Vamos continuar o papo sobre Motoclubes 1% e sua ligação com a extrema direita
Hoje vamos falar de algo muito importante para manter a identidade coletiva esses grupos: seus ritos
Os rituais são de grande importância para motoclubes, sejam eles outlaw (1%) ou não. Os rituais de aceitação de um novo membro, chamado “batismo”, existem em quase todos os motoclubes, o que os diferencia são os atos praticados nesses rituais
Antes do batismo, porém, o ingressante passa por diversas etapas: checagem de histórico, apadrinhamento de algum membro antigo, período probatório e por fim é aceito.
Alguns grupos 1% brasileiros tem rituais de batismo que incluem agressão de novos membros. Mesmo que violentos, esses ritos são muito importantes tanto para ingressantes quanto para membros antigos, já que representa um ponto de virada na vida do novo membro
Entender os processos que ocorrem durante esse rito é essencial pois, segundo Quinn, a cultura de um grupo é perpetuada pela forma que novos membros são socializados.
Tatuagens por vezes também são consideradas parte dos rituais.
Tatuar o símbolo de seu grupo ou outros signos compartilhados é considerado uma afirmação do seu compromisso com o grupo. Com isso, cabe se questionar que compromisso as tatuagens de símbolos nazistas reafirmam dentro de MC 1%
Aqui cabe uma apresentação meio tardia. O MC que estamos analisando já apareceu aqui no Mapa, em outro fio sobre símbolos de ódio. As tatuagens desse grupo foram base para aquele fio.
Estamos falando do Satan MC. Vê se você os encontra nesse fio antigo:
O Satan MC é um motoclube 1% brasileiro criado em 2013 no Espírito Santo. Hoje, porém, esta presente em diversos estados brasileiros, inclusive no Rio de Janeiro.
O MC ostenta símbolos neonazistas como o SS em formato de raios em sua logo e vários outros em seus patchs
Pensando na discussão sobre tatuagens, as tatuagens no pescoço desse presidente do Satan MC, de uma totenkopf junto com dois raios, símbolos da 3.ª Divisão SS Totenkopf da Alemanha nazista, valem a reflexão de que signos estão sendo compartilhados.
Existem também os rituais de castigo. MC 1% frequentemente têm estatutos escritos e cada regra vem com um “castigo” caso o membro falhe em seu cumprimento. Os castigos variam, em alguns clubes podem incluir assassinato por arma de fogo dos que são considerados “traidores”.
Dentro do Satan MC, um assassinato já ocorreu no Distrito Federal. Por se recusar a aderir a ideologia do Motoclube, um homem de 29 foi assassinado por um membro do Motoclube, que tentou fugir para os Estados Unidos
Na mala do assassino foram encontrados diversos objetos de apologia ao nazismo, como suásticas, moedas do 3º Reich, fotos de Hitler e livros supremacistas brancos.
Os membros do MC, porém, dizem não serem adeptos do nazismo, afirmam que adotam os símbolos por estética e apontam membros negros no grupo. Contudo, como já vimos antes, isso não é um problema para alguns grupos revisionistas neonazistas brasileiros
Bora falar então dos seguidores de Evola contemporâneos e acabar com essa bad trip que é o Tradicionalismo
Os evolitas brasileiros contemporâneos pesquisados geralmente se aproximaram do pensamento do autor a partir de interesses no que chamam de “ocultismo”, com interesses que variam entre budismo, hinduísmo, maçonaria e outros “conhecimento milenares”, como chamam.
Eles compartilham da ideia do autor de que a “nossa era é uma era de decadência” e os pontos positivos de Evola, para eles, seria a retomada positiva de uma ortodoxia do budismo.
Então hoje vamos falar de um dos principais autores que a galera próxima do tradicionalismo gosta de ler: Julius Evola
Evola já apareceu aqui outras vezes, ele é bastante lido por diversos grupos de extrema direita, de integralistas a neonazistas revisionistas.
Julius Evola foi um autor e filósofo esotérico italiano do século XX, grande admirador de Mussolini e, ao mesmo tempo, crítico do regime fascista por este “não ser de direita o suficiente”
Então vamos pular já para as vestimentas.
Os coletes de couro são muito importantes para a subcultura dos Motoclubes 1%, é como uma segunda pele para quem veste, e não são transferíveis, eles devem ser "merecido", não comprado ou ganhado.
Tinha me apegado ao icon com a bandeira LGBTQIA+, fiquei triste de trocar.
Para me animar, vamos falar do outro grupo neointegralista atuante no Rio que tem causado confusões recentes
Em 2018, bandeiras antifascistas colocadas pelo Movimento Estudantil em um dos campus da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) foram roubadas por um grupo neointegralista chamando "Comando de Insurgência Popular Nacionalista" (CIPN)
O grupo assumiu o ato através de um vídeo postado em redes sociais, onde colocavam fogo nas bandeiras e se apresentavam como parte da "Grande família integralista brasileira"
Chegamos no final da longa explicação sobre integralistas.
Agora que a gente já sabe a história dos integralistas, seus ritos, símbolos e ideologia, vamos ver quais são os grupos neointegralistas atuantes hoje na região metropolitana do Rio de Janeiro e o que eles já aprontaram
Hoje vamos falar sobre a Accale, ou Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella, fundada em 2017 no estado do Rio de Janeiro.
Se apresentam como “uma associação nacionalista, antimarxista e antiliberal” e em sua página de facebook exaltam figuras como Salgado e Barroso.
A Associação parece seguir a ideia de formar um movimento social para uma “nova consciência" nacional”, como proposto anteriormente, e se utiliza de uma forma de organização já conhecida por integralistas no passado, os Centros de Cultura da Juventude.