Jair Bolsonaro tomou uma surra nesta terça-feira 10 de agosto, e as Forças Armadas foram humilhadas em praça pública. O Brasil riu delas.
Mas prestem muita atenção no Centrão. O Centrão está se metamorfoseando. E está construindo um Brasil a sua imagem e semelhança.
+
🧵
Perante um presidente que tem horror à democracia, é evidente que a gente festeja que se derrube a Lei de Segurança Nacional.
Mas a gente não entende o jogo se não olhamos pelo ângulo que o Centrão assume, que é o da preservação de seus poderes.
+
O Centrão tem poder porque o Congresso tem poder. Poder de impeachment. Poder de aprovar ou não projetos de lei e de emendas que o presidente precisa.
É com este poder que o Centrão obtém cargos e verbas para seus rincões e garante sua reeleição.
+
Em Ditadura, Congresso não tem poder. O Centrão perde toda sua barganha.
O Centrão quer democracia e defenderá democracia.
Está não é a pergunta.
A pergunta é: mas que democracia?
+
Vejam a reforma política e vejam o placar na Câmara do voto impresso.
Como era emenda constitucional, precisava de 3/5, 308 votos. Não obteve. Mas a PEC ganhou por 284 a 229.
Isso é um bando de deputado derrubando Bolsonaro mas puxando seu saco ao mesmo tempo. 284 votos.
+
A oposição esperava que não ia ter nem 180 votos a favor. Foram 284.
Piora, tá?
PSDB, PSD, DEM e Novo votaram em maioria pelo fisiologismo demagógico do bolsonarismo.
Vão negar, mas isto é voto feito pensando com cabeça de Centrão.
O Centrão ampliou.
+
A recriação das coligações — que nasceu pelas mãos do PT — e corre o risco de ser aprovada na reforma da lei eleitoral é outro sinal disso.
Coligações são a boia de salvação dos partidos nanicos.
+
A cláusula de barreira tira poder de partidos que não tenham um mínimo de votos.
Precisamos diminuir o número de partidos no Congresso. Para que formem blocos ideológicos mais homogêneos e coerentes, para que seja mais fácil negociar em bloco. Por projetos.
+
A fragmentação dificulta negociação.
E é isso que fortalece o Centrão, que tira da negociação essa coisa de partidos que disputam por projetos e ideias. Sobra a briga por cargos e verbas.
Então é isso. O Centrão quer um Congresso aideológico. Vai conseguir.
+
Então, sim, vamos celebrar.
A democracia vai ganhar no Brasil. Bolsonaro vai perder sempre que tentar derrotá-la.
Mas não vamos perder de vista que democracia está em jogo.
Há dez anos tínhamos, representada por PT e PSDB, uma disputa por duas visões de Brasil.
+
Hoje, o PSDB da Câmara está atuando com cabeça de Centrão.
O DEM, que chegou a tentar se criar como partido sério de centro-direita, voltou às origens com gosto.
O Novo se propôs liberal de direita, vai se mostrando fisiológico reacionário.
E o PSD não seguiu Kassab.
+
Enquanto isso, o PT dá uma força para a fragmentação dos partidos pois isso favorece as siglas nanicas da esquerda e favorece ao Centrão ao mesmo tempo.
É pelos dois motivos. A fragmentação da esquerda e haver um Centrão interessa ao PT.
+
Ou seja: nossa democracia piorou muito.
E não piorou só por Jair Bolsonaro.
O estrago para reconstrução não é pequeno.
(Pronto. Podem bater. 😉)
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Vale retornarmos a história maluca dos mais de cem marechais.
De ontem para hoje, temos respostas mas persiste uma dúvida — uma dúvida grave.
+
🧵
Quando um militar passa à reserva, não sobe mais um posto — como ocorria — mas para aqueles que entraram no serviço até 2001 persiste o direito de ganhar proventos do posto imediatamente acima.
Os quatro estrelas, portanto, os generais de Exército ganham o salário de marechal
+
É por isso que o ‘cargo’ que aparece no Portal da Transparência do governo federal aparece listando todos como marechal.
É um erro. Mas não se refere a sua posição hierárquica e sim ao salário — ou soldo — que recebem.
Vera Rosa é uma das decanas da cobertura política de Brasília. Apuração dela, e todo mundo em BSB sabe disso, não tem barriga. Ela assina com a Andreza Matais, que é diretora da sucursal. Juntou as duas numa só reportagem com este peso?
Aconteceu.
+
Ou seja: Braga Netto e os três comandantes das Forças Armadas foram ao presidente da Câmara dos Deputados e o ameaçaram de golpe de Estado perante testemunhas.
E aí?
Aí Arthur Lira não deu o que eles queriam e eles não fizeram nada.
A nota das Forças Armadas contra a CPI da Covid é completamente descabida, é uma ameaça ao Senado da República que não tem espaço numa democracia.
Forças Armadas não devem se manifestar politicamente. Ponto.
Mas há nuances que precisamos levar em consideração.
🧵
Houve Golpes de Estado com envolvimento militar em 1889, 1891, 1930, 1937, 1945, 1955 e 1964. Só um fracassou.
O Brasil tem pleno direito de olhar para as Forças Armadas com uma profunda desconfiança de suas convicções democráticas.
+
São os militares que precisam provar que mudaram, não o contrário.
Com gestos como o do ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Bôas, que ameaçou o STF, ou com esta nota, o que os militares fazem é reforçar a impressão de que ainda entenderam seu papel numa democracia.
Fui chamado de ‘neoliberal’, ‘fascista’ e ‘minion’ por defender a privatização dos Correios.
Se ‘neoliberal’ quer dizer thatcherista, obcecado por uma fantasia de Estado mínimo, não sou.
Fascista? É só mostra de que gente demais não leva o termo com a seriedade que devia.
🧵
Não sou economista. Não sou especialista em logística.
E não acho que preciso ser.
Isso tem a ver com visões de mundo, de papel do Estado, e é importante termos esta conversa.
+
Das três repúblicas com eleição para presidente, esta Nova República foi a melhor. De longe. Estabilizamos a moeda e demos poder de consumo a um sem número de brasileiros.
Ainda assim, a gente tem de constatar que o Estado brasileiro fracassou no importante.
O problema de Jair Bolsonaro não é que ele é de direita.
O problema é que, sendo presidente, ignora ciência no meio de uma pandemia.
Não comprou vacinas porque lidera um governo onde inteligência e método de gestão são vistas com desconfiança.
++
🧵
O problema de Jair Bolsonaro é que ele é um poço de preconceitos: contra mulheres, LGBTQ+, negros, indígenas.
Seu problema é que, sendo ignorante, não percebeu ainda que a Amazônia é o bilhete premiado de entrada do Brasil no século 21. Inclusive economicamente.
++
Ele é autoritário. Não deseja um sistema com divisões entre três poderes independentes que se vigiam e se contrapõem uns aos outros — quer mandar em tudo.
É bárbaro. Defende que polícia deve ter poder de execução sumária bastando para isso a opinião do policial na hora.