A temporada 2007 marcava a volta do Flamengo à Libertadores da América.
Depois de alguns anos fora, o clube voltava a sonhar depois da conquista da Copa do Brasil em 2006. Transformou o título em obsessão e, numa doce ilusão, reforçou o elenco em busca do caneco.
Sim, o time titular do Flamengo em busca da América tinha Bruno, Léo Moura, Irineu, Angelim e Juan; Paulinho, Claiton, Renato Abreu e Renato Augusto; Roni e Souza.
Moisés, Jailton, Leandro Salino, Léo Lima e Juninho Paulista também eram peças importantes do elenco.
Olhando hoje, com a sabedoria que o distanciamento do tempo nos oferece, parece loucura, mas o rubro-negro iniciou o ano falando realmente em chegar longe na competição continental.
Por incrível que pareça (hoje), passou pela fase de grupos com a segunda melhor campanha: 5V e 1E
Enquanto isso, jogava um Campeonato Carioca que ainda tinha algum charme na participação das equipes menores, mais fortes do que hoje e favorecidos por um campeonato mais curto.
Em 2005, o Flu venceu o Volta Redonda na final. Em 2006, o Botafogo foi campeão em cima do Madureira.
Em 2007, a bola da vez era de novo o Madureira, que na última rodada da Taça Guanabara sapecou o Flamengo por 4x1 em Moça Bonita.
Marcelo Mariola, artilheiro do time, fez todos os gols do Tricolor Suburbano.
Ele foi o segundo jogador da história a marcar quatro contra o Flamengo no mesmo jogo. O primeiro foi ninguém menos que Ferenc Puskás, em 1957, pelo Honved.
Na final daquela mesma Taça Guanabara, Flamengo e Madureira se encontraram mais uma vez e Marcelo foi expulso logo no início do segundo tempo.
Mesmo com dez, o Madureira venceu por 1x0 com gol do jovem Maicon.
Mas ainda tinha o segundo jogo...
O Flamengo estava mordido. Ney Franco mostrava na preleção — em uma TV de tubo — imagens do capitão tricolor, Djair, dizendo que o time do Flamengo era muito estático, o que facilitava a marcação do adversário.
Com a desvantagem no placar agregado, o foco na Libertadores e um jogo importante pela competição nacional na semana seguinte, contra o Paraná, havia apreensão no clube, mas quase 58 mil rubro-negros foram ao Maracanã apoiar o Flamengo em um jogo louco.
Souza abriu o placar no primeiro minuto, Léo Fortunato empatou aos 3', Souza colocou o Flamengo na frente mais uma vez aos 8' e bateu no peito: "Sou foda!"
Renato Augusto ampliou aos 13' e, no finalzinho, Renato Abreu converteu o pênalti sofrido por Claiton e fechou o placar.
Concentrado na Libertadores, o Flamengo nem sequer se classificou às semifinais da Taça Rio. Enquanto isso, surgia um novo favorito ao título...
O Botafogo de Cuca fez 19 gols e sofreu 5, conquistando 15 pontos nos 6 jogos disputados. Com Lúcio Flávio, Jorge Henrique, Zé Roberto e Dodô — grande estrela da companhia —, aquele time passou a ser conhecido — entre os botafoguenses — como "Carrossel alvi-negro"
A final do Campeonato Carioca colocava, finalmente, os dois rivais frente a frente.
O Flamengo trabalhava em duas frentes e tinha as oitavas da Libertadores logo depois. O Botafogo, jogando melhor, queria o bicampeonato.
No primeiro jogo, um baile alvi-negro. O Flamengo simplesmente não viu a cor da bola no primeiro tempo e saiu perdendo por 2x0.
Ney Franco decidiu dar confiança ao time e não substituiu no intervalo.
O Fla voltou melhor, mas o jogo estava totalmente aberto.
Até que, aos 17', um lance muda tudo.
Souza acha um lindo passe para Renato, que dribla o goleiro e sofre pênalti. Júlio César é expulso e o Botafogo fica com um a menos e Cuca sacrifica Lúcio Flávio para colocar Max.
Renato converte, o Flamengo cresce, Léo Lima cruza, Max falha e Souza empata.
O Flamengo está vivo!
No meio da semana, o time vai ao Uruguai enfrentar o Defensor e volta com uma o peso da derrota por 3x0 na bagagem. Uma atuação deplorável, ainda pior que a do primeiro tempo na final do Carioca.
Para piorar, o Clube suspende o contrato de Juninho Paulista, que ficou revoltado ao ser substituído no intervalo no Uruguai e saiu xingando Ney Franco.
"Você não é ninguém para tirar um pentacampeão do mundo do time"
O Flamengo vê seu sonho ruir. Está em frangalhos.
Mesmo assim, 63 mil pessoas comparecem ao segundo jogo da final estadual. A cada dez, sete ou oito vestiam vermelho e preto.
O Flamengo não joga um futebol brilhante, mas abre o placar aos 11' do segundo tempo.
O gol, no entanto, acorda o Botafogo, que cresce, engole o adversário, vira em menos de seis minutos e continua colocando pressão.
Ainda há esperança?
"A torcida do Flamengo nos empurrou. Se não tivesse torcida, a gente não conseguiria virar", diz Claiton um tempo depois.
O volante, que havia jogado no Botafogo no ano anterior, conta uma história curiosa...
Lá para a metade do segundo tempo, há uma sequência de escanteios para o Flamengo.
Claiton é responsável por marcar Dodô na linha de meio-campo e fica alguns minutos ao lado do ex-companheiro.
"Ele olhou para a torcida do Botafogo atrás do gol, sentada, ganhando, com pouco tempo para ser campeão a torcida do Flamengo vibrando, cantando..."
O seguinte diálogo se desenrola...
"Pô, Claiton, é brincadeira..."
"Dodô, vou ser muito sincero contigo. Eu tô muito confiante!"
O Flamengo pressiona, mas não cria. Tem volume, mas não gera perigo...
Até que Renato Augusto, tão criticado por não saber finalizar, acerta seu famoso POMBO SEM ASA, o melhor chute de sua carreira.
"Eu achei que estava mais perto. Por isso arrisquei", disse depois.
A decisão vai para os pênaltis. O Botafogo, muito melhor nos 180 minutos, perde as duas primeiras cobranças. O Flamengo levanta o caneco e inicia a sequência do penta-tri.
Hoje o futebol brasileiro é muito diferente e, principalmente, o Flamengo é outro. Vive, de verdade, em outro patamar. Sonha com a conquista da América com elencos realmente valiosos e vê a distância para os rivais locais aumentar cada vez mais.
Mas ainda somos o Flamengo. Nosso espírito ainda é aquele: apoiar até o final.
Infelizmente, ainda estamos longe dos estádios — e sabemos o impacto que a falta da Magnética tem. Mas o Flamengo sempre foi nacional, sempre foi também sobre apoiar de longe.
O que os outros veem como soberba nada mais é do que confiança. É fé.
Não me venham com esse papo de "zica reversa".
O Flamengo é sobre acreditar. Sempre. Até o final.
Vamos com tudo!
PS: Os depoimentos e as imagens usadas no texto são do filme "Conte Comigo Mengão", da Fla-Filmes, que narra a história daquele Carioca através de entrevistas com os jogadores, com o treinador, com o grande @carlosemansur e imagens feitas diretamente da arquibancada.
PS2: de tanto acreditar, a Magnética levou na marra esse time (reformulado depois da eliminação na Libertadores) ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro.
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O Inter de Abel Braga conseguiu uma sequência de nove vitórias consecutivas, assumiu a liderança goleando o São Paulo e chega à penúltima rodada mais vivo do que nunca. A final de domingo promete. O rubro-negro agora se pergunta: como joga o Inter?
Para começar, vamos olhar os números — sempre fazendo aquela ressalva importante de que as estatísticas são muito úteis para entender o jogo, mas precisam ser analisadas levando em conta o contexto de cada equipe e do campeonato.
Já surgem algumas conclusões interessantes...
A começar pela posse de bola. O Flamengo é, ao lado do Atlético-MG, o time que mais gosta da bola no campeonato. O Inter aparece em quinto, quase empatado com o Grêmio, por exemplo, que é considerado um time de muito mais posse…
Jogo é jogado e lambari é pescado. Não dá pra garantir resultado no futebol. Nesse campeonato, então, não tem jogo ganho.
Mas não dá para perder assim. É inacreditável ver o time indo de inoperante a inexistente ao longo de 90 minutos. Não há lógica que explique.
É um erro analisar o time só com base no que a gente quer.
Precisamos tentar entender o que o time quer. Isso envolve tanto o treinador quanto os jogadores.
Mas o que o Flamengo quer?!
Tomar decisões em um campo de futebol é difícil justamente porque cada decisão tem consequências.
Do sofá de casa, a gente diz "era só fazer isso", mas a nossa ideia não é testada pelo cruel encontro com a realidade. O treinador e os jogadores, sim, vivem essa pressão.
Essa foto circulou mais cedo pela internet. Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, estudando vídeos dos jogos do Flamengo.
Um detalhe não fugiu do olhar dos mais atentos: o nome do vídeo. "Perda Zona Alta" era o título do compilado.
O que pode querer dizer?
É comum que os bons treinadores estudem adversários usando vídeo.
Muitas vezes, compartimentam o jogo em vários pequenos pedaços para encontrar padrões. Ao separar um compilado de "perdas de bola em zona alta", o Palmeiras está procurando detalhes de uma situação específica.
A tal "perda em zona alta" representa nada mais do que todas as vezes que o Flamengo perdeu a bola no chamado "terço final", ou seja, a zona de ataque.
Abel e sua comissão querem saber como o time se comporta nessas situações para encontrar onde estão as brechas.
O São Paulo venceu com uma jogada ensaiada de escanteio. Mérito dos jogadores e também de Fernando Diniz e sua equipe.
Mas o detalhe mais legal passa despercebido: a jogada foi pensada especificamente pra esse jogo...
Fernando Diniz e sua equipe técnica estudaram direitinho o adversário.
Veja os escanteios cobrados contra o Sport nos últimos quatro jogos. Veja onde sempre tem um buraco na marcação...
O que o SPFC fez? Usou cinco caras arrastando a defesa para perto do gol e colocou Luciano (canhoto) longe do bloqueio. Na hora certa, correu para o espaço vazio.
O espaço que SABIAM que estaria lá.
A cobrança veio aberta e rápida, perfeita para a finalização.
Todo mundo sabe que o principal desafio do Flamengo é ajustar a defesa. O problema não vem de hoje: desde o início do ano o setor não vem bem. Mas agora, no momento mais agudo da temporada, é uma necessidade latente, a prioridade número 1 de Rogério Ceni.
Há problemas coletivos, envolvendo o time todo. Se a marcação na frente não está ajustada, a bola chega limpa para cima dos zagueiros. Se há muito espaço entre os setores, a zaga fica exposta… Todos já sabemos disso
Um roteiro tão bizarro que chega a ser angustiantemente previsível.
Uma noite muito triste. Aliás, mais uma.
Na Argentina, oscilou, teve altos e baixos, passou perrengue no começo dos dois tempos, mas conseguiu empatar logo depois de tomar o gol e levou o 1x1 até o fim.
O Racing foi cansando e o Flamengo cresceu muito na segunda metade do segundo tempo.
Faltando 20 min de jogo, o time já controlava a posse e ditava o ritmo. Preocupado, Beccacece recuou o time, fez uma substituição para fechar o lado direito... Parecia que a virada viria naturalmente.