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Eu sei que vai parecer uma loucura. Mas lembrem-se de que estamos falando de servidores públicos que se acham cavaleiros templários.

Então senta, respira e tenta raciocinar comigo: o que diabos está acontecendo?
Porque a campanha de Bolsonaro permitiu-se algum pragmatismo: adotou um Chicago boy para ganhar o voto do Mercado; foi a Israel se batizar para ganhar voto evangélico (e continuar se dizendo católico); foi à Record atrás do apoio de Edir Macedo; bateu em Amoêdo, mas buscou...
...o eleitor do NOVO; reservou a vice-Presidência a um general; alegou ter uma bancada com uma centena de parlamentares porque entendia ser importante um diálogo com o Congresso; combinou antecipadamente com a Lava Jato que Moro seria ministro, etc.
Mas agora dinamita QUALQUER articulação. Às favas com o Mercado, com Malafaia, com o STF, com a Lava Jato, com os militares, com a Presidência da Câmara. Só não rompe com Olavo de Carvalho, que está no coração do Governo.

De novo: o que diabos está acontecendo?
A resposta talvez esteja nessa palestra que Filipe Martins dava em 2017. Se liga no título:
Há também registro de Olavo de Carvalho dando palestra com o mesmo tema um ano depois, já no final do primeiro turno, já em clima de "Bolsonaro vai vencer".
Somados, dão 80 minutos de palestra. Eu vi ambas. Como acho uma maldade pedir para que vocês percam tempo vendo isso, irei me permitir um resumo da ideia.
Segundo Filipe Martins, desde os protesto de 2013, o Brasil vem vivendo um "processo revolucionário" semelhante ao vivido na França de 1789, nos Estados Unidos de 1776 e – o foco da fala dele – na Rússia de 1917.
Ainda de acordo com a leitura dele que mais uma vez foi apresentado como o cara que acertou 48 dos 50 estados da eleição de Trump, a revolução acontecerá porque "o povo" finalmente decidiu que quer o poder para si. Para isso, "o povo" precisa derrotar o "estamento burocrático".
Falta, no entanto, alguém que guie o povo por essa jornada. E o destino dessa revolução depende de quem servir de guia. Segundo Martins, o próprio PT estava ciente disso e por isso vinha se pautando por uma nova Constituição para o Brasil.
(Não sei se ficou claro, Martins não usa a expressão "revolução" no termo quase lúdico das canções do RPM, mas no significado sangrento da expressão política mesmo. A execução dos Romanov na Rússia é citada algumas vezes na palestra.)
Só ao final, Filipe faz uma breve menção a Bolsonaro, colocando o ainda deputado federal como alguém que estaria alinhado com os verdadeiros anseios "do povo".
Quem conhece Martins de longa data, lembra que essa mesma narrativa foi sacada por ele durante a greve dos caminhoneiros, aquela que recebeu apoio de Jair Bolsonaro (antes mesmo de começar) e Olavo de Carvalho.
Quando a greve ocorreu, Filipe já era filiado ao PSL, mas, quando cobrado publicamente, negava.
Filipe adora passar um verniz intelectual nessas maluquices. Olavo de Carvalho era mais explícito. Segundo o filósofo, a greve dos caminhoneiros serviria para os militares fazerem uma intervenção no Governo Temer e tomarem o poder. Entregando o poder alguém? Ora a quem...
A greve dos caminhoneiros não serviu para revolução nenhuma. Quando Olavo de Carvalho faz palestra semelhante em outubro de 2018, já traz na ponta da língua: Jair Bolsonaro era a única representação viável desse Brasil que vinha buscando se entender.
Acho que vale lembrar que, na campanha, Hamilton Mourão se envolveu em uma polêmica que falava numa "anarquia" que justificaria um "autogolpe". Mas isso foi bem antes de Mourão já vice-presidente tomar um banho de "media training".
Eu via esse papo de "anarquia" e "autogolpe" lembrando do papo "greve dos caminhoneiros" e "revolução brasileira". Mas voltemos a 2019.
Filipe Martins publicou mais uma maluquice:
Nela, o já assessor internacional de Jair Bolsonaro apresenta-se como integrante da "ala anti-establishment do Governo Bolsonaro". Essa contradição em termos seria a genuína representação dos anseios "do povo", que afronta as "oligarquias dominantes", o "sistema de privilégios".
Que quer "romper com o sistema patrimonialista que existe há 500 anos", reclama da tentativa de lidar com o Congresso na base do diálogo, que quer "a quebra da velha política". E conclui: "É necessário, em suma, mostrar que o povo manda no país."
Resta evidente que essa loucura de março de 2019 é filha daquela loucura de outubro de 2017. Que o assessor internacional do presidente da República mantém até hoje as ideias de quando Bolsonaro ainda integrava o mesmo PSC do palestrante.
Quando acuso Filipe Martins de ser a mente por trás dessa maluquice, ele costuma dizer que eu sou burro, que eu não compreendo os "conceitos clássicos" – Às vezes manda essa indireta por terceiros também.
Pois bem: o que diabos os alunos de Olavo querem ao implodir todas as articulações do Governo Bolsonaro?

O caos.

Porque só dentro do caos o presidente se sentirá livre para ignorar qualquer jogo democrático e impor de próprio punho a agenda maluca da alt right brasileira.
Foi forjando o caos que os ditadores militares criaram o clima que justificou a assinatura do AI-5. Buscavam esse clima também quando explodiram a bomba no Rio Centro em 1981.

Se ela não não explode no colo do terrorista, talvez viesse a anarquia que justificaria um autogolpe.
Finalizo lembrando: essas não são as ideias de uma chapa radical que busca vencer a eleição de um DCE de uma faculdade qualquer. São ideias do assessor que brifava o presidente da República no encontro que teve dias atrás com o presidente dos Estados Unidos.
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