Charlie Munger, hoje com 97 anos, é um dos maiores pensadores e investidores da atualidade.
Na reunião de 2019 do Daily Journal ele conta uma história bastante interessante sobre um homem e seu cavalo:
O cavalo do homem era maravilhoso. Galopava graciosamente e era muito bonito.
Onde o cavalo passava as pessoas admiravam.
Só existia um problema:
De vez em quando o cavalo ficava agressivo.
Causava danos a propriedades e derrubava aquele que estivesse galopando em cima, quebrando braços e pernas.
Então o dono do cavalo foi ao veterinário buscar conselho e perguntou o que fazer com o cavalo:
O veterinário respondeu:
Posso te ajudar! A solução é muito simples:
Da próxima vez que o cavalo estiver se comportando bem, venda-o!
A conclusão da história é que, apesar da sugestão do veterinário ser imoral, quando olhamos para o mundo real, muitas vezes vemos atitudes parecidas na indústria de private equity ou em IPOs na bolsa.
Quando algumas empresas problemáticas passam por um ou dois anos bons, executivos correm para vende-las para terceiros a preços altíssimos, acompanhados de projeções lindas de crescimento, como se o “bom comportamento” fosse durar pra sempre.
Portanto, antes de investir, seja cético com belas projeções que perpetuam o crescimento de períodos recentes.
Averigue se há histórico de criação de valor ou se empresa está passando por um momento de euforia ou topo de ciclo (que não vai se perpetuar no futuro)
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Existem pessoas que são bem-sucedidas comprando obras de arte em leilões ou lojas de antiguidades e revendendo por um valor maior.
Ironicamente, ao ver como essas pessoas ganham dinheiro, podemos tirar um aprendizado sobre investimento em ações:
Muitos podem pensar que pessoas bem-sucedidas comprando pinturas são aquelas que tem um “olho bom” e acertam um pintor que no futuro vai ficar famoso e suas obras valorizarão absurdamente.
Só que compradores de arte consistentemente bem-sucedidos tem uma abordagem diferente:
São estudados sobre as pinturas negociadas no mercado, e compram em leilões as pinturas de artistas cujas outras obras já são negociadas a preços mais altos do que o que os que encontraram.
Checklists são uma ferramenta útil para analisar potenciais investimentos.
Utilizando-as você minimiza a chance de sucumbir a vieses comportamentais, expondo os principais pontos que importam para uma tese ser bem-sucedida ou não.
Segue um exemplo de Checklist:
Rentabilidade:
•ROE (quebrar ROE DuPont)
•ROIC (lucro normalizado, capital de giro, capital investido)
•Há avenidas para investir capital incremental?
•Margem Bruta, operacional e líquida
Endividamento:
•Dívida líquida/EBITDA ou DL / FCO
•Dívida Bruta/Patrimônio Líquido
•Lucro operacional/Despesas financeiras
•Prazo e custo médio da dívida (taxa fixa ou variável?)
•Covenants de dívida
Warren Buffett tem uma frase icônica:
“A melhor coisa que acontece conosco é quando uma excelente empresa tem problemas temporários. Queremos comprá-las quando estiverem na mesa de cirurgia.”
Vamos ver o exemplo de quando Buffett comprou o Washington Post:
Em 1973, Warren Buffett comprou ~10% do Washington Post por $10,6 milhões.
A empresa tinha 3 segmentos: publicação de jornal (duopólio em Washington, com 60% de market share), publicação de revista (Newsweek - 4º lugar em receita de propaganda no país), e transmissão de TV.
O Washington Post cresceu receita todo ano, de 1963 até 1972.
Porém, em 1973, notícias ruins saíram na mídia após o Post investigar o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
O Post poderia perder licenças de TV em meio aos esforços de Nixon.
A Evergrande, 2ª maior construtora de imóveis da 🇨🇳, foi a precursora de quedas nos mercados globais.
Vamos olhar para os fundamentos da empresa para entender o tamanho do “pepino”.
Primeiro, vale a pena mencionar que o negócio de construtoras possui ciclo de caixa longo:
Em outras palavras, investem para comprar terrenos, materiais de construção etc, e leva tempo até que a companhia consiga vender a propriedade e ver a cor do dinheiro.
Historicamente, mercados aquecidos levam construtoras a se endividarem para construir e vender mais.
Mas, se a demanda por imóveis for menor que esperada, ou se várias empresas construírem ao mesmo tempo, muitas propriedades acabam vindo a mercado juntas, saturando a oferta.
O risco é a empresa ficar com propriedades encalhadas e dívida gorda para quitar.
Você já parou para pensar que se sua casa fosse listada na bolsa e tivesse cotação, o valor dela iria variar diariamente?
Agora, como a casa não tem liquidez (não é negociável a qualquer momento no mercado), pessoas se sentem mais seguras do que quando compram empresas listadas.
Olhando evidências, o retorno real (descontando inflação) médio de imóveis residenciais nos EUA, de 1900 até 2017, foi de 0,3% ao ano vs 6,5% para ações.
Isso significa que o retorno para ações foi mais de 1.000x superior (fonte: Credit Suisse).
Isso é válido para outros países.
O fato da casa não ter liquidez imediata é uma Desvantagem e não uma Vantagem.
Agora, como o que os “olhos não veem o coração não sente”, a ausência de um mercado com liquidez impede que as pessoas vejam em tempo real os efeitos da oferta e demanda no preço.
Interessante, Alibaba está sendo negociado hoje a preços de 2017.
A receita multiplicou por 2,7 de lá para cá e ainda cresce +30% ao ano.
O fluxo de caixa operacional da empresa multiplicou por ~3 no período.
Alguns pensamentos:
É incrível como o mercado pensa no curto/médio prazo.
Se olharmos para os últimos 5 anos, sempre que teve notícia ruim, as ações apanharam.
Em 2015/16 teve notícia ruim de produtos falsificados no Alibaba e a ação apanhou.
Em 2018/19 teve notícia ruim em aprovação de games da Tencent e conteúdo da Youku e ações apanharam.
Aí passa 1-2 anos, ninguém lembra mais e falam que era oportunidade óbvia.