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Uma polêmica que ganhou relevo nos últimos dias no debate educacional envolve a possível previsão, em decreto do MEC, de um método específico de alfabetização a ser seguido pelas escolas, o fônico. Segue o fio aqui. 1/n
A polêmica tem duas dimensões: i) é razoável e legal prever em decreto um método específico para todo país? ii) o método fônico é melhor que o método global? 2/n
Trato da 1° dimensão. Tanto a Constituição Federal quanto a LDB trazem os princípios do ensino no Brasil, dentre eles: II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. 3/n
Definir por decreto a obrigatoriedade um método de ensino para todas escolas é inconstitucional. Todavia, orientar de forma embasada que se priorize uma metodologia em política pública é normal, sem que ela seja considerada pré-requisito obrigatório para acessar recursos. 4/n
A segunda dimensão da polêmica é mais complexa, precisaríamos mais de tempo. Faz sentido atribuir aos métodos visões político-ideológicas adjacentes? Ou mesmo contrapô-los como antagônicos? Não e não. Explico brevemente correndo o risco de simplificar as coisas. 5/n
Há uma apreciação por parte do campo progressista de que o método fônico se caracteriza pela repetição pura, pela memorização, por práticas mecânicas e descontextualizadas. Aqui se confunde o fônico com o método alfabético ou da soletração, usual no Brasil até a décadas 80. 6/n
O método fônico é aquele que prioriza o desenvolvimento da consciência fonética da criança, fundamental para alfabetização. Preza pela vinculação do fonema ao grafema através de atividades que vão do mais simples para o mais complexo. Está em experiências exitosas, tipo Ceará. 7
Oriento estágio supervisionado nos anos iniciais há alguns anos, trabalhamos com as noções de alfabetização e letramento. Elaboramos planos de aula que se iniciam com o método global, um enredo. Daí chegamos na palavra, na letra, se trabalha o método fonético sem contradição. 8/n
Na aula seguinte começamos por uma letra que constituí palavras. Essa palavra faz parte de uma história e guarda relação com um personagem com o qual as crianças se identificam. Tratamos de algo ligado ao seu contexto e seu repertório linguístico. Fomos do fonético ao global. 9/n
Portanto, há um hibridismo necessário entre os aspectos técnicos que o método fonético preza e os elementos socioculturais que o global (construtivismo) tão bem se preocupa. Para um professor preparado, enfoques diferentes não engessam, eles ampliam as opções para ensinar. 10/n
A 2° dimensão se constitui em um falso debate. O governo entende que o método fônico pode abafar suposta ideologia de esquerda que o global carregaria. E a esquerda embarca na ideia de que o fônico seria um cerceador capacidade crítica das crianças. Não funciona assim. 11/n
Para quem tem interesse no tema da alfabetização essa matéria é bem instrutiva. Tentarei fazer um texto mais trabalhado na sequência. 12/12 novaescola.org.br/conteudo/8608/…
