Recentemente fui questionado sobre alguns aspectos do atendimento médico. E aí veio o desafio de explicar a #slowmedicine
Dentre analogias possíveis, me lembrei das hamburguerias…
O que era frisson? Fast food. E a cena era: filas, locais padronizados, a comida sai rápido, você “mata a fome”. Quanto mais frequentado o local, fast era só o preparo - as pessoas do balcão nem olhavam no seu rosto. E tinha aquela dificuldade até para achar um lugar para sentar.
Tem aquilo: os ingredientes estão sempre “prontos”, processados e padronizados - não há individualização (é aquela experiência de pedir para tirar o picles…e na primeira mordida ele estar lá).
Agora, temos as de serviços diferentes. São “restaurantes de hambúrguer” (com “chef”/parrilleiro inclusive). Há toda uma experiência no local. Não é qualquer ingrediente, não é qualquer carne, nem feita de qualquer forma. E vai se tomar o tempo necessário para o preparo de tudo.
Qual destes tem maior valor nutritivo? Os ultraprocessados e artificiais ou o natural selecionado? E aí comparo valor nutricional com impacto em saúde e poder de resolutividade do atendimento.
“Mas é mais caro?” Na medicina privada, é. Se olhar valor individual. Mas se olhar resolutividade, solicitação assertiva de exames, evitando exames que por vezes se mostram fúteis , prevenção de complicações futuras…sai mais em conta.
Na medicina privada troca-se o volume pela qualidade de tempo.
E antes do hater, tento fazer o mesmo no ambiente público. O dificultador é a limitação de acesso aos serviços que acabam sobrecarregando em volume. Mas sempre que possível, faço. E sempre tento tornar possível.
“Mas você defende a gourmetização da medicina?”
Pelo contrário. Vivemos o exato oposto. Vivemos a “fastfoodização”, principalmente na saúde suplementar. E isso tem custado muito - em experiências desagradáveis, em complicações e vidas que podem ser melhor tratadas.
Tal qual fastfood, o plano low cost traveste ganho por rotatividade de leitos, volume de atendimento e bloqueio a intervenções, sem racional para a proibição, com a roupa de “preocupação com o paciente”. Não é a toa o que vê-se hoje com Prevente Idoso, HappyVida e afins…
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Junho de 2018: Prescrever azitromicina para gripe está errado. Vírus não se trata com antibiótico
Junho de 2020: Prescrever azitromicina para COVID está errado. Vírus não se trata com antibiótico
Muda a doença, mas o (mal) hábito é o mesmo...
Antibiótico tem espaço na COVID?
Tem!
Mas não é rotina: apenas na coinfecção, nunca padrão.
A coinfecção vem no curso do quadro (não no começo), geralmente com persistência da febre, tosse produtiva (e não seca) e com padrão laboratorial e imaginologico característico.
Usar antibiótico precocemente não auxilia na evolução, e pode atrapalhar...
É a resistência bacteriana crescendo a todo vapor!
Hoje, muitos vencem a COVID mas perdem para bactérias resistentes que são selecionadas pelo uso inadequado destes antibióticos.
“Vou fazer sorologia para saber se a vacina funcionou”
Parece tentador, mas não caia nesta! Os motivos? Alguns...
1️⃣ A vacina não imuniza apenas por anticorpos.Temos 2 imunidades: uma humoral - anticorpos - e a celular - onde atuam células como soldados. Estes soldados também são treinados com vacina. Você pode ter imunidade com baixos títulos de anticorpos, por ter soldados bem treinados;
2️⃣ As vacinas também desenvolvem anticorpos que não são detectados pelos testes. Mesmo estes testes agora anunciados como de “Anticorpos Neutralizantes”...
Um dos momentos mais surreais...a tal da inalação de cloroquina...
Segue o fio!
Mas quais os problemas de inalar cloroquina?
▪️A medicação já tem ineficácia comprovada por via oral;
▪️A inalação de substâncias não preparadas para tal, com o simples macerar de comprimidos, pode causar graves danos... (vê uma pneumonite por inalação de substância)
E vê o que o Pneumotox - referência de toxicologia pneumológica - diz dos antimaláricos);
Surge agora, depois da divulgação pela UNICAMP e pelo HCFMUSP para a imprensa de casos de insuficiência hepática com necessidade de transplante, a “defesa” da ivermectina comparando-a com o paracetamol
🧵 Aos fatos:
“Paracetamol é hepatotóxico...
Sim. Paracetamol é hepatotóxico. Não é NENHUMA novidade.
Mas NÃO nas doses terapêuticas. As doses usuais são SEGURAS. Ele é hepatotóxico em situações de abuso, em doses superiores ao que deveria se usar.
... e não dizem”
Isto é de conhecimento público. Não há nenhum segredo.
Qualquer acadêmico de medicina no 3º período sabe disto. Qualquer acadêmico da área de saúde que estude farmacologia sabe disto.
Se estão “descobrindo” agora, fala mais do descobridor do que da descoberta
#Thread sobre o artigo hoje tão falado artigo do American Journal of Medicine (mas que é de 7 de agosto de 2020)...
E como ele não muda o tratamento do COVID...
É mais um artigo de opinião e proposta de fluxo. Tendencioso.
Não configura evidência científica relevante já que não é revisão sistemática ou integrativa (por exemplo), desconsidera diversos RCT ja publicados e discutidos. E tem vies.
Começo pelos autores:
• Zervos é do Henry Ford, grupo americano pro-cloroquina, responsável por um estudo retrospectivo, com falhas importantes de análise de dados e respectivamente em suas conclusões