Vou aproveitar que amanhã é o dia do depoimento do Pazuello à CPI para relembrar sobre um episódio muito grave que aconteceu logo após a demissão de Nelson Teich: o APAGÃO DE DADOS. E a gente tem mensagens de WhatsApp sobre o assunto! Vem comigo, @randolfeap e @renancalheiros:
Tudo começou em 04 de junho de 2020, quando o site do Ministério da Saúde foi retirado do ar. Junto a isso, os números de casos e óbitos foram alterados para priorizarem apenas as informações das últimas 24 horas, sem dados consolidados. noticias.uol.com.br/saude/ultimas-…
A iniciativa veio logo após o horário de divulgação dos números da pandemia ser alterado, passando a ser mais tarde (mudando de 17h para 22h). Era uma forma de atacar a imprensa. O presidente ironizou: “Acabou matéria no Jornal Nacional”. g1.globo.com/politica/notic…
Quando o portal da Saúde voltou a funcionar, em 05 de junho, ele não tinha nenhuma informação sobre os casos novos (registrados no próprio dia). Os números consolidados e o histórico da doença desde o começo desapareceram, bem como os links para downloads de dados em tabelas.
O presidente tentava interferir nos números desde abril daquele ano. Para ele, era essencial que as coletivas fossem iniciadas com um “placar da vida” e não com as informações relevantes ao público. A ideia era omitir as mortes de Covid-19. veja.abril.com.br/blog/radar/apa…
Carlos Wizard, que naquele momento estava trabalhando com o Ministério da Saúde, justificou a medida em entrevista de 05 de junho. Ele disse que o Governo recontaria o número de mortos: “(...) o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado”. blogs.oglobo.globo.com/bela-megale/po…
“Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos”. Está claro, né? O negacionismo motivou o apagão de dados.
Para Pazuello, contudo, aquilo na verdade era apenas “uma mudança técnica”. Não seria uma mentira? Importante confrontar o ex-ministro sobre isso, ainda mais depois de reiteradas falas de Bolsonaro duvidando dos dados oficiais da pandemia. exame.com/brasil/pazuell…
É importante destacar que mensagens de WhatsApp obtidas pela Reuters, diretamente de um grupo do Ministério da Saúde, mostram como o apagão de dados ocorreu. Em 05 de junho, às 17h23, Jorge Luiz Kormann escreveu: "Retirar do ar números CUMULATIVOS!!!!".
Logo em seguida, a ordem foi atendida. Kormann é tenente-coronel da reserva e deixava claro estar atuando sob o direcionamento de Pazuello. Em 08 de junho, apenas três dias depois da ordem de remover os dados, ele foi promovido a secretário-executivo adjunto da pasta.
Tudo se desenrolou rapidamente: Bolsonaro viria a público, no Twitter, defender a medida em 06 de junho. Mas a reação foi imediata. A Universidade John Hopkins excluiu o país do seu levantamento sobre a pandemia por falta de informação e a imprensa se uniu sob um consórcio.
Somente em 09 de junho, atendendo a uma decisão do STF e após o desgaste sofrido pelo Governo forçar até Carlos Wizard a deixar Brasília, que os dados da pandemia voltaram a aparecer no site do Ministério da Saúde: g1.globo.com/politica/notic…
Bolsonaro tinha um motivo para pedir a mudança de divulgação: ele queria ocultar que o Brasil estava registrando mil mortes por dia. A solução então teria sido separar os óbitos das últimas 24 horas daqueles que apenas foram confirmados na data. saude.estadao.com.br/noticias/geral…
O problema é que, sem dados acumulados sendo divulgados, e como leva tempo para um óbito de Covid-19 ser registrado – justamente em razão da seriedade do trabalho e da necessidade de haver uma comprovação de infecção pela doença –, estavam escondendo o problema embaixo do tapete.
E, afinal, como disse Pazuello após o presidente suspender a compra de vacinas feita pela sua pasta: “É simples assim: um manda e o outro obedece”. g1.globo.com/politica/notic…
Hoje, o presidente segue desconfiando dos dados. Em abril, com Queiroga à frente da Saúde, ele disse: “Pedi (...) para o ministro (...) apresentar nos últimos cinco anos quantas pessoas morreram de cada doença (...) o vírus matou o mosquito da dengue”. noticias.uol.com.br/ultimas-notici…
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BOLSONARO ASSUMIU PROPOSITALMENTE O RISCO DE MATAR BRASILEIROS
Pautado por uma ideia absurda de que “70%” do país pegaria o vírus e seria melhor acelerar o contágio, o presidente estimulou a infecção e, no mínimo, assumiu o risco de provocar, como resultado, a morte.
Segue o 🧶
Na pandemia, o termo “imunidade de rebanho” ganhou popularidade: a ideia é que, com uma certa porcentagem de pessoas infectadas, a transmissão da doença seja interrompida. É para deixar tudo aberto então? Especialistas desaconselhavam: milhões morreriam. bbc.com/portuguese/int…
A tese de que o contágio da população ajudaria a alcançar a imunidade coletiva mais rápido, e que isso valeria a pena, não era inédita: no Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson chegou a querer botá-la em prática, mas foi demovido por um estudo. oglobo.globo.com/sociedade/estu…
É impressionante: quando a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses em agosto, não tinha nenhum problema com a lei. Nas outras duas propostas, também não. Agora, depois de atacarem as “cláusulas leoninas” que aceitaram de bom grado depois, inventam essa lorota. (1/n)
Eu tenho preguiça das pessoas que insistem que não existe nenhum risco democrático porque, em primeiro lugar, a erosão democrática já aconteceu e segue a pleno vapor. Ninguém disse que com certeza teria um golpe, mas sim que um autoritário no Poder Executivo era um risco enorme.
Em relação a um golpe de estado propriamente dito, vale destacar que a literatura moderna sobre crises democráticas existe justamente porque uma ruptura abrupta é cada vez menos comum, perdendo espaço para os “autoritarismos competitivos” de países como a Hungria de Orbán.
Mesmo assim, ao contrário do que nos acostumamos no planeta, vimos golpes militares tradicionais acontecerem, nos últimos anos, na Bolívia e em Myanmar, por exemplo. Não quer dizer que vai acontecer aqui. Mas o risco voltou a existir, o que por si já mostra a erosão que ocorreu.
“Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso"
Por acaso parece a postura de um presidente que busca comprovação técnica? Pois é. Bolsonaro falou isso em outubro.
O contexto já é amplamente conhecido: João Doria, governador de São Paulo, assinou um acordo com o laboratório Sinovac para a produção de vacinas pelo Instituto Butantan. Bolsonaro proibiu a compra da “vacina chinesa do Doria”. Até ser forçado a mudar, mas já era janeiro.
Galera, não caiam na falsa dicotomia entre “privado” e “público”. A questão é a natureza do FUNDEB, que serve pra distribuir recursos à educação básica objetivando reduzir as desigualdades entre redes de ensino. O destaque tirado pelo Senado beneficiaria municípios mais ricos.
A redistribuição dos recursos é pelo número de matrículas. A questão aqui: quais são os municípios onde têm mais mercado para instituições privadas filantrópicas, comunitárias e confessionais? Os mais ricos. A regra aventada na Câmara tiraria dos mais pobres, com menor IDHM.
Para quem quiser saber mais, basta ler a thread do @callegaricaio, a quem não conheço, mas que deu uma verdadeira aula. Ele mostra até mesmo alguns exemplos: no Rio de Janeiro, a cidade de Belford Roxo perderia recursos para Niterói. Ouçam os especialistas, como @TodosEducacao.
RETROSPECTIVA DE UM GOLPE QUE POR POUCO NÃO FOI: a thread
Ninguém pode esquecer que, no ano de 2020, em meio à pandemia, o presidente da República tentou dar um golpe. Ele chegou a decidir intervir no STF, só desistindo após ser convencido do contrário. A democracia quase ruiu.
15/03/2020: Contrariando as recomendações médicas e o seu próprio ministro da Saúde, Jair Messias Bolsonaro prestigia um protesto a favor do Governo – e com teor antidemocrático –, sem máscara e promovendo aglomeração. Tinha até faixa de AI-5. E o país entrava em quarentena.
24/03/2020: Em pronunciamento na televisão, o presidente questionou as medidas de isolamento social adotadas por governadores – que tentou boicotar –, chamou a COVID-19 de “gripezinha” e – como mostra o vídeo – atacou a imprensa em rede nacional, diante de todos os brasileiros.