Existem pessoas que são bem-sucedidas comprando obras de arte em leilões ou lojas de antiguidades e revendendo por um valor maior.
Ironicamente, ao ver como essas pessoas ganham dinheiro, podemos tirar um aprendizado sobre investimento em ações:
Muitos podem pensar que pessoas bem-sucedidas comprando pinturas são aquelas que tem um “olho bom” e acertam um pintor que no futuro vai ficar famoso e suas obras valorizarão absurdamente.
Só que compradores de arte consistentemente bem-sucedidos tem uma abordagem diferente:
São estudados sobre as pinturas negociadas no mercado, e compram em leilões as pinturas de artistas cujas outras obras já são negociadas a preços mais altos do que o que os que encontraram.
Ou seja, em vez de procurarem “O próximo Picasso”, procuram por oportunidades em que o vendedor não entende o valor que já existe, comprando obras de pintores que já existem evidências de que valem mais.
Apesar de “acertar o próximo Picasso” ser potencialmente mais lucrativo do que comprar por menos do que já vale, quase ninguém tem a capacidade de entender as inúmeras variáveis que levam alguém a virar um “Picasso”.
Para cada Picasso existem milhares de fracassos.
Podemos fazer uma analogia com o mercado de ações:
Muitos tentam acertar a empresa que vai ser o “próximo Picasso”.
Só que se você olha a história, existiram inúmeras empresas promissoras, e apenas uma minúscula fração conseguiu tal feito.
Quem paga antecipadamente por uma expectativa que não se concretiza, perde dinheiro.
A primeira regra de Warren Buffett é: “Não perca dinheiro”.
A segunda regra é: “Não esqueça da primeira regra”.
Estudando a história de investidores de sucesso, vemos que buscam empresas baratas com relação a evidências no presente, evitando pagar por expectativa que, caso não concretizada, gerará perda permanente de capital.
Comprar expectativa de crescimento sem que a empresa tenha vantagem competitiva é tentar acertar o próximo Picasso sem evidência alguma no presente.
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Checklists são uma ferramenta útil para analisar potenciais investimentos.
Utilizando-as você minimiza a chance de sucumbir a vieses comportamentais, expondo os principais pontos que importam para uma tese ser bem-sucedida ou não.
Segue um exemplo de Checklist:
Rentabilidade:
•ROE (quebrar ROE DuPont)
•ROIC (lucro normalizado, capital de giro, capital investido)
•Há avenidas para investir capital incremental?
•Margem Bruta, operacional e líquida
Endividamento:
•Dívida líquida/EBITDA ou DL / FCO
•Dívida Bruta/Patrimônio Líquido
•Lucro operacional/Despesas financeiras
•Prazo e custo médio da dívida (taxa fixa ou variável?)
•Covenants de dívida
Warren Buffett tem uma frase icônica:
“A melhor coisa que acontece conosco é quando uma excelente empresa tem problemas temporários. Queremos comprá-las quando estiverem na mesa de cirurgia.”
Vamos ver o exemplo de quando Buffett comprou o Washington Post:
Em 1973, Warren Buffett comprou ~10% do Washington Post por $10,6 milhões.
A empresa tinha 3 segmentos: publicação de jornal (duopólio em Washington, com 60% de market share), publicação de revista (Newsweek - 4º lugar em receita de propaganda no país), e transmissão de TV.
O Washington Post cresceu receita todo ano, de 1963 até 1972.
Porém, em 1973, notícias ruins saíram na mídia após o Post investigar o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
O Post poderia perder licenças de TV em meio aos esforços de Nixon.
A Evergrande, 2ª maior construtora de imóveis da 🇨🇳, foi a precursora de quedas nos mercados globais.
Vamos olhar para os fundamentos da empresa para entender o tamanho do “pepino”.
Primeiro, vale a pena mencionar que o negócio de construtoras possui ciclo de caixa longo:
Em outras palavras, investem para comprar terrenos, materiais de construção etc, e leva tempo até que a companhia consiga vender a propriedade e ver a cor do dinheiro.
Historicamente, mercados aquecidos levam construtoras a se endividarem para construir e vender mais.
Mas, se a demanda por imóveis for menor que esperada, ou se várias empresas construírem ao mesmo tempo, muitas propriedades acabam vindo a mercado juntas, saturando a oferta.
O risco é a empresa ficar com propriedades encalhadas e dívida gorda para quitar.
Você já parou para pensar que se sua casa fosse listada na bolsa e tivesse cotação, o valor dela iria variar diariamente?
Agora, como a casa não tem liquidez (não é negociável a qualquer momento no mercado), pessoas se sentem mais seguras do que quando compram empresas listadas.
Olhando evidências, o retorno real (descontando inflação) médio de imóveis residenciais nos EUA, de 1900 até 2017, foi de 0,3% ao ano vs 6,5% para ações.
Isso significa que o retorno para ações foi mais de 1.000x superior (fonte: Credit Suisse).
Isso é válido para outros países.
O fato da casa não ter liquidez imediata é uma Desvantagem e não uma Vantagem.
Agora, como o que os “olhos não veem o coração não sente”, a ausência de um mercado com liquidez impede que as pessoas vejam em tempo real os efeitos da oferta e demanda no preço.
Interessante, Alibaba está sendo negociado hoje a preços de 2017.
A receita multiplicou por 2,7 de lá para cá e ainda cresce +30% ao ano.
O fluxo de caixa operacional da empresa multiplicou por ~3 no período.
Alguns pensamentos:
É incrível como o mercado pensa no curto/médio prazo.
Se olharmos para os últimos 5 anos, sempre que teve notícia ruim, as ações apanharam.
Em 2015/16 teve notícia ruim de produtos falsificados no Alibaba e a ação apanhou.
Em 2018/19 teve notícia ruim em aprovação de games da Tencent e conteúdo da Youku e ações apanharam.
Aí passa 1-2 anos, ninguém lembra mais e falam que era oportunidade óbvia.