu do olhar dos mais atentos: o nome do vídeo. "Perda Zona Alta" era o título do compilado.
O que pode querer dizer?
É comum que os bons treinadores estudem adversários usando vídeo.
Muitas vezes, compartimentam o jogo em vários pequenos pedaços para encontrar padrões. Ao separar um compilado de "perdas de bola em zona alta", o Palmeiras está procurando detalhes de uma situação específica.
A tal "perda em zona alta" representa nada mais do que todas as vezes que o Flamengo perdeu a bola no chamado "terço final", ou seja, a zona de ataque.
Abel e sua comissão querem saber como o time se comporta nessas situações para encontrar onde estão as brechas.
O São Paulo venceu com uma jogada ensaiada de escanteio. Mérito dos jogadores e também de Fernando Diniz e sua equipe.
Mas o detalhe mais legal passa despercebido: a jogada foi pensada especificamente pra esse jogo...
Fernando Diniz e sua equipe técnica estudaram direitinho o adversário.
Veja os escanteios cobrados contra o Sport nos últimos quatro jogos. Veja onde sempre tem um buraco na marcação...
O que o SPFC fez? Usou cinco caras arrastando a defesa para perto do gol e colocou Luciano (canhoto) longe do bloqueio. Na hora certa, correu para o espaço vazio.
O espaço que SABIAM que estaria lá.
A cobrança veio aberta e rápida, perfeita para a finalização.
Todo mundo sabe que o principal desafio do Flamengo é ajustar a defesa. O problema não vem de hoje: desde o início do ano o setor não vem bem. Mas agora, no momento mais agudo da temporada, é uma necessidade latente, a prioridade número 1 de Rogério Ceni.
Há problemas coletivos, envolvendo o time todo. Se a marcação na frente não está ajustada, a bola chega limpa para cima dos zagueiros. Se há muito espaço entre os setores, a zaga fica exposta… Todos já sabemos disso
Um roteiro tão bizarro que chega a ser angustiantemente previsível.
Uma noite muito triste. Aliás, mais uma.
Na Argentina, oscilou, teve altos e baixos, passou perrengue no começo dos dois tempos, mas conseguiu empatar logo depois de tomar o gol e levou o 1x1 até o fim.
O Racing foi cansando e o Flamengo cresceu muito na segunda metade do segundo tempo.
Faltando 20 min de jogo, o time já controlava a posse e ditava o ritmo. Preocupado, Beccacece recuou o time, fez uma substituição para fechar o lado direito... Parecia que a virada viria naturalmente.
O Flamengo foi à Argentina, empatou com o Racing e voltou para casa com um resultado vantajoso, porém perigoso.
Um jogo de altos e baixos, alguns momentos de perrengue e escolhas curiosas. Quero mergulhar justamente nas escolhas de Rogério Ceni!
Olhar para as escolhas de um treinador pode ser mais complicado do que parece. Segundo o @luis_cristovao, sofremos de uma doença coletiva chamada “treinadorismo”, que nos leva a analisar cada decisão unicamente a partir das nossas próprias ideias.