A decisão da @anvisa_oficial , ontem, sobre a Sputnik-V pegou muitas pessoas de surpresa. Questões relevantes foram apontadas, culminando com a não autorização de pedidos de importação emergencial da vacina.
Vou comentar brevemente alguns dos pontos pra ajudar na compreensão🧶
Vamos em partes. Podemos acompanhar o andamento das análises das vacinas em que pedidos de aprovação foram realizados aqui no Brasil: gov.br/anvisa/pt-br/a…
🕐Cronologicamente, a @anvisa_oficial tinha anteriormente enviado ao STF laudos internos da avaliação científica sobre os dados da Sputnik-V apontando algumas preocupações, em especial, a ausência de alguns dados www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
A @anvisa_oficial então solicitou informações às autoridades russas e a outros países que haviam aprovado a vacina para complementação. Argentina e México enviaram seus dados e irregularidades foram encontradas 🚨 saude.estadao.com.br/noticias/geral…
Dentro das irregularidades, questões muito relevantes sobre segurança e a qualidade da produção do imunizante foram levantadas.
Em todos os lotes analisados foram encontrados adenovírus replicantes. Por que isso é importante? Na produção de vacinas baseadas em vetores virais, o vetor viral é responsável por levar para a célula a informação pra gerar uma proteína, p. ex.
Na imagem acima temos como é o processo para a Sputnik-V: usam-se 2 vetores adenovirais (Ad26 para a 1ª dose e Ad5 para a 2ª dose). Explico melhor isso na análise dos dados de fase 1/2 aqui nesse fio, comentando o porquê de usar 2 vetores:
Adenovírus (Ad) no geral são bons vetores e muito usados em vacinas e em outras abordagens. E modificar esses adenovírus para que eles não sejam capazes de se replicar (gerar cópias) é uma estratégia muito usada para garantir a segurança sciencedirect.com/topics/medicin…
Isso porque a maioria dos Ad causa doenças em pessoas que apresentam imunocomprometimento, p.ex. Mas, se detelarmos regiões do material genético, incapacitando eles de replicar, aumentamos sua previsibilidade e reduzimos os efeitos colaterais indesejados. ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/P…
Portanto é muito importante que o vetor adenoviral seja do tipo *NÃO REPLICANTE*, para garantir todos esses aspectos.
Foi observado que, em todos os lotes analisados da Sputnik-V, foram encontrados adenovírus replicantes.
Como comentado, e também na análise da @anvisa_oficial "pode provocar infecções em seres humanos e, de acordo a Anvisa, causar danos e óbitos, especialmente em pessoas com baixa imunidade e problemas respiratórios, entre outros problemas de saúde”. outraspalavras.net/outrasaude/as-…
2⃣ Transparência nos dados
Não foram apresentados estudos clínicos que avaliam como a vacina e seus componentes se comportam no organismo humano e em animais. Além disso, há questões nos protocolos dos ensaios clínicos que foram realizados oglobo.globo.com/sociedade/saud…
Essas questões quanto ao ensaio clínico, e sobre a transparência num modo geral, podem ser esclarecidas disponibilizando todos os dados para essa análise. @jasonptodd coloca alguns desses pontos aqui nesse brilhante fio:
Ressalto: essas questões do protocolo NÃO SIGNIFICAM que a vacina não seja eficaz. Significa, somente, que precisa de maior esclarecimento para garantir a confiabilidade nos dados apresentados. É realmente uma questão de maior transparência quanto ao processo
3⃣ Controle de qualidade
Um dos pontos levantados foi a falta de informações sobre o controle de possíveis impurezas na vacina. Desde a realização dos ensaios clínicos houve mudanças nos locais de fabricação do (ingrediente farmacêutico ativo) IFA e do produto acabado.
Além da escala de produção e dos testes de controle de qualidade. Não se sabe se o produto vendido hoje é comparável ao usado nos ensaios. Até mesmo nos países que já aprovaram, isso está sendo uma questão levantada nytimes.com/2021/04/08/wor…
Nesse momento, há um imbróglio rolando sobre a visita que a @anvisa_oficial realizou a fabrica. A @anvisa_oficial declarou que houve recusa para a visita da instalação, mas o Inst. Gamaleya nega que esse pedido foi feito.
Segundo a matéria abaixo, "Só deu para visitar duas plantas terceirizadas pela Rússia para a produção da vacina pronta e do IFA e, de acordo Marino, não foi possível garantir a qualidade do processo produtivo nesses locais. " outraspalavras.net/outrasaude/as-…
Nesse momento em que diversas manifestações sugerem que a análise da @anvisa possa ter tido interferência política, o primeiro passo para a resolução me parece lógico:
Inclusive, esse ponto aqui é de extrema relevância. infelizmente sim estamos vivendo um contexto assombroso polarizado, com pressões políticas, ninguém está negando isso. Mas isso aqui é relevante:
Portanto, sim ter agências autorizando gera uma cadeia de confiabilidade, no entanto a nossa análise não pode se sustentar somente nisso. @US_FDA , EMA e a @anvisa_oficial analisam os relatórios técnicos para dar essa aprovação sanitária. É responsabilidade deles.
[FIO EM CONSTRUÇÃO]
💭"Ahhh mas é a mesma Anvisa que liberou agrotóxicos..."
Pessoal, partindo de uma premissa lógica: o comitê que faz a análise de vacinas são pessoas especializadas e capacitadas para esse assunto. Outros assuntos, são outros comitês.
Aqui é um claro exemplo de tentar justificar o azul do céu pelo azul do mar. São coisas diferentes e não vou entrar no mérito desse outro assunto neste momento. Estamos falando de análise de VACINAS que é completamente diferente de outras análises.
E fazendo um disclaimer relevante: eu sou a favor de vacinas, o que eu mais quero é que vacinas cheguem aqui no país, que sejam aprovadas pela @anvisa_oficial e a gente consiga iniciar a vacinação de grupos não-prioritários ainda este ano. É meu sonho maior
No entanto, não podemos e nem devemos abaixar a régua para questões importantes, porque é justamente esse rigor que faz a gente dormir em paz de que as vacinas que foram aprovadas passaram por um rigor científico que é capaz de detectar problemas quando eles existem
Portanto sim, me preocupa nesse momento, com muitos governos contando com essas doses, não termos conseguido a aprovação, mas entendo e aceito as razões. Espero que o Inst. Gamaleya possa esclarecer os pontos levantados para podermos dar continuidade ao processo
E que a queda de braço sobre quem fez o que dê espaço para dados, transparência, agilidade na entrega dessas informações e adequação do que é necessário segundo nossa legislação. Que o que precisar ser esclarecido seja, para todos os lados.
Precisamos de vacinas, URGENTEMENTE. Mas isso não pode abaixar nossa régua. O processo é seguro e funciona há muitos e muitos anos justamente porque é rigoroso.
Ficamos no aguardo, e na esperança de que a resolução venha da forma mais adequada e rápida possível
Vamos ser práticos, nos desnudando de possíveis viéses políticos ou quaisquer que sejam que não técnico- científicos: algumas questões sobre o imbróglio da @anvisa_oficial e @sputnikvaccine
1) Controle de qualidade:
- O Inst. Gamaleya mandou a documentação de vários lotes que foram inspecionados
- Na documentação acusava a presença de vetores adenovirais replicantes
- No artigo de fase 3, consta que os vetores são não-replicantes thelancet.com/journals/lance…
- Existe um limite tolerável de vetores adenovirais replicantes em uma amostra, pois eventualmente mesmo com todo o processo para torná-los deficientes de replicação, uma coisa e outra pode aparecer
🩸 Grupo sanguíneo NÃO afetam o risco de contrair COVID-19! Estudo da @JAMA_current traz dados mostrando que associações entre COVID-19 e grupos ABO não serão fatores úteis associados à suscetibilidade ou gravidade da doença em um nível individual ou populacional
No início da pandemia, alguns estudos levantaram a hipótese de que as pessoas com sangue do tipo 🅰️ eram mais suscetíveis à COVID, enquanto aquelas com sangue do tipo 🅾️ eram menos suscetíveis.
Dados interessantes do @Eurosurveillanc indicando que uma proporção maior de casos de COVID-19 pela infecção por VOC (B.1.1.7: 11,0%; B.1.351: 19,3%, e P.1: 20,0%) foram admitidos em hospitais do que não-VOC
Tem alguns pontos importantes nessa análise, dá só uma olhada 👇
Foi caracterizado quais faixas etárias teriam um maior risco de hospitalização considerando cada variante, mas existem fatores que modificam isso, como o grau de exposição dessas faixas etárias, mobilidade... É um dado super relevante, mas temos que olhá-lo de forma + abrangente
Um ponto que me deixou preocupada: "No início, taxas de infecção mais altas em grupos mais jovens em idade escolar com infecções subsequentes em todas as faixas etárias foram observadas no Reino Unido"
Quando a transmissão está alta, todos expostos estão em maior risco
@anvisa_oficial não autoriza a importação da vacina Sputnik-V. O @jasonptodd comenta alguns pontos relevantes durante a análise. Há diversas questões documentais, com a produção do vetor adenoviral e a não certificação de boas práticas de fabricação pelo laboratório.
Sempre foi uma questão a transparência nos dados. Muito comentamos isso durante a condução dos estudos clínicos e após a conclusão da fase 3. Se o imunizante não atende os requisitos da agência, seria uma falha na própria análise e certificação autoriza-lo, nesse momento
Vou escrever mais sobre isso a medida que vamos recolhendo mais dados sobre a situação. Espero também observar a manifestação do Inst. Gamaleya (quem produz a Sputnik-V)
Butantan localiza variante sueca do novo coronavírus em SP e confirma outro caso da sul-africana. Mais do que nunca, investir em ciência, seguir com a vigilância e aumentar as restrições e adesão das medidas de enfrentamento é imperativo
A variante emergente da África do Sul é a B.1.351. Sabemos que apresenta um conjunto de mutações, como a E484K, que podem estar relacionadas com um aumento do escape da resposta imunológica por pessoas recuperadas e por algumas vacinas*
*no caso de Vacinas, algumas testaram um dos componentes que forma resposta imunológica contra o agente infeccioso, a ação é quantidade dos anticorpos neutralizantes. Nesses estudos, observa-se um impacto significativo pela B.1.351, mas não temos dados da imunidade celular, p. ex
👥373.402 participantes de idade ≥16 anos contribuíram com 1.610.562 resultados a partir de amostras coletadas de nariz e garganta para RT-PCR entre 1 de dezembro de 2020 e 3 de abril de 2021.
🔍O principal objetivo aqui era investigar as probabilidades de novos casos de COVID-19 nessa população de UK.
👉A probabilidade foi reduzida em 65% naqueles com ≥21 dias desde a 1ª vacinação (sem segunda dose) vs. indivíduos não vacinados (sem evidência de infecção prévia)