O Nubank anunciou seu IPO na bolsa de Nova Iorque (NYSE), avaliado a 50,6 bilhões de dólares.
A empresa conta com investidores como a Tencent e Berkshire Hathaway:
A Tencent comprou 5% do Nubank em 2018, em uma rodada de captação que avaliava a empresa a US$ 4 bilhões.
Posteriormente, em 2021, a Berkshire Hathaway investiu US$ 500 milhões no Nubank, em uma rodada que avaliava a empresa a US$ 30 bilhões.
Vou ler o prospecto de IPO para entender melhor a empresa (não tenho conhecimento suficiente para opinar).
Porém, podemos fazer um exercício para pensar no valuation, pegando um lucro anual normalizado e dividindo pela taxa de desconto:
Para uma empresa valer US$ 50 bilhões e você ter um retorno de 10% ao ano, ela precisa gerar US$ 5 bilhões de caixa todos os anos depois que você investiu, perpetuamente.
Se a empresa passar 1 ano sem gerar caixa depois que investiu, ela precisará gerar US$ 5,5 bilhões anualmente a partir do 2º ano, perpetuamente.
Se ela passar 2 anos sem gerar caixa, aí a conta passa p/ US$ 6,05 bilhões por ano a partir do 3º ano, perpetuamente, e assim vai.
Cada ano sem gerar caixa aumenta em 10% a necessidade de geração anual perpétua de caixa, a partir do ano subsequente.
Nos primeiros 6 meses de 2021 o Nubank reportou um lucro de 76 milhões de reais (US$ 13,6 mi), bastante distante de algo que justifique seu valuation.
Conclusão: foi um exercício simplificado, mas dá para ver que precisa de muito crescimento para justificar o preço do IPO (com uma taxa de desconto de 10%), e cada ano que passa em que quase não gera caixa, a conta fica mais difícil de fechar.
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Existem pessoas que são bem-sucedidas comprando obras de arte em leilões ou lojas de antiguidades e revendendo por um valor maior.
Ironicamente, ao ver como essas pessoas ganham dinheiro, podemos tirar um aprendizado sobre investimento em ações:
Muitos podem pensar que pessoas bem-sucedidas comprando pinturas são aquelas que tem um “olho bom” e acertam um pintor que no futuro vai ficar famoso e suas obras valorizarão absurdamente.
Só que compradores de arte consistentemente bem-sucedidos tem uma abordagem diferente:
São estudados sobre as pinturas negociadas no mercado, e compram em leilões as pinturas de artistas cujas outras obras já são negociadas a preços mais altos do que o que os que encontraram.
Checklists são uma ferramenta útil para analisar potenciais investimentos.
Utilizando-as você minimiza a chance de sucumbir a vieses comportamentais, expondo os principais pontos que importam para uma tese ser bem-sucedida ou não.
Segue um exemplo de Checklist:
Rentabilidade:
•ROE (quebrar ROE DuPont)
•ROIC (lucro normalizado, capital de giro, capital investido)
•Há avenidas para investir capital incremental?
•Margem Bruta, operacional e líquida
Endividamento:
•Dívida líquida/EBITDA ou DL / FCO
•Dívida Bruta/Patrimônio Líquido
•Lucro operacional/Despesas financeiras
•Prazo e custo médio da dívida (taxa fixa ou variável?)
•Covenants de dívida
Warren Buffett tem uma frase icônica:
“A melhor coisa que acontece conosco é quando uma excelente empresa tem problemas temporários. Queremos comprá-las quando estiverem na mesa de cirurgia.”
Vamos ver o exemplo de quando Buffett comprou o Washington Post:
Em 1973, Warren Buffett comprou ~10% do Washington Post por $10,6 milhões.
A empresa tinha 3 segmentos: publicação de jornal (duopólio em Washington, com 60% de market share), publicação de revista (Newsweek - 4º lugar em receita de propaganda no país), e transmissão de TV.
O Washington Post cresceu receita todo ano, de 1963 até 1972.
Porém, em 1973, notícias ruins saíram na mídia após o Post investigar o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
O Post poderia perder licenças de TV em meio aos esforços de Nixon.
A Evergrande, 2ª maior construtora de imóveis da 🇨🇳, foi a precursora de quedas nos mercados globais.
Vamos olhar para os fundamentos da empresa para entender o tamanho do “pepino”.
Primeiro, vale a pena mencionar que o negócio de construtoras possui ciclo de caixa longo:
Em outras palavras, investem para comprar terrenos, materiais de construção etc, e leva tempo até que a companhia consiga vender a propriedade e ver a cor do dinheiro.
Historicamente, mercados aquecidos levam construtoras a se endividarem para construir e vender mais.
Mas, se a demanda por imóveis for menor que esperada, ou se várias empresas construírem ao mesmo tempo, muitas propriedades acabam vindo a mercado juntas, saturando a oferta.
O risco é a empresa ficar com propriedades encalhadas e dívida gorda para quitar.
Você já parou para pensar que se sua casa fosse listada na bolsa e tivesse cotação, o valor dela iria variar diariamente?
Agora, como a casa não tem liquidez (não é negociável a qualquer momento no mercado), pessoas se sentem mais seguras do que quando compram empresas listadas.
Olhando evidências, o retorno real (descontando inflação) médio de imóveis residenciais nos EUA, de 1900 até 2017, foi de 0,3% ao ano vs 6,5% para ações.
Isso significa que o retorno para ações foi mais de 1.000x superior (fonte: Credit Suisse).
Isso é válido para outros países.
O fato da casa não ter liquidez imediata é uma Desvantagem e não uma Vantagem.
Agora, como o que os “olhos não veem o coração não sente”, a ausência de um mercado com liquidez impede que as pessoas vejam em tempo real os efeitos da oferta e demanda no preço.