Muita gente não entende como os EUA têm emitido tanta moeda e não têm inflação. Isso não é simples. Mas passa <<também>> por um boom acentuado das importações. Sobretudo vindas da China (1/7).
Mas rola um processo chamado "reciclagem de capitais". O governo americano, que imprime a moeda universal, estimula seus consumidores a comprarem. Os EUA não produzem para suprir isso. O que fazem? Compram de fora! (2/7).
Mas como os EUA fazem esse estímulo? Dentre outras coisas porque países de quem eles compram mercadorias, por outro lado, compram títulos do tesouro americano -- que possibilita o começo dessa operação. A China é o grande ator nesse sentido (3/7).
A China todo esse tempo exportou mais e melhor para os EUA. E mesmo aumentando salários, conseguiu ter ganhos de eficiência que mantiveram seus produtos interessantes. Com os excedentes comprou títulos do tesouro americano (4/7).
Trump, de um modo tosco e grosseiro, apenas externou a opinião de meios conservadores e liberais. Mas ele fracassou em travar a China em 2017-18, conseguindo "êxito" apenas a partir de 2019. Isto é, travar o crescimento dos déficits com a China. Essa foi a "vitória" (5/7).
Mas veio a pandemia. E a China conseguiu reverter, como nenhum outro grande país, o caos sanitário. Agora, em 2021, a boca do jacaré do comércio sino-americano voltou a abrir. Vejam: census.gov/foreign-trade/… (6/7).
Nesse sentido, quando o pacote de Biden vier, ainda mais com os EUA feridos pela má gestão da pandemia, a tendência é que isso fique até melhor pra China. A produtividade cai na América. Para não ter inflação, Washington vai ter de comprar mais ainda de fora (7/7).
P.S. 1: Olhem só para este gráfico de produtividade do trabalho nos EUA. Está caindo. Mais dinheiro, por estímulo lá, terá dois caminhos. Ou aumento da inflação ou, o que é mais provável, aumento das importações. tradingeconomics.com/united-states/…
P.S.2.: Quem ganha e já está ganhando é a China. Por ora, as tentativas americanas de diversificarem a carteira de importadores se saiu mal, porque a China, como a pandemia prova, é um elemento singular em matéria de organização socioeconômica de larga escala.
P.S.3: O plano Biden é correto? Quase. Ele não ajuda o suficiente os trabalhadores e o serviço público. Mas ele tem razão no geral. No médio prazo, isso ajuda os EUA a saírem da crise pandêmica, que foi agravada por Trump. Mas no curto prazo, ganha a China pelas razões elencadas.
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O neoliberalismo "funcionou" nos EUA da seguinte maneira: com uma enorme oferta de crédito para os trabalhadores, criou uma legião de endividados dóceis. Mas 2008 marcou o começo do fim disso. Entendam (1/7).
Basicamente, tudo que era necessário, encareceu e passou a ser causa de endividamento: moradia, saúde e educação. Bens de consumo, ao contrário, baratearam. Sobretudo computadores, celulares etc (2/7).
Em um país onde tudo é pago e não existe uma rede de bem-estar social, isso foi chegando em um limite. Do quanto as pessoas poderiam pagar e, é claro, o quanto eles poderiam financiar (3/7).
A China teve o maior registro de crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2020, os já famosos 18,3%. É claro: ano passado, sob os efeitos da pandemia, houve queda de 6,8%. Há quem aponte senões, há quem comemore. Mas sim, é uma vitória indiscutível, mas temos de pensar (1/15):
A queda de 6,8% do ano passado era 0,4 a mais que o crescimento de 2019. A previsão dos mercados era de crescimento de 19,2% para 1º tri/2020, com os números ficando abaixo -- e a média dos três últimos 1º trimestres ficou ligeiramente abaixo dos 6% (2/15).
Com o 4º tri do ano passado a China crescendo 6,5%, parecia havia uma recuperação da taxa de "apenas" 6% do 4º tri 2019, causado em grande medida pela guerra comercial de Trump. Surgiu um otimismo que não foi inteiramente comprado pelos próprios planejadores da China (3/15).
Bolsonaro vai testar as armas para ver se consegue ir para sua batalha de Berlim. A queda de Ernesto Araújo e agora a demissão de Azevedo e Silva, indicam isso. Mas ele não está indo para o tudo ou nada, ele está testando para ver se consegue ir para a batalha final (1/10)
O grande ponto é que Bolsonaro está sem o STF -- e se descobriu dependente dos presidentes da Câmara e do Senado que ele gastou tudo para eleger. Agora, ele abriu pela primeira vez um confronto aberto com o alto comando do Exército (2/10).
Não é que chegamos aqui porque "Bolsonaro ganhou a 'guerra cultural' em 2020" como disse Elio Gaspari. Bolsonaro esteve nas cordas, mas foi salvo pelo gongo (tocado antecipadamente) pela turma que separa isso daí em "ala ideológica" e "ala técnica" (3/10).
A decisão de Fachin foi acertada no teor, mas não deixa de ser uma meia-verdade, embora revele uma parte da grande farsa que foi a Lava Jato - onde uma vara da Justiça Federal em Curitiba passou a ter competência jurisdicional total, o que sempre foi uma aberração. Entenda (1/7):
Sempre que eu discuti Lava Jato com os amigos, sobretudo com o pessoal de fora do Direito, eu enfatizava: "para começo de conversa, como TUDO AQUILO pode ter tramitado na Justiça Federal de Curitiba?" (2/7).
Sim, porque na "Lava Jato" para além de uma mistura entre polícia, acusação e judiciário, havia uma bisonha lógica de que TODOS AQUELES FATOS TERIAM CONEXÃO ENTRE SI. Não tinham, é óbvio (3/7).
Aécio Neves, quem diria, volta à cena com Lira no comando da Câmara. Isso mostra que a sucessão de Rodrigo Maia, menos que uma vitória de Bolsonaro, ilustra uma sofisticada e sorrateira nas fileiras da "direita tradicional" pelo poder. Entendam (1/10).
Em 2014, Aécio se afastou do que seria uma colaboracionismo com o Lulismo e retomou uma linha FHCista no PSDB. Mais do que isso, subiu como ninguém o tom, baixando o nível, contra uma combalida Dilma (2/10).
Ele, Aécio, surfou na onda do direitismo que é *também* um dos efeitos de 2013. Mas na hora H, ele não enfiou o pé, sabe-se lá para onde, para vencer Dilma. Há quem diga que se negou, inclusive, a permitir Bolsonaro no seu palanque. Perdeu, por pouco (3/10).
Há quase um ano eu comentei, no thread compartilhado abaixo sobre o cenário catastrófico da economia brasileira. Risco de inflação, descontrole e, inclusive, alta dos juros pelo cenário versus a política econômica de Bolsonaro-Guedes (1/10).
Muitas coisas estão se confirmando agora, mas tudo tende a ser pior pelo descontrole da pandemia e da farsa dos últimos meses. Havia um mundaréu de coisas que foram ignoradas, talvez pelos motivos errados, um deles é a inflação (2/10).
Guedes culpa o auxílio-emergencial pelo aumento dos preços, mas (1) ele sabe que isso é mentira; (2) ele conta essa história porque odeia o fato de ter precisado dar o auxílio e, ainda, precisa de um argumento para estruturar um arrocho pós-pandemia (3/10).