SOBRE FUTEBOL E REGIMES AUTORITÁRIOS - um ensaio de thread.
Muito se falou sobre a presença do presidente eleito na entrega da taça do Palmeiras semana passada. Falou-se da continência do Felipão, do protesto do William bigode, de várias coisas. Mas eu queria aproveitar para lhes convidar a conhecer uma história.
Ela diz respeito à simpatia já declara por diversas vezes do Felipão pelo ditador chileno Pinochet. E dizer a vocês porque é um absurdo que um futebolista se posicione de tal maneira.
Quando o regime de Pinochet tomou o poder através de um violento golpe militar (patrocinado pelos Estados Unidos) e assassinou o presidente Salvador Allende, eles precisavam de um local para prender, interrogar, torturar e matar adversários políticos.
O local escolhido foi simplesmente o Estádio Olímpico de Santiago, principal "cancha" esportiva do país. Estima-se que 40 mil pessoas tenham sido presas, torturadas ou mortas no local.
Nas eliminatórias para a Copa de 1974, na Alemanha, haveria no local um jogo entre Chile e União Soviética. Em protesto, a URSS se recusou a jogar e denunciou à FIFA que o estádio era cenário de torturas e mortes.
A FIFA fez uma vistoria só pra constar e disse que não havia nada de errado acontecendo no local e confirmou a partida. A União Soviética não veio jogar e o Chile entrou em campo e venceu por W.O., classificando-se para a Copa.
Esta partida ficou conhecida como "Jogo da Vergonha" e sua história é contada neste vídeo de 5 minutos:
Antes de embarcar para a Copa, em maio de 1974, a seleção foi recebida pelo ditador, para despedir-se. É aí que entra a figura de Carlos Caszely. Quando Pinochet parou à sua frente com mão estendida, o jogador cruzou os braços e encarou o ditador com seu melhor sorriso galado.
Caszely era ídolo no Chile. Primeiro chileno artilheiro de uma libertadores, multicampeão pelo Colo-colo, capitão da seleção aos 21 anos. 
Este frame, mostra o momento que antecede o ato que entrou pra história.
Pinochet queria se vingar, mas não poderia prender e "sumir" com um dos ídolos nacionais. O jogador passou a ser perseguido pela imprensa e perdeu a faixa para o zagueiro Figuerôa, simpático ao regime militar.
Então, o que Pinoshit fez? Aproveitou a ausência do jogador durante a Copa, prendeu e torturou sua MÃE! Com choques elétricos nos mamilos e diversos outros estratagemas.
O depoimento dela (com participação do filho) pode ser visto neste vídeo, na campanha pelo plebiscito de 88 que acabou com a ditadura.
Aliás, sobre o plebiscito, recomendo que assistam ao filme "NO", contando a história da bem sucedida campanha publicitária que convenceu os chilenos a darem um basta ao regime.
o gesto de Caszely lembra o de William Bigode domingo passado.
A trajetória de Caszely fez dele um símbolo contra a intolerância e o tornou respeitado mundo afora como um dos poucos jogadores de futebol politizados. Foi destaque, inclusive, no documentário "Rebeldes do Futebol" apresentado por Eric Cantona.
Aqui está o trailer desta EXCELENTE série documental. Assistam, jovens! Aproveitem que a temporada brasileira terminou.
E a história inteira que contei aqui está bem resumida e ilustrada neste vídeo de 4 minutos:
Por conhecer essa história e por saber como os regimes autoritários tratam opositores, acho mais grave do que receber o futuro presidente, o fato de uma personalidade importante do esporte demonstrar simpatia pelo ex-ditador chileno.
Valeu, rapeize. Essa foi uma tentativa de jogar um pouco de conteúdo nessa rede social. Quero agradecer uns perfis aí: @Savagefiction e @homem100medo por inspirarem com suas threads; além de @maurocezar , @xicosa e @anterogreco por ensinarem que futebol é mais que um jogo.
