Muita gente ignora com todas suas forças a discussão sobre o racismo, chamam de mimimi e coitadismo, dizem que o silêncio é a melhor maneira de combatê-lo. Mas esse comportamento é uma herança do pensamento racista. Uma falha moral conhecida como Negacionismo 
Como vocês devem saber, o Brasil foi o país que recebeu maior número de negros durante o período da escravidão nas Américas. E isso criou uma situação muito distinta do racismo que acontecia em países como os EUA. Lá era insuportável a convivência de raças, aqui era inevitável
Enquanto os portugueses eram obrigados a conviver com a massa negra (imagine algumas cidades do interior 50% ou mais da população viviam na senzala), poucas mulheres européias vinham à colônia. Isso criou o ambiente propício para os estupros que geraram mestiços
É importante ressaltar que, após a Lei Áurea, rolou no país um sentimento intenso de negar a existência do racismo, queimar documentos sobre a escravidão e reescrever as histórias. Foi criminoso demais para aqueles homens que preferiram negar do que assumir a culpa
Em 1933, o autor Gilberto Freyre escreveu Casa Grande & Senzala, onde validou essa mestiçagem como algo bom. Se valendo de uma visão nojenta, mas que foi muito difundida pelo país.
“Diz-se geralmente que a negra corrompeu a vida sexual da sociedade brasileira, iniciando precocemente no amor físico os filhos-família. Mas essa corrupção não foi pela negra que se realizou, mas pela escrava.” - Tem que ter estômago para ler esse cretino que minimiza a violência
A mestiçagem, dessa forma, foi recebida por todos os brancos como algo benéfico, pois promovia a oportunidade de integrar as etnias inferiores, tornando-as dóceis e limpando do seu sangue as impurezas raciais originais dos pretos retintos.
Nesse contexto dois grandes movimentos racistas surgiram: o primeiro era a eugenia brasileira, o país se tornou polo latino-americano dos estudos de higienização das mazelas supostamente contidas no sangue das etnias inferiores, defendida por autores como Nina Rodrigues
Assista esse documentário sobre a eugenia brasileira -
O outro movimento foi ideológico, da chamada Democracia Racial. O Brasil vendeu a ideia de que aqui era um paraíso racial, por ter mistura de vários povos. Nas conferências e nos jornais internacionais sempre vendia o discurso de que “Não existe racismo, tudo resolvido”
Enquanto isso, dentro do país, nas universidades brasileiras, sociedades eugenistas e no próprio governo a defesa da raça brasileira se tornou um dispositivo de poder sobre as etnias inferiores.
Várias leis foram criadas para embranquecer o povo, enquanto outras foram instauradas para varrer os pretos da sociedade. Nesse documento de 1938 revela o plano do governo de SP que trouxe 50 mil portugueses para clarear o estado
Para manter a farsa, o país não podia criar leis segregacionistas. Elas se tornariam notícias no mundo todo e quebrariam a sensação de igualdade que estavam empurrando goela a baixo do povo. Então criaram leis que mascaravam a segregação, atingindo apenas os negros
A lei da vadiagem em 1941 mandava para cadeia qualquer pessoa sem trabalho comprovado que estivesse ocioso pelas ruas. Como os fazendeiros e comerciantes só empregavam os imigrantes europeus, ninguém pagava para preto trabalhar, a maioria foi presa na época por essa lei
A democracia racial sempre teve um teto de vidro, bastava olhar para as estatísticas sociais que ela quebra. Infelizmente, negros sempre estiveram nos piores índices de desenvolvimento humano nesse país: educação, pobreza, saúde, morte, prisão…
Se a democracia fosse real não haveria revoltas. Em 1936 surgiu a Frente Negra Brasileira, um movimento que queria combater o racismo. Ele nasceu mais ou menos na época que estava surgindo o nacionalismo negro americano, as notícias do que aconteceu lá criou medo aqui
Negros são uma verdadeira minoria nos EUA (13-17%) e se fortaleceram, imagina se isso acontece no país onde negros são a maioria? Por isso quando os militares entraram no poder, a primeira coisa que fizeram foi abraçar a democracia racial e transformar ela em supressão ideológica
A Frente Negra Brasileira foi fechada no golpe de 1937. Assim como todas as outras manifestações étnicas (jornais, revistas, teatros, ongs). Tudo para impedir que o negro brasileiro desenvolvesse identidade e conexão étnica. Militares foram o braço da democracia racial
Até hoje o Brasil prefere propagar a mentira da igualdade, do que a verdade dolorosa da desigualdade racial que precisa ser revelada para, enfim, buscarmos uma sociedade igualitária. Dá para entender também o pensamento do candidato a presidência, branco militar e velho.
Criado em um país desigual, cego a realidade de negros. Que quer novamente instaurar as leis que impedem ongs e instituições de buscarem a igualdade para quem verdadeiramente sofre. Entendam mais sobre a falha da democracia racial com Florestan Fernandes
