Thread by @Cochise

Sabe porque ninguém aplica Paulo Freire, nem quem quer?

- Porque é difícil paca!
- Porque a escolarização perdeu valor social.
- Porque a estrutura escolar não permite.
- Porque o currículo cobrados é interessante.
- Porque o professor ganha mal.
- Porque faltam recursos.

A essência do Paulo Freire é o interesse do estudante e uma educação para a liberdade.
O problema começa pelo fato que o valor social da escola é quase nulo, e isso reduz MUITO o interesse de qualquer estudante. Sem sem valor, sem interesse.
Vai dos pais, dos patrões, da igreja.

Vai de um mecanismo cruel em que precisamos ensinar coisas "inúteis", porque são o currículo a ser cobrado como rito de passagem para a pessoa poder subir na vida. E, sendo cobrado, precisamos abordar, sob a pena de prejudicar os estudantes.
E qual o interesse pelo "inútil"?

A composição do currículo não parte só da escola. Depende do mundo "lá fora", que vai cobrar isso. Nosso papel como professor é preparar os estudantes para o mundo "lá fora".
Qualquer debate sobre currículo que não inclua vestibulares, Enem, concursos, etc. é exercício inútil.

Os conhecimentos "inúteis" do currículo são úteis principalmente para atravessar os ritos de passagem para a vida melhor. Enquanto ganhar um bom emprego depender de identificar a oração subordinada, isso precisa e vai estar no currículo. Mas para além do rito de passagem...

A estrutura social da escola não permite que se realize várias mudanças que poderiam tornar essa educação mais atrativa. O fato de a escola precisar um um controle de corpos, de todo o tempo escolar ser ocupado por aulas, reduz muito o espaço possível para a autonomia.

Esta estrutura social está ligada à tradição, mas também à estrutura física. Virtualmente não há espaços físicos capazes de abrigar os estudantes a não ser as salas de aula. O tamanho das turmas dificulta até pensar estes espaços. Os horários escolares, espremidos, igualmente.

A escola é um espaço de socialização, mas um que não prevê em seu horário tempos para esta socialização. 15 minutos de intervalo não contam. As propostas de educação integral costumam repetir esse erro no contraturno, sobrecarregado de atividades.

Então, essa socialização ocorre dentro de sala, onde não deveria ocorrer, porque a sala é o único espaço em que os estudantes ficam, e o tempo de sala é o único tempo previsto.

Os professores, recebem o menor salário médio das profissões de ensino superior, e são incentivados a trabalhar em várias escolas através de contratos de "meio horário" em vez de dedicação exclusiva.
Essa dinâmica mata o tempo de planejamento, e a relação pessoal com o estudante.

Vai tentar tratar o estudante como sujeito quando você trabalha em duas escolas dando aula para 250 a 300 estudantes. Esta é a realidade de um professor com dez turmas. Um com 15 pode chegar a 450 estudantes.
É insano acreditar que este tipo de dinâmica pode funcionar.

Essa sobrecarga impõe necessidade de planejamentos genéricos, por série, homogeneização e padronização curricular.
Autonomia, como Paulo Freire propõe, exige que se planeje a partir da realidade e interesses de cada estudante e turma.

A educação é um campo estranho, onde todo mundo quer fazer a coisa certa, mas ninguém consegue.
O problema da educação não é de intenção dos profissionais. É de estrutura. Desde a estrutura escolar a do sistema de ensino a da sociedade, do capitalismo, das famílias.

Temos uma sociedade do trabalho que exige disciplina, autocontrole, concentração e saber viver em hierarquia.
A maior parte das famílias das camadas populares é incapaz de ensinar estes valores, e estes são os estudantes que fracassam na escola.

Estes estudantes, se não conseguirem adquirir estes valores vão fracassar no mundo do trabalho.
Mas a estrutura escolar assume esses valores como dados anteriormente. Não algo a ser aprendido nela.
O desprestígio da escola e professores atrapalha que possam assumir esse papel.